domingo, 29 de novembro de 2009

A Pequena Ponte

Um peregrino ia caminhando tranquilamente quando avistou um lugar de repouso, situado do outro lado de um obstáculo: um caudaloso curso de águas, belo mas traiçoeiro. Felizmente, notou que havia uma pequena ponte ali posta.

A ponte não era charmosa ou cheia de luzes, nem vistosa e atraente como as que costumam ser fotografadas e admiradas. Ela era simples, muito simples. Não tinha várias pistas ou sinalizações coloridas, tampouco era extensa. Pode-se dizer que era apenas firme, e levava ao outro lado. Do outro lado sim, estava a verdadeira beleza - não na ponte em si. O outro lado era o lugar de repouso e o abrigo acolhedor. E essa visão acelerou os passos do peregrino, fazendo-o cruzar a ponte com passos decididos, e ir ao lugar desejado.

Todavia, ao cruzá-la de repente ele descobriu-se envolto por uma presença gloriosa, cheia de poder e majestade, e deteve o passo. Pôde então ouvir a voz suave a lhe dizer: "Filho, o único Caminho que traz a mim tem várias pontes assim. Pontes que dificilmente são notadas. Sabe, filho, não é nada fácil ser uma ponte que faz com que outros permaneçam no Caminho. Para uma ponte, a firmeza pouco notada de sua estrutura é muito mais importante que sua beleza, pois a firmeza é que inspira confiança. Quando pisadas pelos que passam, elas não reclamam nem fazem grande barulho, pois quanto mais firmes são, menos rangem em protesto. Elas entendem que não estão ali aguardando a retribuição daqueles que as cruzam. E depois de pisadas, ainda veem os outros indo além e chegando a lugares que elas mesmas gostariam de estar. Outros se movimentam e progridem, mas elas continuam paradas e geralmente são esquecidas pelos que através delas alcançaram o que precisavam.

Filho, sei que apesar dessas dificuldades você gostaria de ser uma ponte assim, mas sabe que não tem estrutura suficiente para suportar o peso de conduzir vidas ao meu Caminho, e de aproximá-las de meu repouso. Não é fácil se prostrar e se pôr entre os que lhe pisam de um lado, enquanto do outro suporta a pressão das águas turbulentas e perigosas. Mas Eu lhe ofereço o mais poderoso dos pilares, através do qual poderá suportar pressões e pisaduras de todos os tipos, e mesmo assim ser feliz e realizado, cumprindo sua nobre missão com sabedoria e paz.

Eu lhe ofereço as colunas de meu amor. Sim, sei que seu amor humano é fraco e débil, pois espera ser reconhecido e exige devolução. Mas meu amor é completo e perfeito, é mais forte do que as muitas águas, mais firme do que as pisadas, mais imutável do que o tempo, e mais gratificante do que qualquer passo que suas próprias pernas possam dar.

Filho, ser ponte é andar em amor sem ter pernas, é morrer para que outros vivam. É descobrir no silêncio que mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.

É ser um com o Caminho... e se encher de alegria, ao ver que isso basta!"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tu me quebraste


Tu me quebraste e de repente
Eu, antigo e orgulhoso resistente,
Me vi enguiçado, enredado, emaranhado
Em labirintos que tanto temi
Desesperadamente ansioso e lento
Preocupadamente inválido e violento
Um pedaço de pó, deitado e amarrado
No caminho do vento

Tu me quebraste e de repente
Eu, que sempre me julguei livre,
Me vi manipulado, maltratado e atado
Por cordas calhordas que em vão roí
Alucinadamente detetive
Uma múmia que acha que vive
Vendo se enferrujarem os troféus de latão
Que na verdade eu nunca tive

Tu me quebraste e de repente
Eu, outrora espetacular
Me senti irado, errado, velado e revirado
No vale das interrogações sem ar
Incessantemente sempre a procurar
Interiormente sem me curar
Um cansado viajante que ao fim do percurso
Avista só as cinzas de seu lar

Tu me quebraste!
Mas aos poucos
Renasceu-me a infância
Na alma que honestamente chora
De alegria que irradia Teu amor

Porque Tu me quebraste, Senhor –
Mas não me jogaste fora!



Se você sente que Deus o tem quebrado nestes dias, não fique triste! Seu estado atual não é o definitivo. O bondoso Oleiro tem pensamentos de paz a seu respeito, para lhe dar um fim que, se pudesse imaginar, hoje mesmo você começaria a sorrir. Somente filhos são corrigidos pelo pai. Lembre-se disto: se Ele está nos quebrando é única e exclusivamente porque não desistiu de nós, e continua decidido a completar em nossas vidas a Sua boa obra, que é fazer-nos semelhantes ao Vaso transbordante, o amado Jesus!

sábado, 21 de novembro de 2009

João, a Verdade e os Gafanhotos


A história de João Batista tem colidido comigo nestes dias. Através dela vejo que Deus deseja homens simples, amantes da verdade e apaixonados por prepararem o caminho para o aparecimento de Cristo. Nosso Senhor quer homens e mulheres que entendam que é no deserto que ouvimos o chamado e a Voz que nos faz clamar. Pessoas que nasceram e que vivem para apontar e mostrar quem é o Cordeiro de Deus; e que não desejam seguidores ou números, mas encaminham discípulos para o Mestre Jesus, entendendo que importa que Ele cresça e eu diminua - o que não é fácil, mas necessário!

Estes são os amigos leais, que protegem, zelam e embelezam a Noiva para o Noivo Jesus. Que não negociam diplomaticamente com a hipocrisia religiosa, e tampouco temem as consequências de denunciar e confrontar o mundo e suas autoridades por sua podridão espiritual e decadência moral, social e ética. Semeiam sempre no chão mais duro, e a maioria terá o privilégio de, no máximo, ouvir falar acerca dos maravilhosos frutos que seus olhos jamais verão nesta vida. E se em algum momento sentem-se abandonados e com dúvidas a assaltá-los, não hesitam em enviar a Jesus um grito de socorro, que no fundo jorra de uma fé franca e sincera.

Deus quer pessoas que amem a verdade acima da vida, e que digam às multidões o que estas realmente são, para que assim entendam que sua real necessidade é arrependimento. Homens assim não são bem-vindos nas festas mundanas porque amam perdidamente o Senhor que os achou, a ponto de perderem a cabeça por amor a Ele!

Estes são os que depois de mortos serão lembrados pelos que os conheceram em vida, não por terem sido bons em retórica ou por terem se vestido com roupas caras; não porque se hospedaram em palácios ou por terem comido nos melhores restaurantes - mas simplesmente porque foram o brado no deserto, e com suas vidas pavimentaram o Reino de Deus através do mundo! Pelo que obterão da boca do Mestre o público reconhecimento da maioridade, somente alcançado pelos que alcançam a sublime graça de serem nada, nada além do que um simples caniço no deserto, agitado pelo vento do Espírito, o Vento que nos verga e que ao passar por nós faz-nos ter voz!
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Embaixadores como João são escolados no deserto; não temem os gafanhotos devoradores que causam estrago e prejuízo, pois, na verdade, gafanhotos são o seu lanchinho diário, comidos com o mel da Palavra.

Tudo isso me confronta. No dia em que o carrasco entrou naquela cela escaldante, para executar o prisioneiro mais livre e temido do cárcere, João perdeu a cabeça mas não perdeu a Verdade. Ele fez sua parte, sendo o último representante de sua dispensação... e assim também somos, chamados para ser os últimos de nosso tempo!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Um Passo


Me pediste um passo,
Muitos eu quis dar.
Desequilibrei-me
Descalibrei-me
Desencadeei-me em ansiedades
Cidades esquematizadas no pensamento alado
Que tudo foca mas que de tudo passa ao lado
Que tudo toca no desejo da mansão
Que na verdade é pobre oca
E vidas, que na realidade nunca foram ou serão

Me pediste um passo, um somente
Mas num lampejo de sabedoria falsificada
Eu deduzi todos os Teus intentos
Eu reduzi todos os Teus inventos
À percepção de meu cérebro que
Na decepção de quem peneira os ventos
Mergulhou-me
Resultado que nem um pouco
Orgulhou-me

Me pediste um passo, apenas um
E fiquei cansado por ser apenas um
Inquieto por ser apenas um – e não dois,
Tu e estas pequenas obediências
Que grandemente Te agradam

Não me deixarás entre o zero e o segundo
Mas segundo o Teu querer e o tempo de Teu efetuar
Voltarás a docemente me pedir novo passinho
Um que me faça ir para mais perto de Jesus

E então, nesse momento determinado e sublime
Meus ouvidos e pernas conhecerão
Tua mansa vontade soprando
Calorosamente e cochichando:

Filho, dê mais um passo – somente um...
Um de cada vez.
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Não é somente a direção que tem importância em nossa jornada cristã. O momento para cada passo, seu tamanho, sua hora e a forma de pisar - em tudo dependemos do Pai amado. Haverá horas em que você perceberá que boas intenções não lhe darão o poder de dar um passo além. Na verdade, andar ao ritmo de Deus não é fácil porque Ele é eterno, enquanto eu vivo sob este relógio, cujas agulhas muito me alfinetam. Mas são as agulhas do relógio de Sua vontade as usadas para tecer as finas roupagens com as quais festejarei meu Jesus eternamente.
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Meu bom Mestre, ensina-me isto! Vem viver Tua vida nesta minha! Vem querer em meu querer, e crescer em meu sumir, e falar em meu calar! Vem vencer em meu perder...
Sim, ensina aos Teus ansiosos que esperar por Teu mover é não perder precioso tempo! E quanto mais ando Contigo mais aprendo, e quanto mais aprendo mais aperto em Tuas mãos, firmes e trespassadas!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Decisões Verticais


O terror de uma encruzilhada
Tem sua fonte e sua raiz
Na possibilidade da cicatriz
Na decepção de uma cilada
De a vida ser só uma atriz
Ou de a alma se ver mutilada
Na ilusão de ser um ser feliz

O terror de um labirinto
Provém daquela correnteza
Que traz espelhos sem beleza
Nos quais me vejo e sinto
Falta de asas de realeza
Que me elevem sobre seus
Corredores, dores que pinto
Nas telas da incerteza

A experiência, a ciência
Até a sabedoria, sendo filha
Perderam a fala, puseram a pala
E não enxergam digna resposta
Para olhos que em contraproposta
Buscam a praia, o porto, a costa

Acabaram-se as rimas
A esperança, os ímãs
E até as enzimas
Produzem mutantes
E preocupantes estigmas
Na multiplicação absurda
Dos antigos enigmas

Socorro, Deus!
Rujo
E no entanto
Para meu espanto
Fujo – só corro, Deus!

Caro peregrino,
Aquele que leva sua cruz após Cristo verá que esta cruz o levará a várias encruzilhadas. Ao longo do Caminho, decisões importantes terão de ser tomadas sobre o rumo a seguir, e algumas delas serão sérias e até mesmo irreversíveis. Não tenho aqui a pretensão de lhe dizer o lado para o qual deve ir, mas quero alertar para que cuide com as placas e suas informações atraentes. Ló se encantou com a visão das verdejantes campinas do Jordão, mas acabou aflito em meio ao pecado em Sodoma. Abraão ergueu os olhos da fé, subiu as montanhas e habitou prosperamente em Hebrom, cujo nome significa "comunhão".
Bem, independente da quantidade de direções possíveis diante de si, se olhar com um pouco de atenção poderá ver, bem no centro das placas, a flecha que aponta para o alto, para a vida de maior comunhão e intimidade com Deus, cujo Espírito nos guia a toda verdade!

Se olharmos primeiro para o alto e buscarmos comunhão com Deus, jamais teremos medo ou ficaremos confusos diante de alguma encruzilhada. Lembre-se de que nosso Mestre já passou por ali antes de nós; e Ele nos garante que a comunhão nos fará enxergar Suas pegadas, sobre as quais poremos nossos pés com paz e muita firmeza.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Problema da Máscara


O problema da máscara é que o mesmo objeto que possibilita alcançarmos o que desejamos, também nos isola de sermos tocados ou satisfeitos por tais coisas. Se sua máscara faz com que alguém lhe dê carinho, ela também o impede de verdadeiramente senti-lo, pois tal afeto nunca será capaz de atravessar a superfície impermeável de sua máscara!

Mesmo não sabendo explicar, sentimos os efeitos colaterais dessa falta de amor sincero, e por isso nos desesperamos na tentativa de arrancar as máscaras. Muitos, porém, têm tanto medo de ter sofrimento ainda maior caso a removam, que logo desistem e se conformam a viver lacrados em seus sepulcros belos, florais e mascarados. Sabem que é terrível viver com a máscara, e sabem que jamais descobrirão o que é amor a menos que a arranquem – mas ao mesmo tempo, sabem que não haverá quem as ame caso possam arrancá-las e mostrar ao mundo o que sinceramente são.

Assim como Jacó, em seu íntimo sabem que só têm alguma benção porque fizeram e fazem de conta que são outra pessoa, e que desde a infância ou desde há muitos anos têm mentido constantemente a seu próprio favor. Todavia, em rota de colisão com o que almejaram ser, agora estão no vale e lutam durante toda a madrugada contra Alguém que lhes quer arrancar a máscara; Alguém que quer que lhe confessemos qual é o nosso verdadeiro nome, nossa real identidade, nossa condição, nosso falso caráter e o quanto somos enganadores.
Deus sabe quem somos, Ele nos vê assentados debaixo de nossa figueira como viu a Natanael! Quer arrancar a máscara da face de Jacó não para expô-lo ao ridículo e desprezá-lo – não, Ele sabe quem somos, foi o único que sempre o soube! Exige confissão não para nos amaldiçoar, mas, pelo contrário, para nos abençoar como fez com Jacó! Tem um novo nome para nos dar, mas para isso temos que denunciar nossa velha identidade, pois ao confessarmos as máscaras caem!

Será inútil buscar amor em outra fonte. Você pode mergulhar em muitos relacionamentos e atividades, mas ainda assim sua máscara sempre será um submarino, que o fará estar submerso sem contudo se molhar! Cristo é o único que irá amá-lo mesmo que você esteja de rosto lavado, livre das maquiagens da vida.
Talvez você esteja com medo de tirar sua máscara. Talvez acredite que se ela cair seu sofrimento será maior do que tem sido. Quero lhe desafiar a ser amado por Deus, a máscara tem feito separação entre Ele e você. Não sei se você não quer tirar a máscara por medo, ou se gostaria de tirá-la mas simplesmente não tem forças, uma vez que hoje ela está demasiada cravada sobre sua identidade. Seja como for, peça coragem a Deus para ficar nu diante Dele, na fé de que será coberto e vestido com Seu amor.
Eu e você já temos nos escondido tempo demais sob a figueira e suas folhas, já temos gasto demasiado tempo compensando nossa solidão secreta com coisas que, no fundo, nunca nos atingem ou nos tocam. Jacó não poderá ser Israel a menos que confesse que é Jacó! Até lá continuará fugindo, sempre fingindo para si e para outros que é Esaú.
Deus, porém, luta conosco para arrancar nossa máscara, beijar curativamente estas feridas e nos declarar no poder de Sua soberania invencível:
“Amei Jacó e aborreci Esaú”!