quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Estrela e a Cruz

"Eu o vejo, mas não no presente; eu o contemplo, mas não de perto; de Jacó procederá uma estrela..." (Nm.24.17. Aprox. 1450 A.C.)

O nascimento é sem dúvida um privilégio e uma dádiva de Deus. No entanto, para Jesus foi sinônimo de grande renúncia e humilhação, pois implicou o esvaziamento de Sua majestade eterna, que desceu e encarnou-se, comprimindo-se na limitação, sujeita às tempestades da vontade própria e às fraquezas e paixões da alma humana, pois era 100% homem (só assim poderia assumir o castigo que em Sua justiça exige para a satisfação dos pecados dos Homens). Ele foi inteiramente homem, nosso perfeito substituto, mas homem singular pois era também 100% Deus. Pôde escolher onde nascer, por exemplo. Mas ao fazê-lo, optou por um estábulo no interior da Judeia, quis a manjedoura entre os animais, o odor de estrume. No dia de Seu nascimento, embora a estrela brilhasse nos ares, na terra o acontecimento exigiu extrema humildade e renúncia de Sua parte.

Em Belém, Aquele que não teve começo ou fim de dias, o Deus eterno e imortal, desceu até nós e se sujeitou a nascer no tempo e na própria Criação. É claro que ali brilhou uma luz diferente - como em Gênesis 1, quando a Luz Eterna produziu a natural e dissipou o caos; como igualmente continua acontecendo na vida, pensamento e relacionamentos dos que estavam em trevas mas ouvem o Seu "Haja luz!", e então Ele resplandece em nossos corações com glória, e vemos nela a face de Cristo (2 Co.4.6) - o Cristo que veio em carne para nos livrar da destrutividade da nossa!

O Deus que é luz (1 Jo.1.5) e habita em luz inacessível (Tg.6.16) se sujeitou a "ser dado à luz", a levar uma vida nos suportando e a morrer levando e suportando nossos pecados. Somou à humilhação de Sua encarnação a aspereza da madeira daquela manjedoura, a humildade de suportar a dureza de homens feito árvores (Mt.8.24), para ao fim carregar a aspereza da madeira de Sua cruz. Ele nasceu sobre a madeira rude rodeado de animais e estrume, para morrer também sobre a madeira rude, rodeado de pecadores animalescos e fétidos. Mas com Sua obra Ele nos libertou de nossas mentalidades irracionais, dissipando o fedor execrável de nossos pecados, pelo que hoje reputamos nossas glórias pessoais como "esterco, comparadas com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus" (Fp.3.7,8). No dia de Sua morte, embora nos ares houvesse trevas, sobre a cruz brilhava a Estrela que nos traz o amanhecer.

Vemos, portanto, a cruz implícita desde a estrela de Seu nascimento, bem como também vemos na cruz a Estrela de Deus e a Luz do mundo. Diferente de nós, que usamos a estrela como símbolo de nascimento e a cruz para a morte, em Sua estrela sabemos que já havia sacrifício, e pela Sua morte irradiou no mundo a luz vinda dos céus. Na cruz, mesmo após horas de trevas sobre a terra, nosso Astro pôde nos mostrar o caminho para os céus. Pelo que podemos confiar que em meio à qualquer escuridão e por toda a vida Cristo haverá de nos guiar - não como aquela estrela que conduziu os magos à manjedoura, mas como a cruz onde agora resplandece vitorioso Aquele que nos está guiando aos Seus palácios!

"Ao verem eles a estrela, jubilaram-se com grande alegria" (Mt.2.10)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Faz-nos voltar, Senhor!

Ah, Senhor! Temos pecado contra Ti de modo grave e indesculpável! Nossa geração é ignorante e traspassada por toda sorte de cobiça. Nosso orgulho, tão amante dos prazeres mundanos, tem acumulado para si falsos mestres que só aumentam nossa fome pelas coisas desta era mau e egoísta, homens que conhecem melhor a natureza do diabo e a psiquê humana do que Teu santo coração revelado no Calvário. Temos corrido atrás do vento, sedentos por visibilidade, fama e poder político. Nossos antepassados cristãos, perseguidos e odiados, embora obrigados e se esconder, provocaram uma transformação visível na sociedade em que viveram. Nós, porém, nunca estivemos tão expostos, nunca fomos tão visíveis - mas não causamos mudança, pois não incentivamos ninguém ao arrependimento, nem amamos fervorosamente Tua Palavra. Esquecemo-nos do Teu nome e face, buscando antes Teu patrocínio para tornar conhecido o nosso amado nome e nossa própria face - e com isso só provocamos Tua indignação!

Pai Santo, temos formatado Tua mensagem, falsificando-a para ser simpática, suave, ecumênica e lucrativa para um mundo de moral imoral. Nossas músicas perderam a mensagem de adoração a Ti, se transformaram em promessas incondicionais de triunfo social, financeiro e sentimental que fazemos a nós mesmos. Esse outro evangelho não é loucura para os que perecem, pois nele não existe cruz, renúncia, obediência ou sofrimento. É atraente até para o maior ateu pois sua mensagem é a do puro capitalismo selvagem, cujo dinheiro é a fé - fé nesse sistema ilusório.

Mas agora, ó Senhor, tem misericórdia de nós, povo que se chama pelo Teu nome mas que não Te conhece, que enchemos nossa vida religiosa de altares idólatras e de falsa filosofia, à semelhança dos antigos povos pagãos que destruíste - tem piedade de nós e faz-nos voltar ao altar único e suficiente do Calvário de Jesus, altar que para nossa geração tornou-se o altar ao Deus desconhecido (At.17), devido à nossa obscuridade e dureza de coração! Dá aos Teus filhos o presente de verdadeiramente conseguirem se arrepender, uma vez mais, de enxergarmos ao menos a realidade de que pecamos e temos responsabilidade disso. Que possamos abandonar essas falsas doutrinas que transferem a responsabilidade de nossa rebelião para outras pessoas ou motivos. Perdoa-nos! Quando Teu povo erra não é por estar sob maldições - pois Tu és o nosso Pai, e Cristo na cruz já se fez maldição em nosso lugar, levando sobre Si a maldição da lei reservada a nós (Gl.3.13,14). Tampouco podemos culpar o diabo e seus supostos direitos legais sobre nós, pois o maligno não tem direitos no que é Tua propriedade legal, e Tu nada lhe deves, Senhor, senão castigo, pois ele é ladrão e ilegal. A razão de Te ofendermos tampouco está em termos sido prejudicados por alguém ou por acontecimentos em nosso passado, pois não se justifica acrescentarmos aos pecados cometidos contra nós (os quais odiamos) nossos próprios e iguais pecados que amamos! O ódio que sentimos do pecado de outros contra nós não justifica o amor que temos de praticar o mesmo pecado que dizemos odiar! De modo que somos indesculpáveis, Senhor, pelos pecados que cometemos, e por não admitirmos que vivemos em pecado, e por negarmos que a culpa desses pecados está em nossas próprias decisões contrárias à Tua santidade, pessoa, lei e honra!

Nós pecamos, nós Te ofendemos, e apesar de Tua abundante revelação nós não Te conhecemos, pois estamos virados para nosso conforto e interesses mesquinhos! Nós somos culpados pois quando correste para nos abraçar não quisemos relacionamento Contigo, pois então teríamos de concordar com Tua santidade a fim de emparelharmos Contigo no Teu jugo, tendo então de acertarmos nossos passos com os Teus. Por isso corremos de Ti, embora para usufruirmos de Teu poder tenhamos passado a fabricar, acreditar e louvar uma grande variedade de amuletos, receitas e fórmulas mágicas, unções e manifestações espirituais que só multiplicam nossa vaidade mística; práticas absurdas que copiamos uns dos outros acreditando serem a senha para extrairmos de Ti o sucesso de nosso egoísmo.

Nós somos culpados, Senhor, por não acreditarmos que Tua Palavra é realmente poder, e ao mesmo tempo afirmarmos que nossas próprias palavras tem poder divino e criativo, o que nos faz agir como pequenos deuses que emitem palavras e frases às quais o mundo espiritual deve se dobrar. Grande miséria! E por desconhecermos Tua Palavra, tornamo-nos profetas arbitrários a proferir mensagens vindas de nosso coração enganoso e imundo, mentiras de acordo com julgamentos baseados na aparência! Sim, viramos profetas de nós mesmos e isto porque somos nossos próprios deuses, o que nos faz ainda mais vis que os ídolos pagãos antigos, pois eles ao menos tinham outros que profetizassem por eles! Mesmo assim não enxergamos que nossas profecias não se cumprem, pelo que nossas palavras tem muito poder sim - o poder de nos condenarem (Mt.15.18)!

Mas agora, Deus Santo, dá arrependimento ao povo pelo qual derramaste o Sangue da nova aliança! Põe em nós um coração sensível ao Teu Espírito, já quase extinto dali! Por causa de Teu Nome, Tua identidade imutável de santidade e misericórdia, volta com Tua glória para o centro de Teu rebanho disperso e volta e reunir-nos! Não pedimos que venhas aos palacetes luxuosos que construímos enquanto nossas famílias e vizinhos eram destruídos por nosso profundo desconhecimento de Ti. O que confessamos precisar e suplicamos é que levantes o tabernáculo caído de Davi em nosso coração, estabelecendo o Teu santuário em nós, pois não habitas em tijolos ou pedras, mas com o contrito e humilhado aos Teus pés. Cria em nós um coração puro (Sl.51), e purifica também nossas mãos e atitudes - pois os de coração puro Te verão (Mt.5.8), e os de mãos limpas entram na intimidade pois buscam a Tua face, ó Deus de Jacó e Rei da Glória (Sl.24)!

Faz-nos voltar a Ti, Pai Justo, à Tua Palavra e à vida e obra consumada de Jesus! Fizemo-nos cativos de nossas iniquidades, mas faz-nos regressar à simplicidade do Cristo vencedor. Desenterra nosso coração desta terra sedutora e leva-nos às regiões celestiais como peregrinos que não olham para trás! O fim da era dos gentios se aproxima, mas lembra-Te ainda desta geração e acende novamente em nós o testemunho do Teu Cristo! Nós te suplicamos desesperadamente pelo nome de Jesus!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Oceano que mergulha!


Fogo que refrigera
Silêncio que ensurdece
Boca de nova vida
Paixão que dá a paz
Sorriso de orquestra
Nuvem que perfuma
Mãos de colírios com
Dedos de lírios e delírios

Simplicidade que confunde
Sombra que ilumina
Verdade que aquieta
Toque que derrete
Olhos que abraçam
Peito que não repulsa, pulsa

Sonho com sabor
Mente que não mente
Abraço que sequetra
Vento que refresca e canta
Doçura que persevera
Água que incendeia
Pureza provocante (de mais pureza)

Espada que perdoa e corta
Flor que cicatriza
Beijo que santifica
Dor que nos consola
Voz que in/trans e forma
Sangue de amor invencível

O prazer que dá coragem
O poder que faz humilde
Céu que transborda a terra
Santidade furiosa
Oceano que em nós mergulha

É JESUS, meu Senhor... hahaha!
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Você vai ficar aí só olhando?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Movimento

A vida implica movimento. Mesmo os vegetais aparentemente estáticos se movem. Na vida espiritual, o princípio é o mesmo: o que tem vida se move de algum modo, em algum momento, sempre na direção de cumprir seu propósito. Os cristãos são as pessoas mais dinâmicas do mundo, pois elas estão continuamente se movendo em direção a Deus. Assim, mesmo quando fisicamente paradas, de joelhos ou até mesmo dormindo, elas estão se movendo em Deus, e Ele está se movendo nelas, e se movendo para outros através delas. Como vemos na criação do mundo, à medida que o Criador vai implementando vida em nossa esfera, esta vida começa a mover-se em muitas direções, povoando terra, céu e mar. A vida ganha expressão material, movimentação cuja atitude é visível. Movimento não implica necessariamente vida - pois sob forças externas algo inanimado também se move - vida, porém, necessariamente implica movimento. É impossível que o que tem vida e propósito não se mova.

Peregrinos, afirmamos ter recebido a vida do Eterno em nossos corações, mas ela tem se movido em nós? Tem movido nosso coração à mudanças internas e externas? Tem nos movido a mover-nos em favor do próximo? Ou será que nossas experiências estão todas mumificadas, dignamente emolduradas na memória de glórias passadas e empoeiradas? Tenho para mim que muitos deixaram de desejar o mover de Deus em seu interior por se contentarem com as mudanças já ocorridas. No entanto, só o Espírito que se move sobre nosso caos sabe o tamanho do projeto que arde no coração de Deus, e somente o Filho pode dizer: "Está consumado".

Outros sentem tanto Deus movendo seus corações, mas na prática estão paralisados pois perderam a clareza do propósito. Falsas mentalidades os fazem acreditar que dependem de uma oportunidade externa para realizarem o que, sem se darem conta, já está ao seu alcance de forma simples e humilde. Jesus aproveitou muito bem as oportunidades que teve, mas o traço marcante de suas ações foi descortinar, na perseverança e no amor, oportunidades onde ninguém mais viu. Precisamos deixar Ele mover-se livremente em nós, e pedirmos que nos faça atentos ao seu momento de mover-se através de nós, pois essa é a nossa parte, independente da envergadura visível da obra.
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Muitos de nós tem recebido promessas de Deus, de que Ele nos levará a muitos lugares. Quando lembro disso, penso que há tantos lugares de oração, de revelação, de arrependimento, de aprendizado e contemplação aos quais ainda não fomos! Há tantos lugares espirituais que ainda desconhecemos, lugares de intimidade, salas de banquete, jardins secretos, enfim, há tanto por explorar! Resta quase tudo a percorrer! É hora de nos movermos, de avançarmos para ele!
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Prepare-se para mudar. Calce os sapatos, dobre os joelhos, estamos de partida! A coluna de fogo está se movendo... sua alma sente o calor?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Crer contra a esperança

O velhote chega em casa dizendo que Deus lhe fez promessas e baseado nelas decide morar com a esposa e os criados em um deserto muito longe do lugar onde nascera. O apartamento não é luxuoso: trata-se de uma barraca. A promessa que recebeu tem a ver com os seus descendentes... só que sua esposa sempre foi estéril. Depois de anos, um dia chega em casa (isto é, na barraca) e circuncida a si mesmo e todos os seus criados. O motivo é que recebeu novas promessas divinas. E essa nem é a maior de suas "loucuras".

O rapazinho de aparência gentil rasteja de bruço nas valetas sujas, se perde sozinho nos bosques montanhosos, cambaleia na aridez da paisagem acidentada. Fugitivo, se entoca em uma caverna apertada, no meio de quatrocentos marginais. Gosta de harpa e escreve poesia, enquanto seu estômago ronca. Está sendo caçado pelos mais temidos guerreiros, o que faz sua presença ser questionada até por alguns bandidos. Só está ali porque recebeu promessas divinas.

Um jovem trabalhador está noivo de uma moça humilde. Jamais tocou-a de modo impuro. Trabalha duro todo dia, a mão calejada e acostumada com farpas de madeira. Sonha em constituir família. Mas certo dia, descobre que a noiva está grávida - ela garante que é virgem, e conta-lhe a história mais estranha que já ouviu. Não sabe o que fazer. Além de acreditar, terá de arcar com a discriminação da família e da sociedade inteira. Planeja abandonar tudo e fugir. Mas um sonho - que acredita ser de Deus - fá-lo mudar de ideia. Fica, e assume tudo em silêncio.

O velho maluco é Abraão, pai de muitos povos. O rapaz sob pressão é o grande Rei Davi. O jovem trabalhador é José, pai de Jesus. Homens de fé no Deus do impossível, brevemente aqui retratados em sua graduação.

Crer contra a esperança - difícil posição, complexa situação, mas apesar de tudo, a mais sábia decisão! Ver o tempo passar sem que nada aconteça e depois usar as últimas forças não para afastar-se resignado, mas para agarrar-se ainda mais à Palavra de promessa e ali continuar, esperando sem calendários.

Muitos homens e mulheres arriscaram seriamente os rumos de suas vidas por acreditarem nas promessas e sonhos de Deus. Abraão, Davi e José acreditaram...

Creio ser chegada nossa vez.

"As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis para Deus" (Lc. 18.27)

domingo, 29 de agosto de 2010

Onde estás?


"Mas chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu, e escondi-me" (Gênesis 3.8,9)

Sozinho no bosque obscurecido
Sinto folhas e ramos a se esbarrarem
Enquanto uma brisa grave lhes penetra o esvoaçar

Estou desertificando este jardim:
Mais um punhado de anos e atos e momentos
E as flores se secarão para que
Escurecidas, retorcidas e endurecidas
Se transformem em irreversível espinho a latejar

Estou suado de medo – estou perdido.
A única maneira de me localizar será aguardar
Que tudo em volta se venha a secar...

Mas quem eu temia hoje veio me visitar.
A brisa dá-me a sensação real que
Passos reais se aproximam,
Os passos de apenas Um,
Logo Ele que meus intentos sabe tão bem peneirar

Seus passos me envolvem
E enquanto procuro que não me procurem
Procuro me calar

- Onde estás? – é a pergunta.
Não sei onde estou, a não ser em minha
Própria nudez, que me mostra desorientado
No desejo ardente de destruir
Tudo que não posso subjugar

- Onde estás? – repete-se a pergunta.
Eu estou mergulhado num medo trêmulo
Porque os passos Daquele que sempre me amou
Estão vindo ao encontro de minha inegável renegação
Cuja testemunha é a fuga de meu olhar

Eu estou em guerra inexplicável contra Ti
Em ambição desenfreada para ver-me independente
Daquele que só Ele me pode
Na verdade e de verdade prosperar

Por que parei?
Parei porque não sei aonde vim parar.
Porque na verdade sou um rei de mentira
Que não sabe onde está –
Que de dia se rebela mas de noite se revela
Um doente nu, perdido e medroso
Que miseravelmente exige reinar!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A simplicidade e o poder

"Eu temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo Jesus" (2 Coríntios 11.3)

Pai Bendito,
Aproximo-me de ti e descubro que Jesus Cristo é simples, seu evangelho é simples, e que o complicado sou eu. Leio a Bíblia e vejo que a tua vontade para nós homens é maravilhosa e perfeitamente simples - o difícil é abrirmos mão de nossas próprias vontades e nos submetermos (com dor e lágrimas) a desfrutar da honra que é te servir. Contudo, perto de ti as minhas ansiedades perdem a voz e meus medos a razão de existirem. Junto de ti a multidão miscigenada e infindável dos meus planos, sentimentos e feridas vai se dispersando, pouco a pouco, até restar somente em mim aquilo que tem prazer em se parecer Contigo.

O convite que nos fazes também é simples: "Segue-me". E mesmo assim nós o consideramos duro demais, pois nosso coração está viciado e acorrentado aos sabores e valores ilusórios deste mundo teatral. Semeamos e regamos plantas carnívoras que mais tarde nos mutilarão a alma - e mesmo assim achamos complicado aceitar o Teu convite, cheio de compaixão, de agarrarmos as Tuas mãos cicatrizadas e sairmos juntos destes labirintos miseráveis! Ah, Pai nosso, Deus tão simples apesar da infinita sabedoria e grandeza! Perdoa a nossa confusão e dificuldade, apesar de nossa infinita pequeneza!

A obediência que requeres de nós também é simples, pois é para a doação, a conservação e a salvação da vida: "Não coma disto pois do contrário morrerá", esta é a ordem simples e clara do Pai amoroso. Mas nossa cobiça leva-nos a ouvir o Tentador, e logo a ordem já não é tão bondosa quanto parecia. Desconfiamos da simplicidade do amor de Deus, com medo de sermos marionetes e sem percebermos que esse medo é que nos faz fantoches do maligno. Então mordemos o fruto, e ao fazê-lo mordemos e cuspimos para longe de nós a paz da vida eterna. E agora sim, tudo tornou-se obscuro e complexo, do modo como temíamos que fosse antes - mas que agora vemos que não era!

Mas foi aí que Tu desceste, Senhor, para enfrentar e triunfar sobre a complexa insolvência dos pecados nos quais me emaranhei. Tu és o Deus que entraste na dificuldade da limitação e da dor humana, fazendo-te um de nós e levando à destruição da cruz os espinhos e terrores que eu havia escolhido para mim. E isso sim, não foi nada simples! Foi sangrento, foi brutal, foi demorado! Foi a pressão e a vergonha que eu merecia mas que eu jamais suportaria! Voltaste a hastear a bandeira do teu amor no topo do mastro da tua justiça, mas a corda tensionada que içou a bela flâmula da vitória foi a tua própria carne, desprezada, massacrada e sacrificada, sem gemidos ou protestos. Entraste, pelo pior e mais difícil de todos os caminhos, na morte que nos devolve a vida, e isso não foi simples! Não obstante, apesar da complexidade das engrenagens da cruz onde esmagaste a nossa condenação, tu nos ofereces (simplesmente) o teu perdão! Simplesmente perdão a todos os que crêem e confessam a ti, Jesus, e que se tornam simples como uma criança!

Quando medito no esplendor desta realidade, a luz de Tua face revela como estou longe da simplicidade que há em Cristo Jesus. Nós, criaturas tuas, invertemos tua sabedoria e por isso achamos que quanto maior a posição de um homem, menos simples isso o torna, menos acessível ele se faz, mais difíceis são suas exigências, sua satisfação e sua gratidão. E quanto maior um homem acha que é, mais longe está da Tua grandeza! Esse homem abre a Bíblia e tudo lhe parece absurdo, pois em sua mente é impossível que tudo seja tão simples como ali consta, sem compreender que é por ser infinito o Teu poder que tudo é simples para Ti! Tu não precisas responder às leis da tua criação, mas pelo contrário, são elas que respondem e se encurvam a Ti, Criador nosso! Sim, a medida da tua simplicidade é a medida do teu poder - pois para quem tudo pode, tudo é simples!

Ah, Pai santo! Enche-nos com Teu Espírito de poder e simplicidade! Produz em nós essa humildade tranquila, essa simplicidade segura, essa paixão que aquieta e contenta - e essa infância sábia e madura! Simplifica as nossas vidas, pois isso não é simples para nós... mas os teus filhos acreditam e esperam no Teu poder! Em nome de Jesus, amém.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A dependência e a glória


Filho, sei que temes as dificuldades do caminho e lamentas teres sido levado a esta situação em que dependes de mim. Sei que temes que eu largue tuas pequenas mãos, enquanto percebes as coisas girando à tua volta naquilo que chamas de caos. Sei também que preferirias teus pés bem firmados no chão, e as situações bem fixas sob o teu olhar. Mas não é isso que tenho para ti - pois eu sou como o redemoinho, filho! Um dia Jó e Elias poderão lhe dar mais detalhes do que lhe digo. Eu movo as coisas de seus lugares, faço tremer o deserto e tiro o que está embaixo para lança-lo para o alto. Tu és o meu amado, e quando seguro tuas mãos e te rodopio é para fazer-te sentir a alegria de dependeres de mim, enquanto olhas a minha face! Portanto, não chores, menino de minhas delícias!

Veja! A arca que te salva do juízo não é o teu cárcere, não a olhes desse modo! Tampouco se desespere, antes, saiba que a tua infertilidade e incapacidade de alcançares certas promessas são na verdade o meu convite para olharmos juntos as estrelas do céu... não foi assim com meu amigo Abraão? Aquieta o teu coração! Não te levei à praia do Mar Vermelho para aí aniquilar-te. Tenho planos gloriosos, como sempre tive com aqueles cujo coração se dispõem a depender de mim. Aqueles que realmente contemplaram a minha glória sempre foram os que aprenderam a depender de mim. E tu sabes e sentes em teu íntimo que nasceste para a minha glória! Contudo, a profundidade da glória é a profundidade da dependência de minha graça, pois não me glorifica a pessoa que depende (ou imagina depender) de seus próprios méritos, habilidades ou justiça para livrar-se.

Mas hoje tu dependes e temes, pois teus pés não estão mais firmes como antes. Ah, filho, olha para mim e devolve-me o sorriso que te dou, pois te tomo pelas mãos e não te abandonarei! Confia em mim e jamais voltarás a preferir que teus pés estejam firmados à terra ou coisa alguma! Então verás que sempre quis o teu bem, e que depender de mim é o meu modo de pôr em teu coração o meu sorriso, filho... e minha alegria em tua santa despreocupação!

domingo, 13 de junho de 2010

Pedrinhas na Janela


Amigos,
Foi bom estar com vocês
E assentarmo-nos em volta da Palavra
E repartimos o Pão que nos une
E termos nos levantado para lançar a rede
E sorrirmos juntos na colheita daquilo
Cujo crescimento foi milagre de Deus

Amigos
Seria muito bom continuarmos aqui
E cuidarmos mais das feridas uns dos outros
E cantarmos hinos, mesmo na eminência de algum Getsêmani
E falarmos para Deus uns dos outros com piedade
Para que o Senhor nos traga mais saúde e paz

Mas, amigos,
Ultimamente Ele voltou a sussurrar meu nome
Ele está atirando pedrinhas na minha janela
Ele está chamando por mim do outro lado do portão

É muito bom estar entre vocês
Mas o Caminho está mostrando que
A estrada não termina aqui...

Não posso deixar de respondê-Lo
Mas quando eu for, amigos,
Venham junto comigo em oração
Assim como entre vocês ficará
Sempre uma parte do meu coração


(Uma homenagem a meus pais)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Herança

Era uma pessoa triste e sem esperança, vivendo na mais completa miséria e sujeira. Um dia, então, alguém veio ao seu encontro e lhe revelou que havia uma herança em seu nome, de valor incalculável. Ela deveria apenas esperar algum tempo até receber o que era seu. Todavia, enquanto aguardasse a liberação total da fortuna, receberia um adiantamento do mesmo quilate do que lhe estava reservado, o que por si só era um impressionante montante! Apesar de ainda não ter recebido a plenitude, já era um bilionário. Caminhava ainda pelas mesmas ruas de antes, mas agora olhava-se no espelho e enxergava a pessoa mais rica e mais sortuda do mundo, por trás daquelas cicatrizes e mazelas! Era o mesmo rosto, mas com outro brilho no olhar.

Seu humor se transformou, ganhando asas poderosas. Já não era alguém amargo e frustrado, já não perdia mais noites de sono, nem tinha o coração dominado por ansiedades latejantes. Voltou a cavar sonhos há muito enterrados, e viu a própria vida ser envernizada de esperança. Deixou de se preocupar com a opinião ou o julgamento das pessoas a respeito de si, e tornou-se mais ousado e seguro no falar. Continuou trabalhando, mas por prazer. Sensibilizava-se com os miseráveis, pensando como seria bom se recebessem uma herança como a sua. Em resumo, já não sentia-se mais escravo da vida pois sabia que seu amanhã estava garantido.

Agora, amigo, veja a Bíblia vindo ao nosso encontro e nos revelando que também temos uma herança, que crise ou tempo nenhum poderá nos tirar:

"...Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mateus 25.34)

"Oro também para que sejam iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder" (Efésios 1.18,19)

"Por isso Jesus é o mediador de uma nova aliança, para que, intervindo a morte para remissão dos pecados que havia sob a primeira aliança, os chamados recebam a promessa da herança eterna" (Hebreus 9.15)

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, guardada nos céus para vós" (1 Pedro 1.3-4)

"...Tendo nele crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da propriedade de Deus, em louvor da sua glória" (Efésios 1.13,14)

"O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice, tu és o sustentáculo da minha sorte" (Salmo 16.5)

"A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem, mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre" (Salmo 73.25,26)

"Nisto vos exultais, ainda que no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por vários provações. Essas provações são para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Pedro 1.6,7)

E aí? Seus olhos estão brilhando? Riqueza é ter Deus como tesouro, Seu Espírito como penhor e Seu Filho como herança. O resto é secundário! Diamantes não são eternos, apenas duram enquanto este mundo durar. Bem diferente de nossa herança - incorruptível!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A hora de (re)agir

"Considerai, pois, aquele que suportou tal contradição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos canseis, desfalecendo em vossas almas. Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado" (Hebreus 12.4)

Até quando vamos ignorar esse vil adversário que tenta nos intimidar? Ninguém evita o pecado se não desvia seus olhos para um foco melhor, isto é, se não olha para Jesus através da Palavra e da comunhão - fonte de nosso santo prazer inextinguível. O pecado jaz diariamente à nossa porta, à espera de uma oportunidade para escravizar nossos desejos e nos dominar (como fez com Caim, Gn.4.7). Contudo, se temos o Mestre vivendo em nós, ganhamos através da pessoa, do exemplo, da obra e do sangue derramado o poder para resistirmos, combatermos e vencer.

Mas, então... por que ainda nos deixamos dominar, cedendo à tantas tentações velhas e a golpes tão previsíveis? Até quando permitiremos que nossa carne, essa mercenária que nos trai por uma migalha de ilusão, continue passando para o lado inimigo, ajudando-o a espancar covardemente a nossa alma? Até quando ofenderemos os princípios divinos da vida e paz, perdendo para sempre, no mínimo, o tempo gasto erradamente? É hora de reagirmos, de invocarmos o nome do Senhor dos Exércitos para que renove nossas forças para o combate! É hora de puxarmos a espada de Deus, há tanto tempo adormecida em nossa bainha, para avançarmos "não por força nem por violência, mas pelo Espírito"!

É hora de abandonarmos o triste conformismo de ainda sermos presa fácil de certos tipos de pecado, e assumirmos uma postura resoluta através da consideração de Jesus em suas horas mais críticas, para que não nos cansemos ou desfaleçamos - e isso não para termos orgulho de nós mesmos, nem para que nossa consciência nos aplauda, mas a fim de que nosso testemunho de obediência glorifique Aquele a quem amamos, o Pai nosso que nos chamou e nos muniu para o triunfo, até que possamos suspirar com a mesma segurança do idoso e vitorioso combatente Paulo: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé"!
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Fomos chamados para representá-Lo e agradá-Lo. Ele está em nós, Sua espada em nossas mãos... agora é a hora de buscarmos Nele a força e a sabedoria para manejá-la, exatamente como Jesus naquele deserto - Jesus, por meio de quem Deus nos conduz em triunfo (2 Co.2.14)!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Confia!


"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti" (Isaías 26.3)

Confia
Simplesmente
Silenciosamente
Confia

Teu medo nao tem razão de ser
Pois os olhos detalhistas do Oleiro
Sempre vigiam tua essência
Não para te julgarem e destruírem
Mas para sorrirem com as formas
Com que te moldou
Ou para te quebrarem em uma purificação
De amor elevado que insiste
Em aperfeiçoar com humildade!

Assim, pobre e afortunado vaso
Quer sejas amassado
Quer sejas usado
Ou quer descanses na anônima
Prateleira das indagações,
Lembra-te que és amado sem interrupções

Então confia
Simplesmente
Silenciosamente
Sorria!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mãos que transformam


"Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?" (Jo 6.9)

Pouco sabemos desse rapaz, talvez uma criança. Mas vejo que ele foi corajoso ao não esconder, no meio de uma multidão faminta, o suprimento que trazia. Mais: teve muita fé ao apresentar para o Galileu tudo o que guardava. E se aos olhos daqueles discípulos o que possuía era insignificante, houve porém Alguém que olhou para o seu pouco como o que era necessário, pois era poderoso para com aquilo fazer além.
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Nos desertos desse mundo, não fique olhando para suas limitações. Talvez você pense que mal tem para manter-se, então como ajudar a outros? Não, não olhe para si em busca da solução, pois nesse caso 200 salários não bastariam. Bem mais importante do que o que temos nas mãos é em que mãos vamos depositar o que temos. E esse menino entrou para a história porque colocou aquilo que outros consideraram insuficiente nas mãos do Deus suficiente!

Nas mãos de Jesus, o Seu poder ofusca e reverte nossas debilidades. Aliás, Ele mesmo escolheu as situações limitantes porque nelas o Seu poder é mais evidente! Portanto, nossa garantia não está no que possuímos, mas nas mãos multiplicadoras onde entregamos o que possuímos. E isso nos alegra: usarmos o nosso pouco para, pelo poder de Deus, abençoarmos muitos - inclusive os que duvidavam.

"Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, ó Senhor, Deus da verdade" (Sl 31.5)

"Entrega ao Senhor as tuas obras, e teus desígnios serão estabelecidos" (Pv 16.3)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Intenções de uma fé

Graças Te dou
Tu que sabes o que e como fazer
Segundo o curso santo de Tua vontade perfeita!

Que eu diminua conforme cresça o Teu abraço
Que eu dependa quando outros buscarem seus interesses
Que eu espere e assim não jogue o tempo fora
Que eu beba e coma Tuas letras, minha vida
Que eu me espelhe em Cristo e O espalhe em ousadia
Que eu seja Teu e veja por mim Teu zelo e cuidado
Que eu olhe Teu Filho e cante Dele em mim
Que eu não decida mas Tu por mim e eu por Ti
Que eu dê glória Àquele que me dá Sua graça vitoriosa
Que eu me aquiete à sombra da cruz vazia
Que eu Te enxergue e abra os meus olhos
Que eu Te encontre e me descubra

Vai adiante, Sabedoria, Lâmpada e Esperança!
Que eu me humilhe aos pés Daquele que me ensina a caminhar!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O que vale a pena


Estou indo para o desconhecido e o terreno é ermo e inexplorado. Como em um jogo eletrônico, passei de fase e a tensão agora é grande; o cenário e a maioria dos personagens me são desconhecidos. Só tenho uma vida e não sou indestrutível. Em situações assim, a adrenalina é agradável mas ao mesmo tempo desgastante. Às vezes me sinto cansado, profundamente cansado. O destino é certo, a chegada é certa - mas o percurso é mistério.
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No entanto, vale a pena, tem valido a pena, vai valer a pena. Quando sinto em meu íntimo a aprovação do Espírito Santo, acariciando-me a fé com Sua paz, tenho certeza de que vale a pena. Quando coloco Seus interesses acima dos meus e este coração de carne é inundado pelas correntes espirituais da alegria; e quando em meio ao sofrimento e à privação de prazeres físicos a Palavra mostra-me como o Senhor Jesus venceu em pureza e perseverança, meus joelhos se dobram voluntariamente na confissão gestual de que vale a pena ser Seu! Vale a pena subir, Senhor, um a um, os degraus do sacríficio que conduzem a uma vida santa e agradável a Ti! Vale a pena esquecer de mim mesmo para assentar-me aos Teus pés, olhar em Teus olhos e celebrar Tua presença - mesmo se a correria cotidiana conspira e tenta alojar-se na alma.

Mas sempre tem valido a pena - a pena de quase sempre não ser bem compreendido, de ser olhado e julgado com mais rigor do que os demais pelos tribunais humanos que nos cercam; a pena de ver que outros já possuem o que desejo mas que não tenho por não ter ousado estender o braço e apanhar o que, quieto, espero que venhas e me concedas, ó fonte da graça e fornecedor exclusivo do que minha vida carece! Tu, Amado, me forneces Tu mesmo! Tudo que me interessa habita em Ti, e Contigo trazes o que é Teu... e o que é Teu, de fato, é o que vale a pena!

Vale a pena desfazer-me com alegria do que é mais meu para adquirir o que descobri: o tesouro escondido do evangelho, a pérola de grande valor que emergiu das profundezas das águas da morte! Vale a pena suportar a zombaria que os enfermos de alma fazem à nossa saúde, bem como toda a crítica e protesto de minha própria carne contra o homem interior, sempre que ignoro meu egoísmo e demito meu orgulho reincidente. Tem sido maravilhoso descobrir que quando desvio o olhar da tentação estou fixando-o na Tua glória. E quando choro com medo de não ter forças suficientes para fazer o que me pedes; e quando me escandalizo com o potencial malévolo que ainda habita nestas veias e na mente; e quando desanimo não só de olhar as dificuldades mas também de ver minhas queixas e atitudes dramáticas diante delas, sei que vale a pena contar tudo isso para Ti, e confessar que certas coisas ainda me custam demais porque dei-lhes o preço indevido.

Contudo, Senhor, se estás em mim e eu em Ti, sei que um dia diremos sorrindo um ao outro que tudo valeu a pena - e nesse dia não haverá mais noite, nem dor ou solidão, nem dúvidas ou espera, nem vozes contrárias ou céu de bronze. Ah, terá valido tanto a pena que a própria pena, por enorme que hoje seja, se encolherá na presença da alegria, até virar um cisco e depois desaparecer para sempre! Naquele dia reconhecerei como foi curto o meu deserto; e, por já não haver ali lágrimas, não sei de que forma poderei extravasar minha felicidade! Ali reconhecerei que terá valido completamente a pena não ter trocado os prazeres Teus pelos daqui. Ali perceberei que Tua mão esteve comigo em mais momentos do que percebi, e que todas as minhas renúncias passadas foram ou livramentos Teus, ou adubos terrestres para a flor celeste da adoração que dei a Ti!

E quando finalmente enxergarmos Tua face amada, meu Pai, veremos que valeu a pena tê-la buscado por fé e termos tentado nos parecer Contigo, e também termos sofrido a fim de compartilharmos e desfrutarmos juntos da rica paisagem de Teu rosto, e da boca que tantas vezes falou conosco, e dos olhos que desde a eternidade nos viram e formaram, e das narinas que aspiraram o perfume de nossa obediência e o incenso de nossas orações! E quando esse dia chegar, a única pena da qual teremos memória será a Tua em nosso favor - a única que torna em realidade a nossa chegada e entrada aos Tabernáculos Eternos!

Ah, Senhor, eu me humilho e agradeço por entender que a vida só vale a pena se, de algum modo, ela valer a Tua pena!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Do fim o começo!


Na caminhada cristã tenho observado duas maneiras opostas pelas quais nossa fé é fortalecida: a primeira é pela expectativa frustrada; a segunda, pela desesperança surpreendida.

A primeira ocorre quando o que você tanto espera não acontece do jeito ou no tempo esperado - ou pior, quando simplesmente não acontece. Meses, talvez anos de espera, e quando tudo parecia indicar que o aguardado havia chegado, as expectativas falharam brutalmente. Todavia, quando o chão some de debaixo dos pés, a fé aprende a estender as asas ocultas que Deus lhe deu e simplesmente pairar acima das explicações fáceis, populares, consensuais ou racionais. Isso ocorre quando abandonamos a exigência de compreender a razão divina ao permitir a frustração de nossa nobre expectativa - e a fé sai fortalecida, pois abandonou o ninho da baixa compreensão humana e seus questionamentos, e alçou voo rumo às regiões celestiais. É quando Habacuque se alegra e ora em meio à desolação. É quando Davi salmodia na caverna escura e fria. É Paulo e Silas cantando no tronco com as costas em carne viva.

Paradoxalmente, a segunda maneira que Deus usa para fortalecer a fé é surpreendendo nossa desesperança. É quando os soldados de Faraó chegam às pressas ao calabouço e chamam José. É quando identificamos o Senhor no redemoinho tormentoso e isso altera nosso destino. É Moisés aos 80 anos de vida recebendo a revelação da Vida. É o paralítico andar após 38 anos no sofrido camarote de Betesda. É quando chegamos ao fim de nossa força, paciência, perseverança e esperança - e Deus nos surpreende com Seu poder. É Abraão ouvir o primeiro choro de Isaque. É a viúva ver o óleo escorrer de dentro da vasilha mais seca. É o terremoto que surpreende e liberta Paulo, Silas e o carcereiro.

Ambas as coisas nos fortalecem! O Cristo crucificado, mesmo chocante, nos fortalece a ir além do imaginado; mas também a visão de Sua tumba vazia mostra que, no tempo certo, Deus faz do impossível a Sua matéria-prima, e do fim e do nada o começo de tudo. Assim, Ele é glorificado quando anoitece e eu continuo com Ele, e também quando a noite que julguei interminável é surpreendida pela explosão de Sua alvorada! E quando isso acontece, peregrinos, nossos olhos se enchem de lágrimas e a boca de riso. O mais profundo silêncio é quebrado, curiosamente, pela paz...

É quando Ele vem bem perto e sussurra: "Filho, o que você chama de fim Eu chamo de começo!"

segunda-feira, 29 de março de 2010

Este Amor Consolador

Pai,
Desvinculando-se do mais sufocante desespero
Superando o desbotar da perseverança
E a terrível desconsolação cotidiana
Fizeste-me entender que não escolhes alguém
Por sua perfeição, beleza ou habilidades
Nem porque algum de nós Te impressionou

Mas hoje eu me joguei de joelhos
E senti Teu amor entrando pela janela
Qual andorinha que traz no bico
Um raminho seco
E eu sou esse raminho seco
Que o Teu Espírito colheu
Daquela floresta em chamas

Então me lembrei que Tu escolheste
As coisas loucas deste mundo
As coisas fracas, as desprezíveis
E aquelas que não são
Para revelar nelas o maior mistério do mundo
O incompreensível amor de Deus,
Loucura para os que se julgam sábios e fortes

E eis-me aqui
Detrás do pobre curral das ovelhas
Mas com a alma saudavelmente gorda
De meros mas sinceros louvores a Ti
Pois são a única coisa que posso dar
Além de minha vida feita de tempo
Além de esforço que é o meu talento

E descobri
Como quem descobre a cura do incurável
O quanto meus dois filhos, Presente e Futuro,
Somos e seremos felizes naquela palma
Que foi furada pelo prego mais duro
E o quanto me ajudas a enfrentar e a vencer
Com Tua graça e espantosa calma
O leão e o urso, os devoradores de sonhos,
Pois foste Tu que me plantaste esses alvos
E eu apenas apascento pacientemente
Aquilo que voltará para o Teu seio

E de repente, o Teu Espírito sobreveio
E agachou-se para levantar-me do pó
Segurando minhas secas e frouxas mãos
Enquanto Teus olhos me ungiam a exausta fé
E meus surdos ouvidos ouviam
Teu brando sussurrar a explicar
Não ser mais necessário temer pois
A pedrinha angustiosa que puseste em meu sapato
É a mesma com a qual lá adiante
Me ajudarás a matar o temível, o terrível gigante

E gigantesca será a vitória
Muito mais forte que a fraqueza presente
Muito maior que o desprezo do agora
Muito melhor que a pior perseguição
Ou desilusão desta era
Que é passageira como uma sombra
E que em nada pode reproduzir a eterna alegria
Dos que claramente reconhecem que
Nada são diante Daquele que é
E que chama para ser
As coisas que ainda não são mas que
Caminham para ser e serão
Tudo aquilo que com amor
Deus projetou e executará
.
Em Seu perfeito tempo: sem tardar!

terça-feira, 23 de março de 2010

O sonho e o sacrifício


"Então Salomão acordou, e eis que era sonho. E, voltando ele a Jerusalém, pôs-se diante da arca do pacto do Senhor, sacrificou holocaustos e preparou sacrifícios pacíficos..." (1 Rs 3.15)

Antes do sonho de Deus se realizar em sua vida, haverá da parte do Doador do sonho a realização de uma grande obra em você. Não se iluda achando que o sonho será vestido de realidade em uma fração de segundos. O sonho de Deus é para você, mas não para o você que você é hoje - antes, para o você tratado por Ele. E ser tratado leva tempo e envolve sofrimento. Como na história de Salomão, depois do sonho sempre vem o sacrifício.
.
Abraão recebeu o sonho de Deus (a promessa) e 25 anos depois alcançou o básico dela. Isaque orou 20 anos para que sua esposa estéril tivesse filhos. Entre o sonho recebido pelo adolescente José e sua realização no Egito, o percurso passou por rejeição, conspiração, traição, exclusão, mentira, calabouço e esquecimento. E que dizer dos 40 anos de Moisés no deserto de Midiã? A vida de Davi também saiu da normalidade e entrou nos trilhos do sofrimento desde que um velho profeta apareceu com óleo, na casa de seu pai lá em Belém.

Ah, Senhor, o tempo! Purificador e auxiliador da fé na materialização do que é espiritual no que é palpável conquista. Ah, Senhor, o sofrimento! Em tuas mãos é o íngrime degrau que eleva o homem de sua mediocridade à superação, do egoísmo à misericórdia, da mesquinhez à gratidão, da tribulação à perseverança, da perseverança à maturidade, da maturidade à esperança (Rm 5)!

Ah, Senhor, o sonho! Que não morra aquilo que nos desafia para a vida! Livra-nos de viver menos do que sonhaste para nós! Livra-nos de transformá-lo em utopia, se pecamos ou vivemos o sonho de outros a nosso respeito! Ajuda-nos a sofrer sabiamente, e que esse sofrimento nos ensine a olhar mais para os outros do que para nós mesmos, e não o contrário (como é a tendência).

Pois o sonho de Deus para mim nunca me terá em seu foco, mas sim a meus irmãos. Se José do Egito viu-se em posição de evidência em seus sonhos foi somente porque em sua realização, depois do sofrimento, ele se tornou abençoador de sua família, nação e da humanidade - graças ao Senhor! Ele, sonho dos que são reais e realidade dos que sonham.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Agradecer e amar melhor


"E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos" (Colossenses 3.15)

Às vezes precisamos ir longe para enxergar nosso coração mais de perto. Ir longe pode nos trazer para perto do que Deus quer. Nas últimas semanas o Pai me levou a conhecer a realidade de algumas zonas do sertão nordestino. Confesso que fui para aprender, ver e ouvir. Convivi com a pureza de corações que estão se gastando para ajudar vidas que são carentes de tudo - mas principalmente de amor. Percebi que tenho expressado minha gratidão a Deus de forma muito insuficiente.

Jessie Penn-Lewis disse que na vida de um cristão a frutificação não é uma questão de fazer, mas de morrer. De fato, encontrei missionários que literalmente se consideram e se declaram mortos para o mundo e para si mesmos, enterrados no sertão - mas vivos para Deus, e sendo usados por Deus para trazer à vida muitos que estavam espiritualmente mortos. Por isso eles frutificam, mesmo no solo mais seco.

"Sede agradecidos", diz a Bíblia. Pensei muito nisso nos últimos dias. Costumamos sempre nos comparar com quem parece estar em melhor condição do que nós, e isso amarga todos os privilégios graciosos que temos recebido das mãos do Senhor. Somos felizes, somos milionários, vivemos em uma terra abençoada, mesmo assim percebi que o nordestino, com todas as suas dificuldades, tem um sorriso mais fácil.

"Melhor coisa é dar do que receber", mas achamos que só poderemos dar alguma coisa no dia que tivermos tudo. Contudo, todos podemos dar e repartir com muitos o amor que da cruz do Senhor temos inegavelmente recebido, independente de nossa condição financeira.

Considerei ficar por lá e ajudar melhor os que ajudam e os que são ajudados. Mas antes precisei voltar para casa, precisei voltar e aprender a amar melhor. Que o Senhor nos confronte.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meu Valor


Não é o que os outros pensam de mim
Que define quem sou
Independente de quem são.
Não é um compromisso, um diploma,
Uma profissão ou qualquer bem material
O que determina meu real valor.
Não é meu passado, minha raça,
Minha filiação, minha educação,
Minha condição física ou capacidade intelectual
Que dizem verdadeiramente quanto importo.
Não são minhas obras, minhas conquistas,
Minhas derrotas ou qualidades,
Minhas cicatrizes, minha covardia ou bravura,
Meus méritos ou a falta deles,
Minhas habilidades ou defeitos
Que podem pesar-me e indicar quanto valho
Porque primeiramente isso não tem
Relação alguma com algo que seja meu

Mas se fui alvo da compaixão
E se o Crucificado ressuscitado
Abraçou-me e beijou-me,
Se Ele veio ao meu encontro
Ao passar pela estrada poeirenta
E se Seu olhar soletrou o meu nome...
Então ganhei identidade
Então importo para quem é importante
Então o meu valor recém-nascido
Está não no que possuo
Nem no que sou feito
Mas está misericordiosamente em quem pertenço!

(Peregrinos, continuo em viagem missionária no sertão pernambucano. Agradeço as orações, que o Pai os abençoe!)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Conformado ao Filho!


"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8.29)

..
Minha grande preocupação na deve estar no ser
Atlético, erótico, eclético ou exótico

Mas conformado à imagem do Filho
Transformado à coragem do Filho
Transportado à vida do Filho
Transtornado à justiça do Filho
Transfigurado no perdão do Filho
Construído no fundamento do Filho
E apagado no aparecimento glorioso do Filho
É o que preciso, o bom perdão no futuro juízo
Pois Seu sangue prova que minha condenação
Foi cravada na cruz sobre a qual triunfou,
Tumba vazia à volta da qual surge o melhor jardim

Meu Advogado me defende não negando o que fiz
Mas levantando as mãos e mostrando o que fez por mim
Prova irrefutável, imbatível, louvável!

Os chicotes se aquietaram – mas céu e terra aplaudem o Filho!
Aquela cruz apodreceu – mas o Filho jamais!
Aquela lança enferrujou – mas o Filho ainda reluz!
Aqueles cravos já não ferem – mas o Filho ainda cura!
Seus acusadores desapareceram – mas o Filho está entre nós
E os que pediam Sua morte já morreram – mas onde está, ó Morte,
Tua vitória sobre o Filho ressurreto?

Conformado à imagem do Filho
É o que preciso mais que tudo
É o grande assunto que devo lançar
Nas mãos de quem é poderosamente capaz –
O Pai nosso que jamais falha!
.
"Quanto a mim, em retidão contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança" (Salmo 17.15)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Na praia com Jesus

"...Simão... tu me amas?..." (João 21.3-17).

Na véspera da crucificação, Pedro acreditava amar a Jesus mais do que os demais. Declarou cheio de confiança estar pronto a segui-Lo até a morte (Lc. 22.33). Todavia, quando o momento tenebroso chegou todos fugiram; poucas horas depois de sua declaração, Pedro se descobriu negando três vezes o Mestre, diante de um fogareiro.

Após a ressurreição, ele e alguns companheiros voltam ao mar da Galileia. Amanhece mas nada pescam, até que na praia surge Cristo e dá-se a pesca miraculosa. Pedro então atira-se à água e provavelmente bate o recorde mundial de nado livre. Quando chega à areia, calado, vê diante de si o Senhor que negara e um fogareiro aceso, onde o Mestre já preparou alimento.

"Pedro, tu me amas mais do que esses?" é a pergunta que lateja. "Amar" aqui no grego é agape, o amor da classe mais excelente e divina, aquele que Pedro anteriormente achava ter. No entanto, agora tudo que o discípulo tem a responder é: "Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te fileo", isto é, afeto e amizade, amor imperfeito. Jesus repete-lhe a pergunta mas a resposta é a mesma. Então o Senhor questiona se é mesmo fileo o que Pedro sente, e este se entristece pois pela terceira vez (tantas quantas o negara) precisa confessar que no agape que antes achava ter na realidade só havia mesmo fileo.
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Temores e horas escuras também peneiram o agape que costumamos declarar, e nessas horas geralmente somos surpreendidos ao perceber que ali existe apenas afeto ou simpatia - nada além. Contudo, diante do Mestre podemos e devemos ser sinceros e confessar-Lhe nossa fraqueza e imperfeição. Ele tem estrutura para lidar com nossa sinceridade; deseja nossa confissão pois só quando admitimos nossa realidade é que nos dá do que é Seu.

Ninguém recebe de Deus o que não admite precisar. Somente quando confesso meu fileo é que conheço a Fonte inesgotável de onde jorra todo o agape de que careço. É quando sou fraco que sou forte, pois então só uma força resta: a do Deus forte em mim (2 Co. 12.10, Is. 9.6).

Ah, Senhor! Pesquei a noite inteira
Mas nada pesquei senão a própria noite...
Todavia, se me perguntam de que sinto vontade
Respondo com fome e sem hesitar:
Tenho vontade de ver o Mestre na prainha
Vontade de comer o que preparou para mim
Vontade de ouvi-Lo falar como antes
E de segui-Lo e servi-Lo com uma fidelidade
Que não encontro em mim!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ele nos amou primeiro

"Mas Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5.8)

"Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Efésios 2.4,5)
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"Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniquidades(Salmo 103.10)
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"Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor [...] antes, participa comigo dos sofrimentos do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos" (2 Timóteo 1.8,9)

Uma pessoa que tenha provado a graça de Deus só aponta o dedo ao céu a fim de dar-Lhe glória, nunca para acusá-Lo. A graça é a fonte da verdadeira gratidão, é o cadeado que impede a cobiça de roubar nossa alegria. Ela torna a vergonha de testemunhar de nosso maravilhoso Salvador em uma coisa ridícula. Nada nos encoraja mais a sofrer por Seu nome neste mundo que não o compreende do que uma visão nítida da graça.

Porém, se hoje a graça me parece distante e enfraquecida, quero lembrar que certo dia, esgotado de ser Seu inimigo, fui amparado por Ele em Sua compaixão. Seu Espírito traz-me isso à memória para lançar em meu rosto nada menos que o renovado e renovador beijo de vida eterna.

E quando recebo Seu abraço de paz, estas mãos cansadas se afrouxam e então delas caem o martelo e o cravo, pesados como os pecados que Ele perdoou para sempre - por meio de Sua graça!

Definitivamente, nós o amamos porque ele nos amou primeiro (1 João 4.19)!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Quando descer é preciso


Pedro, Tiago e João tiveram o privilégio de serem convidados por Jesus para subir o monte, onde foi-lhes mostrada a essência do reino de Deus (Mt. 16.28), a saber: o Filho transfigurado em glória, Seu rosto resplandecendo em fulgor; Cristo no centro e a Lei e os Profetas (representados por Moisés e Elias) voltados para Ele e Sua luz, enquanto o Pai testemunha que Ele é o Amado em quem tem prazer, o que deve ser ouvido acima e antes de qualquer coisa ou pessoa.

Pedro então tem a ideia engenhosa e voluntariosa de construírem três abrigos no topo do monte, um para cada um. Acho interessante a iniciativa de Pedro, aquele lugar e momento são tão maravilhosos que ele quer ficar para sempre ali. Não se importa com os nove discípulos que foram deixados lá embaixo. Não se importa com a multidão no sopé, faminta de Deus. Não se importa em descer das regiões altas e voltar ao contato com pessoas "comuns" para, no tempo devido, compartilhar da glória que viu e ouviu.

Assim como Pedro, nossa espiritualidade também pode conter egoísmo. Sem dúvida temos boas intenções, mas ainda assim há egoísmo nelas. O mesmo monte que devemos subir devemos descer. Quando Jesus e os três o fazem, um homem desesperado vem ao seu encontro pedindo socorro pelo filho, doente e maltratado pelo maligno. Se o conselho de Pedro tivesse sido ouvido, pelo menos uma família continuaria escrava das trevas nas regiões inferiores. De igual modo, se continuarmos restringindo a revelação recebida da glória de Cristo a certos ambientes e momentos, limitando-a exclusivamente às cordilheiras espirituais, famílias inteiras localizadas na depressão continuarão sob o domínio do mal.

Irmãos, a verdadeira experiência com a glória de Cristo faz-nos buscar pessoas que devem e precisam ser iluminadas pela luz que vimos em Sua face. Não se trata de pedir que o Reino fique conosco no pico inatingível de um Everest de santidade, mas desejarmos descer para repartir com os famintos o Pão recebido! E à medida que caminhamos em direção aos que clamam nas sombras, uma apelo arde em nossos corações: "Venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu".

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mudanças de um peregrino


A vida cristã é uma vida de mudanças. Se você é resistente a elas provavelmente se descobrirá resistindo àquelas que o Senhor deseja operar em sua vida. Na jornada cristã mudamos de hábitos, damos adeus à amigos, mudamos de lugar, de fases e ideias. Mudamos porque crescemos, mesmo que isso às vezes doa. Mudamos porque fomos chamados para ser semelhantes a Jesus, e quando Ele nos chamou não éramos nada semelhantes a Ele.

Um cristão sempre está em mudança e de mudança. Em mudança porque está em processo de crescimento, aperfeiçoamento e conformação com a imagem gloriosa de Cristo. De mudança porque suas raízes não devem se apegar à coisas, objetos, assuntos, lugares e até mesmo à pessoas desta vida. Estamos de passagem. Mesmo que moremos a vida inteira na mesma casa estamos nos movendo, mesmo parados avançamos. Amizades e ruas que um dia serviram já não servem, hábitos que usamos já não caem bem e ideias que nos pareciam tão justas agora clamam por abandono, revelaram-se pequenas demais.

Muitas coisas que guardamos e colecionamos se mostram inúteis quando mudamos, seja de lugar, seja de mentalidade. Relíquias já não têm espaço e adaptações são exigidas. Objetos e artigos que acumulamos movidos por insegurança têm de ser removidos. Renúncias são necessárias pois sem elas não haverá espaço para o novo e o melhor. Mudanças nos ensinam que precisamos nos livrar de muitos pesos que têm pouca ou nenhuma utilidade. Temos de promover limpezas a fundo, reler conceitos e planos antigos e rasgá-los, pois já não condizem conosco.

Mudar é um processo doloroso, mas que nos educa a viver só com o necessário e o importante. Até alcançarmos a glória de nosso Senhor Jesus estaremos sempre nos mudando, sempre passíveis de mudar, sempre mudando e sendo mudados. Às vezes choramos porque nossas raízes se perdem, porque não conseguimos ser como os demais. Nessas horas, porém, receberemos uma consolação maravilhosa, pois Ele nos deixará ver que quanto menos raízes temos aqui, mais enraizados estamos no Deus cujo amor por nós jamais mudará!

E a garantia de que Suas mudanças em nós valem a pena é dada pelo mesmo Jesus que renunciou o céu e mudou-se para a terra, levando Sua cruz da antiga Jerusalém até o Calvário. É Ele, caros peregrinos, que nos convida a seguirmos Suas pegadas, porém na direção inversa, isto é: renunciarmos a terra e nos mudarmos para o céu, levando nossa cruz do Calvário até a Nova Jerusalém após Seus passos vitoriosos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Filho no meio!


Cuida dos meus pensamentos
Que cada um deles passe por Teu banho
Pertença ao Teu rebanho
E que em Ti se veja a diferença
Entre o maravilhoso e o tacanho

Minha língua é venenosa
Termômetro evoluído do encarvoado coração
Minha arma é venosa
Gatilhos pressionados pela alma
A cada farsa, falsa expressão

Sonda minhas ações
Pois até o bem faço com intenção sagaz:
Mesmo quando me quebras imagino
Que o fazes pois me queres acima dos demais!

Estes meus pensamentos, palavras e ações
Que julgo superiores são tão superpiores!
Cuida de mim! A luz da Tua Palavra
Me infiltra Teu pensar e
Me filtra, tudo que sou

Dá-me a contemplação do Filho
O vislumbre de Sua majestade
A esmigalhar e reconstruir minhas muitas metades
No silêncio real que habita no sagrado espanto...

E o anseio
De que a cada canto
Em cada centro e canto
Dentro de cada santo
O Filho brilhe no meio!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tristeza, Demora e Arrependimento


A tristeza decorrente de pecar pode ser benéfica ou não. É benéfica se for combustível para genuíno arrependimento, e maléfica se nos afastar de Deus devido a vergonha do pecado. Satanás explora a segunda possibilidade e nos acusa com força. Se pecamos, temos a tendência de "darmos um tempo" com Deus e nos afastamos, como se Ele tivesse feito algo de errado. No fundo ficamos envergonhados, sentimo-nos indignos de falar-lhe e de ler Sua Palavra (e somos mesmo). Consideramo-nos "sem moral" para nos aproximar, e por isso achamos melhor deixar "a poeira baixar", dar tempo para retomarmos o que quebramos.
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Contudo, é inútil esperar "a poeira baixar" para buscar a Deus! O tempo jamais apaga o pecado, cuja poeira nunca assentará diante do redemoinho da santidade do Senhor. A falta cometida há 10 anos ou há 10 minutos permanece igualmente horrível à vista divina, pelo que ignorar o próprio pecado cometido não faz sentido, é tristeza amarga que nos deixa afastados do Pai.
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Além disso, por que demoramos tanto em voltar à presença do Eterno, se nossa aceitação sempre veio do sangue de Jesus? Jamais - nem mesmo nos momentos de mais sublime espiritualidade - dependeu de mérito nosso! Pode ser que atrair Sua presença dependa de sensibilidade adquirida com vida de santificação; todavia, o acesso a essa presença foi conquistado por Cristo no Calvário. A "moral" vem exclusivamente do sangue da cruz, nunca de nós mesmos. Portanto, mesmo sentindo-nos e estando sujos de pecado, precisamos dobrar os joelhos o quanto antes e clamarmos pelo sangue que purifica. É exatamente por não sermos sequer dignos de abrir a Bíblia que precisamos urgentemente fazê-lo, pois são os sujos que precisam ser lavados, e só a verdade lava, e Sua Palavra é a verdade. Somente Cristo é o oxigênio essencial para nosso espírito ofegante.

O único beneficiado com nossa demora é o adversário. Se dois espadachins duelam entre si violentamente e a espada de um cai-lhe da mão, parece-nos claro que quanto mais o desarmado demorar para juntar sua arma, mais facilidade o outro terá de feri-lo novamente. Assim, amigos, juntemos depressa a espada que Ele nos concedeu, pois é com ela que venceremos. Mesmo tristes ou humilhados, corramos para o Senhor cuja presença não somos dignos - pois ali conhecemos a graça, como verdadeiros Mefibosetes na presença do Rei.
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Ah, Senhor!
Teus olhos são mirantes
Nos quais Te vejo
E me arrependo de
Não tê-lo feito antes!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

José e a Presença que liberta


Temos pouquíssima noção da glória de Deus, porque não valorizamos Sua presença em nossas vidas. Pouco nos custa entristecer o Espírito Santo, como se pudéssemos ter vida fora Dele. Enquanto trocarmos Sua presença por qualquer coisa, seus sonhos não se realizarão em nossas vidas.

Impressiona-me José do Egito. Vendido como escravo pelos irmãos, perdeu a presença da família, da terra natal e do carinho do pai; contudo, "Deus era com ele". Quando tentado pela mulher de Potifar, sabe que o pecado o fará perder a presença de Deus e por isso não hesita fugir da presença do pecado. Tudo isso tem-lhe um custo: expulso pelo patrão ingrato, José perde a perspectiva, a credibilidade, perde até sua liberdade - mas está decidido a não perder a presença de Deus.
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Durante todo o tempo que esteve no cárcere (e foram anos), "Deus era com ele". Quando alguém tem essa presença, não é influenciado pelos ambientes nos quais tem de viver, mas influencia-os, mesmo silenciosamente. E quando os prisioneiros ilustres têm sonhos perturbadores, José imediatamente percebe que estão tristes. Presença de Deus traz sensibilidade para com o próximo. Presença traz discernimento e coragem para revelar sem gaguejos o destino dos homens, seja agradável ou terrível.

Anos mais tarde, quando o moleque já tem 30 anos, barbudo e esquecido no calabouço, é chamado às pressas à presença de Faraó, mas não se intimida - afinal, está acostumado à uma presença infinitamente mais gloriosa. "Quem encontraremos como ele, em que está o Espírito de Deus?", surge a pergunta. Realmente, nosso mundo faminto sofre e geme, ausente e carente de pessoas cheias do Espírito, homens e mulheres que, custe o que custar, não abram mão da presença divina, e que por isso serão conduzidos à glória que lhes foi prometida e reservada, desde o tempo em que todos zombavam do sonho recebido.

O caminho, peregrinos, passa por vales tenebrosos, de sombra e morte. Todavia, a luz brilha vitoriosamente sobre as trevas quando a fé ouve o sussurro calmo e acalmante de Emanuel, que gentilmente nos segreda: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos". E não temeremos mal algum, porque Ele está conosco.

Mas... será mesmo que Ele está conosco? Temos valorizado Sua santa presença? O véu da separação já foi rasgado para termos acesso a Ele, rasgue-se hoje nossos corações para buscá-Lo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Teu abraço

"Jesus, tomando as crianças em seus braços, pôs as mãos sobre elas e as abençoou" (Mc 10.16).

É uma daquelas noites
Em que o Teu abraço
Seria chuva de verão sobre o futuro
Seria o melhor compasso
Para a canção que procuro
Seria um suave passo, talvez um cacho
De carinhos ditos em murmúrio

É uma daquelas noites
Em que o Teu abraço
Seria cores vivas a brilhar no escuro
Seria um bom pedaço
De pássaro a cantar no muro
Seria algo de aço
Neste frágil velho prematuro

Para falar a verdade, eu Te amo.

Eu Te amo com o amor
Das menores crianças
E com a fé dos marinheiros
E com o ciúme dos antigos amigos
E com a gratidão dos saciados
E com a força dos sobreviventes
E com o orgulho dos emigrantes
E com a humildade dos perdoados
E com a ousadia dos condenados
E com a inocência dos ingênuos
E com a confiança de uma avó
E com a saudade dos solitários!

E com a alegria de quem amor não merece
Hei de amar-Te,
Ó verdadeiro Deus que me abraça!
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Não há melhor bênção do que, como criança, ser abraçado pelos braços que por nós se abriram naquela cruz!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Travesseiro ou marco?


Mesmo fugindo de seus temores, Jacó, sem se dar conta, estava nos trilhos da vontade de Deus. Dirigia-se insconcientemente para o trabalhar de Deus em sua vida, quando decidiu apoiar a cabeça e adormecer sobre a firme pedra que encontrou, usando-a de travesseiro.

Muitas vezes, Deus põe em nosso caminho pedras para delas lhe fazermos marcos de adoração. No entanto, quando encontramos a "pedra ideal" que parece combinar perfeitamente conosco, nós a usamos para benefício próprio. Afinal, ela nos dá alguma solidez e relativa segurança; e sobre seu conforto possível, adormecemos profundamente.

Amigos, nós também estagnamos e adormecemos sobre coisas terrenas que nos dão segurança. Deus não plantou pedras no caminho para tropeçarmos nelas, tampouco para serem travesseiros que nos lançam em profunda inércia com relação à vontade do Pai. Mas a menos que recebamos revelação da soberania e da presença de Deus, continuaremos dormindo no que deveríamos lhe dedicar em adoração e sinal de gratidão.

Jacó tem então o sonho revelador e surpreendente de que a presença de Deus está naquele terreno ermo e pedregoso. Imediatamente desperta, pois sonho que vem do céu nos faz despertar. Ao levantar-se, toma a pedra e faz dela marco da experiência e da revelação recebidas. Desse dia em diante, o nome do lugar deixa de ser Luz para ser Casa de Deus. O peregrino derrama azeite sobre a pedra em sinal de adoração, e segue caminho.

O que fazemos com o que Deus nos dá é bastante importante na caminhada. Cuidado com áreas em que você sente o chão mais firme, pois talvez seja ali que fique estirado. Glorifique a Deus onde se sente mais seguro, dedique isso a Ele, e não permita seu coração se agarrar a isso, sob o risco de ficar sonolento.

Deus, cheio de misericórdia, se revela e nos ensina que não há pedra - boa ou má, encontrada ou recebida a tiros - que Ele não inspire a se tornar maravilhoso marco espiritual. E então, à semelhança de Jacó, nos surpreendemos com a presença divina em nossa alma, esse terreno tão ermo e pedregoso. Nesse mesmo dia, nosso coração deixa de ser lugar com alguma clareza e torna-se verdadeiramente a casa de Deus.

E quando isso acontece, amigos, estamos prontos para seguir o seu Caminho para nós.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O amparo no grito de desamparo


"O começo da fé é o fim da ansiedade. O fim da fé é o começo da ansiedade" (Jorge Müller)

Ah, minha alma! Por que pensas que Deus te abandonou? Por que choras como se teu Deus não fosse capaz de ressuscitar mortos ou de mudar o curso da história em um só dia? A ansiedade te embriagou de angústias e espancou tua esperança. E assim te vês, sem vigor e envelhecida, não por viveres há muitos dias - mas porque vives muitos dias em um só!

Por que tantos suspiros? Por que crês nas piores projeções que a mente sugere? Sangras por golpes que não sofreste, e quando de fato és golpeada buscas curativos em muitos hospitais, todos falsos, mas pouco socorro no Bálsamo divino. Regas com lágrimas de desespero o que acabaste de plantar por tal ainda não haver brotado! O futuro que nem nasceu te ofende, e o passado que morreu empalhaste e amarraste a ti, levando-o por onde vais qual fardo abominável.

Ah, minha alma! Olha hoje para a cruz de teu Senhor. Observa as feridas que foram abertas para curarem as tuas! Escuta o grito do Cristo desamparado! Sabes por que gritou? Não foi por ter sido surpreendido, mas para que tu soubesses que o tamanho do desamparo que Ele sofreu é o tamanho do amparo que existe para ti! Uma mãe pode esquecer-se do filho que mama, mas o Senhor jamais se esquecerá de ti!
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Vês o desespero que sente pela ausência do Pai, ao carregar nossos pecados? É essa a intensidade com que podes alegrar-te, pois Ele veio para dizer que seu nome é Emanuel, o Deus conosco que enche de paz nossos vales de sombra e morte! Vês os grandes pregos que atravessam Suas mãos no madeiro? Mais profundamente que eles, és tu que Ele tem gravado nelas!

Sim, contempla a cruz vazia, o sangue ainda fresco, sempre abundante e suficiente. O justo viverá pela fé, a fé de que o Caminho não vai errar a Si mesmo e nos perder! Ele é o mapa que falta no nosso! E podes confiar que Aquele que formou as pernas de teu espírito e as fortalece sabe muito bem por onde e até onde elas podem caminhar!

"O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não tenhas medo, nem desanimes" Dt 31.8