segunda-feira, 26 de julho de 2010

A simplicidade e o poder

"Eu temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo Jesus" (2 Coríntios 11.3)

Pai Bendito,
Aproximo-me de ti e descubro que Jesus Cristo é simples, seu evangelho é simples, e que o complicado sou eu. Leio a Bíblia e vejo que a tua vontade para nós homens é maravilhosa e perfeitamente simples - o difícil é abrirmos mão de nossas próprias vontades e nos submetermos (com dor e lágrimas) a desfrutar da honra que é te servir. Contudo, perto de ti as minhas ansiedades perdem a voz e meus medos a razão de existirem. Junto de ti a multidão miscigenada e infindável dos meus planos, sentimentos e feridas vai se dispersando, pouco a pouco, até restar somente em mim aquilo que tem prazer em se parecer Contigo.

O convite que nos fazes também é simples: "Segue-me". E mesmo assim nós o consideramos duro demais, pois nosso coração está viciado e acorrentado aos sabores e valores ilusórios deste mundo teatral. Semeamos e regamos plantas carnívoras que mais tarde nos mutilarão a alma - e mesmo assim achamos complicado aceitar o Teu convite, cheio de compaixão, de agarrarmos as Tuas mãos cicatrizadas e sairmos juntos destes labirintos miseráveis! Ah, Pai nosso, Deus tão simples apesar da infinita sabedoria e grandeza! Perdoa a nossa confusão e dificuldade, apesar de nossa infinita pequeneza!

A obediência que requeres de nós também é simples, pois é para a doação, a conservação e a salvação da vida: "Não coma disto pois do contrário morrerá", esta é a ordem simples e clara do Pai amoroso. Mas nossa cobiça leva-nos a ouvir o Tentador, e logo a ordem já não é tão bondosa quanto parecia. Desconfiamos da simplicidade do amor de Deus, com medo de sermos marionetes e sem percebermos que esse medo é que nos faz fantoches do maligno. Então mordemos o fruto, e ao fazê-lo mordemos e cuspimos para longe de nós a paz da vida eterna. E agora sim, tudo tornou-se obscuro e complexo, do modo como temíamos que fosse antes - mas que agora vemos que não era!

Mas foi aí que Tu desceste, Senhor, para enfrentar e triunfar sobre a complexa insolvência dos pecados nos quais me emaranhei. Tu és o Deus que entraste na dificuldade da limitação e da dor humana, fazendo-te um de nós e levando à destruição da cruz os espinhos e terrores que eu havia escolhido para mim. E isso sim, não foi nada simples! Foi sangrento, foi brutal, foi demorado! Foi a pressão e a vergonha que eu merecia mas que eu jamais suportaria! Voltaste a hastear a bandeira do teu amor no topo do mastro da tua justiça, mas a corda tensionada que içou a bela flâmula da vitória foi a tua própria carne, desprezada, massacrada e sacrificada, sem gemidos ou protestos. Entraste, pelo pior e mais difícil de todos os caminhos, na morte que nos devolve a vida, e isso não foi simples! Não obstante, apesar da complexidade das engrenagens da cruz onde esmagaste a nossa condenação, tu nos ofereces (simplesmente) o teu perdão! Simplesmente perdão a todos os que crêem e confessam a ti, Jesus, e que se tornam simples como uma criança!

Quando medito no esplendor desta realidade, a luz de Tua face revela como estou longe da simplicidade que há em Cristo Jesus. Nós, criaturas tuas, invertemos tua sabedoria e por isso achamos que quanto maior a posição de um homem, menos simples isso o torna, menos acessível ele se faz, mais difíceis são suas exigências, sua satisfação e sua gratidão. E quanto maior um homem acha que é, mais longe está da Tua grandeza! Esse homem abre a Bíblia e tudo lhe parece absurdo, pois em sua mente é impossível que tudo seja tão simples como ali consta, sem compreender que é por ser infinito o Teu poder que tudo é simples para Ti! Tu não precisas responder às leis da tua criação, mas pelo contrário, são elas que respondem e se encurvam a Ti, Criador nosso! Sim, a medida da tua simplicidade é a medida do teu poder - pois para quem tudo pode, tudo é simples!

Ah, Pai santo! Enche-nos com Teu Espírito de poder e simplicidade! Produz em nós essa humildade tranquila, essa simplicidade segura, essa paixão que aquieta e contenta - e essa infância sábia e madura! Simplifica as nossas vidas, pois isso não é simples para nós... mas os teus filhos acreditam e esperam no Teu poder! Em nome de Jesus, amém.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A dependência e a glória


Filho, sei que temes as dificuldades do caminho e lamentas teres sido levado a esta situação em que dependes de mim. Sei que temes que eu largue tuas pequenas mãos, enquanto percebes as coisas girando à tua volta naquilo que chamas de caos. Sei também que preferirias teus pés bem firmados no chão, e as situações bem fixas sob o teu olhar. Mas não é isso que tenho para ti - pois eu sou como o redemoinho, filho! Um dia Jó e Elias poderão lhe dar mais detalhes do que lhe digo. Eu movo as coisas de seus lugares, faço tremer o deserto e tiro o que está embaixo para lança-lo para o alto. Tu és o meu amado, e quando seguro tuas mãos e te rodopio é para fazer-te sentir a alegria de dependeres de mim, enquanto olhas a minha face! Portanto, não chores, menino de minhas delícias!

Veja! A arca que te salva do juízo não é o teu cárcere, não a olhes desse modo! Tampouco se desespere, antes, saiba que a tua infertilidade e incapacidade de alcançares certas promessas são na verdade o meu convite para olharmos juntos as estrelas do céu... não foi assim com meu amigo Abraão? Aquieta o teu coração! Não te levei à praia do Mar Vermelho para aí aniquilar-te. Tenho planos gloriosos, como sempre tive com aqueles cujo coração se dispõem a depender de mim. Aqueles que realmente contemplaram a minha glória sempre foram os que aprenderam a depender de mim. E tu sabes e sentes em teu íntimo que nasceste para a minha glória! Contudo, a profundidade da glória é a profundidade da dependência de minha graça, pois não me glorifica a pessoa que depende (ou imagina depender) de seus próprios méritos, habilidades ou justiça para livrar-se.

Mas hoje tu dependes e temes, pois teus pés não estão mais firmes como antes. Ah, filho, olha para mim e devolve-me o sorriso que te dou, pois te tomo pelas mãos e não te abandonarei! Confia em mim e jamais voltarás a preferir que teus pés estejam firmados à terra ou coisa alguma! Então verás que sempre quis o teu bem, e que depender de mim é o meu modo de pôr em teu coração o meu sorriso, filho... e minha alegria em tua santa despreocupação!