Se Deus é Deus, por que sofremos? Não temos todas as respostas, mas é através das aflições que experimentamos o sabor da superação, a textura da resistência, e o poder de nos levantarmos e caminharmos sobre todas as poeiras de nossas ruínas. O Senhor poderia vencer sozinho, mas, se assim fosse, nós não o glorificaríamos como Ele é digno, pois não teríamos a menor noção do sofrimento que há em Sua glória. Deus não é dono de um supermercado, é antes um agricultor. E a fruta tem outro gosto quando regada com nossas lágrimas, ela é mais doce, ela produz cura. A eternidade vai ter mais sabor se sofremos como Ele, se choramos para Ele – vai ter o doce suco eterno de mil alegrias!
Algumas vezes sofremos porque perdemos coisas e pessoas queridas,
tiradas de nós cruelmente pela vida; o sofrimento, porém, antecipa certas percepções
que de outro modo só teríamos mais tarde, na eternidade. E a percepção de que o
nosso Pai celeste é mais do que tudo o que perdidamente amamos, é o maior de
todos os achados. O sofrimento nos ensina isso: que a presença do Deus que ama
é mais forte do que a ausência de cada coisa, ou de alguém em especial. Sofremos
sim, e quando sofremos nós O amamos melhor, porque o sofrimento é a fresta pela
qual vislumbramos a grandiosidade do Seu amor sofredor.
Outras vezes o sofrimento é produzido pelas injustiças do
mundo. Somos roubados, somos incompreendidos, somos agredidos, somos usados e
descartados, inocentes porém culpados, ricos do que vale a pena, mas vezes sem
conta ultrajados e jogados na sarjeta da sociedade pelos pecados deste mundo
orgulhoso. Contudo, não devemos pensar que tudo é inútil, pois o segredo deixa
de ser segredo, e descobrimos que o sofrimento é a velha carruagem que traz até nós a majestosa e humilde presença do Consolador. É através das lentes da dor que santos
de todos os tempos, inclusive nós (tão cheios de falhas), tivemos e temos nossa
miopia corrigida; e enxergamos de repente a face sorridente de Emanuel, o Deus
conosco.
Sofremos porque somos imperfeitos, e quando admitimos nossa
imperfeição em meio ao sofrimento, enxergamos melhor quem é O Perfeito que por
nós escolheu sofrer. Se não sofrêssemos, isto é, se a dor não cavasse tão duro
dentro de nosso peito, a Sua graça não seria tão profunda em nós. Por isso,
estão ordenadas aflições a nosso respeito. Ele nos ama de tal modo, excelente e
misterioso, que quer que andemos em Seu trilho; e isso não deveria nos causar estranheza.
Se estamos indo para a mesma alegria Dele, é somente por amor que Ele nos pôs nas
mesmas pegadas sangrentas de Seu Filho.