quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lições do Ano Velho ao Novo


"Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite revela sabedoria a outra noite" (Sl 19.2)

Se eu pudesse recomeçar este ano teria sofrido bem menos com ansiedade, teria confiado mais em Deus. Aproveitaria melhor o tempo e teria reclamado e me irritado menos com coisas inúteis. Teria saboreado melhor algumas ocasiões e palavras, e descartado outras sem hesitação. Mas, principalmente, amaria melhor a Deus e procuraria aprender mais, tanto nos momentos ensolarados como nas horas escuras.

Mesmo não podendo voltar ao passado, ao ler a Bíblia sinto-me consolado ao ver que o cristianismo é a reconciliação final do homem com um de seus maiores inimigos: o tempo. Não precisamos mais sofrer sua lenta passagem nos momentos maus, nem temer sua velocidade a caminho do poente da vida. É claro que ele continuará sendo áspero conosco; ainda assim, seu propósito final é diferente com o cristão. Pois ainda que envelheçamos com sua passagem, o tempo será, em última instância, o cocheiro que nos levará gratuitamente à eternidade, onde estaremos para sempre com o amado Jesus - o que é muito melhor. Embora tente desgastar e separar cristãos que se amam, o tempo acabará arremessando-os para os braços do Amor Eterno, superior a tudo que podem provar dentro das fronteiras temporais. E isso se Jesus não voltar antes.

Mas... que fazer enquanto isso não chega? Como não sofrer com a aparente inutilidade e crueldade da espera e da soma cáustica de dias vividos sem conquistas desejáveis? O tempo foi-nos dado como professor, e cada dia e noite é a nova disciplina desse curso. Deus tem prazer em ver Sua sabedoria amadurecida em seus filhos, porém, quando eu estiver agoniado, lembre-me de que tal maturação demanda tempo. Deus nos manda sabedoria por mão de dias maus e bons, de horas alegres e de noites vazias. E não importa quão terrível seja o dia ou a noite, haverá sempre lições para a vida eterna sendo-nos oferecidas neles.

Portanto, o ciclo da verdadeira vida é mais veloz do que imaginamos. Um dia discursa ao dia seguinte, e uma noite descortina sabedoria à próxima. Semelhantemente, um ano idoso ensina ao que está nascendo um jeito mais sábio de caminhar.

Amigo, em algumas horas nosso envelhecido 2009 morrerá. Que bom aprendizado você gostaria que o ano prestes a nascer recebesse dele? Meu voto é que aproveitemos bem esse novo e maravilhoso presente, composto de 365 chances de adquirirmos sabedoria, a fim de termos prazer em Deus, de curtirmos a vida e de extrairmos dos anos - velhos e novos - o sumo com que brindaremos juntos ao Pai da Eternidade!

Ah, peregrinos... e que boas festas teremos lá!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Asas como Águia


"Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias..." (Is 40.31)

No último janeiro acreditavámos que muitas coisas aconteceriam neste ano, que promessas seriam alcançadas e realizações cumpridas. O ano parecia tão longo, tão cheio de possibilidades! Mas então, abriram a torneira das semanas e elas se esparramaram copiosamente, em uma sucessão de acontecimentos que foram se sobrepondo sem interrupção. Agora, que chegamos às últimas semana de dezembro, talvez o que mais esteja latejando em sua memória seja aquilo que não aconteceu, e por isso não está lá. É o que você esperou por dias, semanas e meses, sem contudo ter vivido. Hoje olha para trás e vê que quando já não aguentava mais esperar, não tinha ideia de como ainda estava longe, muito longe de seu limite.
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Há muitas razões que podem tornar o clima de fim de ano estranhamente melancólico. Lembranças de tempos idos, a imaginação do que poderia ter acontecido (mas não aconteceu) ou mesmo a aspiração por uma vida diferente, nos fazem ver que conforme as folhas do calendário caíam, caíam com elas as penas das asas de nossos sonhos, sem que eles tivessem ao menos alçado voo.

Assim, como é possível afirmar que esperar no Senhor renova nossas forças e nos faz subir com asas como as da águia? Na bíblia o verbo hebraico chalaph é traduzido 2 vezes por "renovar", mas 10 vezes por "mudar, trocar, substituir", como trocar de roupas, por exemplo. Bem, ninguém tem esperança sem confiar e acreditar, e se você acredita em Deus, se realmente confia nele, não espere que isso dará penas novas para suas asas - não! Na verdade isso trocará suas forças e asas por outras muito mais poderosas que as suas, tão enfraquecidas e atrofiadas pela espera. A fé é uma espera ascencional, é a substituição de nossas forças pelas Suas; a troca desta plumagem desgastada pelas asas divinas que nos fazem emergir acima da atmosfera da ansiedade e da desesperança.

Ah, Senhor! Não importa se somos jovens cheios de vigor... no fim de mais um ano perguntas e probabilidades cruzam nossa mente e tentam entristecer os olhos, mesmo em meio às multidões e suas sacolas natalinas. Mas ensina-nos a esperar em Ti! Muda nossas asas pelas Tuas e eleva-nos acima dos calendários e suas ameaças, até que tenhamos a perspectiva da eternidade, que quanto mais nos eleva mais detalhe nos dá. Vale à pena perder minhas penas sem sentir pena, para viver cada vez mais e apenas nas regiões celestiais - neste e no ano que vem!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Meus pés em suas mãos


"Corram de tal modo que alcancem o prêmio" (1 Co 9.24)

Era um corredor possante e veloz, que com a alegria do sonho realizado corria sob os aplausos do estádio. Seu desejo era cruzar a linha de chegada, conquistar o prêmio e deixar sua marca na história. Na tentativa de superar seu desempenho, a pressão que impusera a si mesmo fê-lo contrair grave lesão nos pés.

Desde esse dia, o tempo, que costumava passar tão rapidamente, começou a arrastar-se. Aos poucos, o atleta parado foi parando de acreditar em sua vocação. Quanto mais olhava de seu anonimato para os que competiam, mais inferior se sentia, mais pesado se descobria, menos capaz se tornava. Pensava que se voltasse às pistas traria só decepção a todos, e sua permanência seria breve e lastimável. Às vezes recordava as vitórias do passado, mas logo o sorriso ficava opaco e o coração se recolhia, ressentido.

Apesar de tudo, alguém continuava acreditando nele. O experiente fisioterapeuta olhou para seus pés e disse-lhe haver esperança, contanto que aceitasse passar pela sala de recuperação. Animado, o atleta concordou de imediato, mas cedo percebeu como era difícil estar ali!

A sala de recuperação é onde você descobre toda a sua fraqueza, para então revesti-la de uma força que retorna aos poucos. Longe da pista, isto é, sem ter o sonho à vista de seus olhos, você é submetido a uma série repetitiva e quase interminável de atividades sem sentido e resultado imediatos, e que não parecem ter relação alguma com o objetivo inicial que o trouxe ali. No tratamento você é como uma criança fraca e insegura, e sente medo de nunca voltar a ser o que já foi. Além disso, terá de andar de um lado para outro, mesmo que não haja nada o esperando do outro lado - pois o objetivo não é o destino, mas fortalecer seus passos.

Depois de algum tempo, vai chegar o momento em que você terá certeza de que está apto para sair dali. Nessa hora se sentirá impaciente e até frustrado ao ouvir o fisioterapeuta lhe dizer para esperar. Procure manter a calma, afinal ele conhece melhor sua estrutura, sua condição e seus limites do que você mesmo. Quando suas mãos sábias seguram seus pés, ele vê o que olhos comuns não enxergam. Confie nele, pois desobedecer o tempo que estabeleceu não apenas vai anular os resultados como também pode agravar a lesão. Você terá de voltar pouco a pouco, tenha consigo a mesma paciência que ele sempre teve com você.

Lembre-se: ele não o está preparando para ser mais um corredor comum no meio da multidão, ou para vencer uma só corrida. Muitas serão as provas até o fim de sua carreira e você foi chamado para corrê-las de tal modo que alcance o prêmio. Quando entender isso descobrirá que pode haver alegria mesmo nas horas mais difíceis da recuperação.

Não fuja desse momento. Você queria marcar a história, então deixe-o marcar a sua. A garantia que ele nos dá é impressionante, pois sofreu em seu próprio corpo as piores feridas, sem ser culpado por nenhuma delas - no entanto, jamais houve vencedor como Ele...

Deixe-o levá-lo onde for necessário... e ponha seus pés nas mãos de Jesus, nossa cura e grande prêmio!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Lamentável Desperdício


Ó Israel, se tão-somente me ouvisses! [...] Mas o meu povo não quis ouvir a minha voz [...] Se o meu povo apenas me ouvisse, se Israel andasse nos meus caminhos, de pronto eu abateria os seus inimigos [...] Eu te sustentaria com o trigo mais fino; com o mel saído da rocha te saciaria." (Salmo 81)

A morte da pessoa cuja vida foi apenas potencial não desenvolvido é algo terrível e digno de lamento. São incontáveis os que receberam dons e habilidades extraordinárias, mas que se consumiram focados na busca pelas coisas transitórias mais confortáveis, as que depois se transformam em caixão. O chamado é universal, a soberania de Deus não exclui a responsabilidade humana, e eu definitivamente não quero ser mais um que passa por aqui contentado com um relacionamento medíocre com Deus. Jesus não abriu mão de Sua vida daquela forma (na cruz) para eu viver a minha desta forma, conformado.

Ainda ontem éramos meninos e meninas com promessas e chamados muito específicos, o coração ardendo na expectativa de vivermos algo que ecoasse na eternidade. Mas então, o tempo desceu a ladeira descontroladamente e, enquanto seguimos o curso natural de nossa vida, perdemos sua chama sobrenatural. Se refletirmos um pouco, a maioria se dará conta de que no passado pensávamos que quando atingíssemos o ponto da vida que hoje atingimos estaríamos mais cheios do Senhor do que de fato estamos. E se este é o nosso caso, é urgente que mudanças aconteçam antes que seja tarde.

Eu não estou cobrando você. Não estou insinuando que deve largar tudo e se embrenhar em um ativismo religioso desenfreado para ser salvo. Somos salvos pela graça, pela fé em Jesus, não por obras! Mas quando leio o Salmo 81 sei que é um desperdício lamentável vivermos nossa vida sem desfrutarmos plenamente da intimidade que Deus deseja dar-nos consigo! Mas aqui temos um problema: não ouvimos o que Deus tem para nós. Deduzimos que não é prático viver o que achamos que Ele quer de nós, e portanto damos primeiramente ouvidos às nossas necessidades e planos. E quanto mais damos atenção à essas vozes, mais soterramos nos abismos de nosso espírito amortecido a voz de Deus - aquela que, se ouvíssemos, nos saciaria em tudo... em tudo mesmo.

E quando chegamos nesse ponto, parece ser difícil demais renunciar a guerra contra os nossos inimigos e deixar que Deus os destrua por nós. Parece ser difícil demais jogarmos fora as bolotas que os porcos comem para sermos sustentados pelo Trigo mais fino. Difícil demais largarmos nossas brocas exploradoras e barulhentas, que só respingam amarguras, e sermos satisfeitos pelo mel mais puro, que Ele já extraiu da rocha por nós - e a rocha é Cristo!

Ah, se apenas parássemos para ouvir o que Ele já escreveu a nosso respeito! Se parássemos de andar em nossos próprios caminhos e seguíssemos sem medo as Suas pegadas de vida! Então teríamos o mais glorioso dos epitáfios, um como o de nosso Senhor, sem qualquer lamento e que o túmulo não pôde conter: "Eu te glorifiquei na terra, concluindo a obra que me deste para fazer"(João 17.4). Veja que satisfação às portas da morte! Vida plena no ser que naturalmente transbordou para o fazer!

Caro amigo peregrino, ainda há tempo para ti! Desperta tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef. 5.14). Sim, volta ao caminho original.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Meu Bem


Incapaz de explicar
Com a paz de quem vence
Tranquilo por estar
E ser rapaz que pertence
Ao Teu abraço
No qual me refaço

E se passo por onde passou Teu passo
Sou pássaro – tudo voo e nada faço
Tudo sofro e sou de aço
Tudo deixo e nada é laço
Às vezes louco, mas nunca devasso
Calçando as botas do amanhã
Já que o passado em cada presente ultrapasso

Mas as rotas não trago nem traço
E nesta paz tão sã
Renasço,
Simples rabisco – com o Teu traço...

Tu és meu bem
E ninguém
Nem nada além
Eu caço

domingo, 29 de novembro de 2009

A Pequena Ponte

Um peregrino ia caminhando tranquilamente quando avistou um lugar de repouso, situado do outro lado de um obstáculo: um caudaloso curso de águas, belo mas traiçoeiro. Felizmente, notou que havia uma pequena ponte ali posta.

A ponte não era charmosa ou cheia de luzes, nem vistosa e atraente como as que costumam ser fotografadas e admiradas. Ela era simples, muito simples. Não tinha várias pistas ou sinalizações coloridas, tampouco era extensa. Pode-se dizer que era apenas firme, e levava ao outro lado. Do outro lado sim, estava a verdadeira beleza - não na ponte em si. O outro lado era o lugar de repouso e o abrigo acolhedor. E essa visão acelerou os passos do peregrino, fazendo-o cruzar a ponte com passos decididos, e ir ao lugar desejado.

Todavia, ao cruzá-la de repente ele descobriu-se envolto por uma presença gloriosa, cheia de poder e majestade, e deteve o passo. Pôde então ouvir a voz suave a lhe dizer: "Filho, o único Caminho que traz a mim tem várias pontes assim. Pontes que dificilmente são notadas. Sabe, filho, não é nada fácil ser uma ponte que faz com que outros permaneçam no Caminho. Para uma ponte, a firmeza pouco notada de sua estrutura é muito mais importante que sua beleza, pois a firmeza é que inspira confiança. Quando pisadas pelos que passam, elas não reclamam nem fazem grande barulho, pois quanto mais firmes são, menos rangem em protesto. Elas entendem que não estão ali aguardando a retribuição daqueles que as cruzam. E depois de pisadas, ainda veem os outros indo além e chegando a lugares que elas mesmas gostariam de estar. Outros se movimentam e progridem, mas elas continuam paradas e geralmente são esquecidas pelos que através delas alcançaram o que precisavam.

Filho, sei que apesar dessas dificuldades você gostaria de ser uma ponte assim, mas sabe que não tem estrutura suficiente para suportar o peso de conduzir vidas ao meu Caminho, e de aproximá-las de meu repouso. Não é fácil se prostrar e se pôr entre os que lhe pisam de um lado, enquanto do outro suporta a pressão das águas turbulentas e perigosas. Mas Eu lhe ofereço o mais poderoso dos pilares, através do qual poderá suportar pressões e pisaduras de todos os tipos, e mesmo assim ser feliz e realizado, cumprindo sua nobre missão com sabedoria e paz.

Eu lhe ofereço as colunas de meu amor. Sim, sei que seu amor humano é fraco e débil, pois espera ser reconhecido e exige devolução. Mas meu amor é completo e perfeito, é mais forte do que as muitas águas, mais firme do que as pisadas, mais imutável do que o tempo, e mais gratificante do que qualquer passo que suas próprias pernas possam dar.

Filho, ser ponte é andar em amor sem ter pernas, é morrer para que outros vivam. É descobrir no silêncio que mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.

É ser um com o Caminho... e se encher de alegria, ao ver que isso basta!"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tu me quebraste


Tu me quebraste e de repente
Eu, antigo e orgulhoso resistente,
Me vi enguiçado, enredado, emaranhado
Em labirintos que tanto temi
Desesperadamente ansioso e lento
Preocupadamente inválido e violento
Um pedaço de pó, deitado e amarrado
No caminho do vento

Tu me quebraste e de repente
Eu, que sempre me julguei livre,
Me vi manipulado, maltratado e atado
Por cordas calhordas que em vão roí
Alucinadamente detetive
Uma múmia que acha que vive
Vendo se enferrujarem os troféus de latão
Que na verdade eu nunca tive

Tu me quebraste e de repente
Eu, outrora espetacular
Me senti irado, errado, velado e revirado
No vale das interrogações sem ar
Incessantemente sempre a procurar
Interiormente sem me curar
Um cansado viajante que ao fim do percurso
Avista só as cinzas de seu lar

Tu me quebraste!
Mas aos poucos
Renasceu-me a infância
Na alma que honestamente chora
De alegria que irradia Teu amor

Porque Tu me quebraste, Senhor –
Mas não me jogaste fora!



Se você sente que Deus o tem quebrado nestes dias, não fique triste! Seu estado atual não é o definitivo. O bondoso Oleiro tem pensamentos de paz a seu respeito, para lhe dar um fim que, se pudesse imaginar, hoje mesmo você começaria a sorrir. Somente filhos são corrigidos pelo pai. Lembre-se disto: se Ele está nos quebrando é única e exclusivamente porque não desistiu de nós, e continua decidido a completar em nossas vidas a Sua boa obra, que é fazer-nos semelhantes ao Vaso transbordante, o amado Jesus!

sábado, 21 de novembro de 2009

João, a Verdade e os Gafanhotos


A história de João Batista tem colidido comigo nestes dias. Através dela vejo que Deus deseja homens simples, amantes da verdade e apaixonados por prepararem o caminho para o aparecimento de Cristo. Nosso Senhor quer homens e mulheres que entendam que é no deserto que ouvimos o chamado e a Voz que nos faz clamar. Pessoas que nasceram e que vivem para apontar e mostrar quem é o Cordeiro de Deus; e que não desejam seguidores ou números, mas encaminham discípulos para o Mestre Jesus, entendendo que importa que Ele cresça e eu diminua - o que não é fácil, mas necessário!

Estes são os amigos leais, que protegem, zelam e embelezam a Noiva para o Noivo Jesus. Que não negociam diplomaticamente com a hipocrisia religiosa, e tampouco temem as consequências de denunciar e confrontar o mundo e suas autoridades por sua podridão espiritual e decadência moral, social e ética. Semeiam sempre no chão mais duro, e a maioria terá o privilégio de, no máximo, ouvir falar acerca dos maravilhosos frutos que seus olhos jamais verão nesta vida. E se em algum momento sentem-se abandonados e com dúvidas a assaltá-los, não hesitam em enviar a Jesus um grito de socorro, que no fundo jorra de uma fé franca e sincera.

Deus quer pessoas que amem a verdade acima da vida, e que digam às multidões o que estas realmente são, para que assim entendam que sua real necessidade é arrependimento. Homens assim não são bem-vindos nas festas mundanas porque amam perdidamente o Senhor que os achou, a ponto de perderem a cabeça por amor a Ele!

Estes são os que depois de mortos serão lembrados pelos que os conheceram em vida, não por terem sido bons em retórica ou por terem se vestido com roupas caras; não porque se hospedaram em palácios ou por terem comido nos melhores restaurantes - mas simplesmente porque foram o brado no deserto, e com suas vidas pavimentaram o Reino de Deus através do mundo! Pelo que obterão da boca do Mestre o público reconhecimento da maioridade, somente alcançado pelos que alcançam a sublime graça de serem nada, nada além do que um simples caniço no deserto, agitado pelo vento do Espírito, o Vento que nos verga e que ao passar por nós faz-nos ter voz!
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Embaixadores como João são escolados no deserto; não temem os gafanhotos devoradores que causam estrago e prejuízo, pois, na verdade, gafanhotos são o seu lanchinho diário, comidos com o mel da Palavra.

Tudo isso me confronta. No dia em que o carrasco entrou naquela cela escaldante, para executar o prisioneiro mais livre e temido do cárcere, João perdeu a cabeça mas não perdeu a Verdade. Ele fez sua parte, sendo o último representante de sua dispensação... e assim também somos, chamados para ser os últimos de nosso tempo!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Um Passo


Me pediste um passo,
Muitos eu quis dar.
Desequilibrei-me
Descalibrei-me
Desencadeei-me em ansiedades
Cidades esquematizadas no pensamento alado
Que tudo foca mas que de tudo passa ao lado
Que tudo toca no desejo da mansão
Que na verdade é pobre oca
E vidas, que na realidade nunca foram ou serão

Me pediste um passo, um somente
Mas num lampejo de sabedoria falsificada
Eu deduzi todos os Teus intentos
Eu reduzi todos os Teus inventos
À percepção de meu cérebro que
Na decepção de quem peneira os ventos
Mergulhou-me
Resultado que nem um pouco
Orgulhou-me

Me pediste um passo, apenas um
E fiquei cansado por ser apenas um
Inquieto por ser apenas um – e não dois,
Tu e estas pequenas obediências
Que grandemente Te agradam

Não me deixarás entre o zero e o segundo
Mas segundo o Teu querer e o tempo de Teu efetuar
Voltarás a docemente me pedir novo passinho
Um que me faça ir para mais perto de Jesus

E então, nesse momento determinado e sublime
Meus ouvidos e pernas conhecerão
Tua mansa vontade soprando
Calorosamente e cochichando:

Filho, dê mais um passo – somente um...
Um de cada vez.
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Não é somente a direção que tem importância em nossa jornada cristã. O momento para cada passo, seu tamanho, sua hora e a forma de pisar - em tudo dependemos do Pai amado. Haverá horas em que você perceberá que boas intenções não lhe darão o poder de dar um passo além. Na verdade, andar ao ritmo de Deus não é fácil porque Ele é eterno, enquanto eu vivo sob este relógio, cujas agulhas muito me alfinetam. Mas são as agulhas do relógio de Sua vontade as usadas para tecer as finas roupagens com as quais festejarei meu Jesus eternamente.
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Meu bom Mestre, ensina-me isto! Vem viver Tua vida nesta minha! Vem querer em meu querer, e crescer em meu sumir, e falar em meu calar! Vem vencer em meu perder...
Sim, ensina aos Teus ansiosos que esperar por Teu mover é não perder precioso tempo! E quanto mais ando Contigo mais aprendo, e quanto mais aprendo mais aperto em Tuas mãos, firmes e trespassadas!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Decisões Verticais


O terror de uma encruzilhada
Tem sua fonte e sua raiz
Na possibilidade da cicatriz
Na decepção de uma cilada
De a vida ser só uma atriz
Ou de a alma se ver mutilada
Na ilusão de ser um ser feliz

O terror de um labirinto
Provém daquela correnteza
Que traz espelhos sem beleza
Nos quais me vejo e sinto
Falta de asas de realeza
Que me elevem sobre seus
Corredores, dores que pinto
Nas telas da incerteza

A experiência, a ciência
Até a sabedoria, sendo filha
Perderam a fala, puseram a pala
E não enxergam digna resposta
Para olhos que em contraproposta
Buscam a praia, o porto, a costa

Acabaram-se as rimas
A esperança, os ímãs
E até as enzimas
Produzem mutantes
E preocupantes estigmas
Na multiplicação absurda
Dos antigos enigmas

Socorro, Deus!
Rujo
E no entanto
Para meu espanto
Fujo – só corro, Deus!

Caro peregrino,
Aquele que leva sua cruz após Cristo verá que esta cruz o levará a várias encruzilhadas. Ao longo do Caminho, decisões importantes terão de ser tomadas sobre o rumo a seguir, e algumas delas serão sérias e até mesmo irreversíveis. Não tenho aqui a pretensão de lhe dizer o lado para o qual deve ir, mas quero alertar para que cuide com as placas e suas informações atraentes. Ló se encantou com a visão das verdejantes campinas do Jordão, mas acabou aflito em meio ao pecado em Sodoma. Abraão ergueu os olhos da fé, subiu as montanhas e habitou prosperamente em Hebrom, cujo nome significa "comunhão".
Bem, independente da quantidade de direções possíveis diante de si, se olhar com um pouco de atenção poderá ver, bem no centro das placas, a flecha que aponta para o alto, para a vida de maior comunhão e intimidade com Deus, cujo Espírito nos guia a toda verdade!

Se olharmos primeiro para o alto e buscarmos comunhão com Deus, jamais teremos medo ou ficaremos confusos diante de alguma encruzilhada. Lembre-se de que nosso Mestre já passou por ali antes de nós; e Ele nos garante que a comunhão nos fará enxergar Suas pegadas, sobre as quais poremos nossos pés com paz e muita firmeza.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Problema da Máscara


O problema da máscara é que o mesmo objeto que possibilita alcançarmos o que desejamos, também nos isola de sermos tocados ou satisfeitos por tais coisas. Se sua máscara faz com que alguém lhe dê carinho, ela também o impede de verdadeiramente senti-lo, pois tal afeto nunca será capaz de atravessar a superfície impermeável de sua máscara!

Mesmo não sabendo explicar, sentimos os efeitos colaterais dessa falta de amor sincero, e por isso nos desesperamos na tentativa de arrancar as máscaras. Muitos, porém, têm tanto medo de ter sofrimento ainda maior caso a removam, que logo desistem e se conformam a viver lacrados em seus sepulcros belos, florais e mascarados. Sabem que é terrível viver com a máscara, e sabem que jamais descobrirão o que é amor a menos que a arranquem – mas ao mesmo tempo, sabem que não haverá quem as ame caso possam arrancá-las e mostrar ao mundo o que sinceramente são.

Assim como Jacó, em seu íntimo sabem que só têm alguma benção porque fizeram e fazem de conta que são outra pessoa, e que desde a infância ou desde há muitos anos têm mentido constantemente a seu próprio favor. Todavia, em rota de colisão com o que almejaram ser, agora estão no vale e lutam durante toda a madrugada contra Alguém que lhes quer arrancar a máscara; Alguém que quer que lhe confessemos qual é o nosso verdadeiro nome, nossa real identidade, nossa condição, nosso falso caráter e o quanto somos enganadores.
Deus sabe quem somos, Ele nos vê assentados debaixo de nossa figueira como viu a Natanael! Quer arrancar a máscara da face de Jacó não para expô-lo ao ridículo e desprezá-lo – não, Ele sabe quem somos, foi o único que sempre o soube! Exige confissão não para nos amaldiçoar, mas, pelo contrário, para nos abençoar como fez com Jacó! Tem um novo nome para nos dar, mas para isso temos que denunciar nossa velha identidade, pois ao confessarmos as máscaras caem!

Será inútil buscar amor em outra fonte. Você pode mergulhar em muitos relacionamentos e atividades, mas ainda assim sua máscara sempre será um submarino, que o fará estar submerso sem contudo se molhar! Cristo é o único que irá amá-lo mesmo que você esteja de rosto lavado, livre das maquiagens da vida.
Talvez você esteja com medo de tirar sua máscara. Talvez acredite que se ela cair seu sofrimento será maior do que tem sido. Quero lhe desafiar a ser amado por Deus, a máscara tem feito separação entre Ele e você. Não sei se você não quer tirar a máscara por medo, ou se gostaria de tirá-la mas simplesmente não tem forças, uma vez que hoje ela está demasiada cravada sobre sua identidade. Seja como for, peça coragem a Deus para ficar nu diante Dele, na fé de que será coberto e vestido com Seu amor.
Eu e você já temos nos escondido tempo demais sob a figueira e suas folhas, já temos gasto demasiado tempo compensando nossa solidão secreta com coisas que, no fundo, nunca nos atingem ou nos tocam. Jacó não poderá ser Israel a menos que confesse que é Jacó! Até lá continuará fugindo, sempre fingindo para si e para outros que é Esaú.
Deus, porém, luta conosco para arrancar nossa máscara, beijar curativamente estas feridas e nos declarar no poder de Sua soberania invencível:
“Amei Jacó e aborreci Esaú”!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aproveitando!


Aproveitando a oportunidade de estar vivo
Quero segredar-Te gratamente um sorriso
E esconder-me brincando para que me descubras
E dar-Te uma piscada em meio à multidão
E fazer-Te perceber que o suspiro é de amor
E escrever na areia o que mar nenhum apaga
E contar aos outros da importância do Teu olhar

Aproveitando a oportunidade de estar vivo
Quero pensar em Ti nas madrugadas mais normais
E fazer da paz que me deste perfume que Te agrade
E me divertir muito com a inteligência que tens
E levar também as coisas boas pro lado pessoal
E permitir que jogues fora o que é de esquecer
E procurar nada fazer quando me abraças
E sorrir bastante sempre que me lanças ao alto
E ser ensinado na Tua escola de perseverança
E admirar o quanto totalmente me conheces
E chorar de alegria pela alegria de ser Teu

Aproveitar a oportunidade de ter recebido Tua vida
E não resistir, se a fé reclamar de saudades...
Elevar e levar minha cruz após Tuas pegadas
E tecer uma canção que Te seja beijo intenso,
E Te entregar a minha realidade e o meu sonho
Para que Tu mudes a minha realidade em sonho
E para que o Teu sonho quanto a mim Tu mesmo realizes!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Espinho e o Abraço de Papai


A criança queria apenas tocar a rosa quando, inesperadamente, um espinho machucou-lhe. Após chorar por um tempo que pareceu toda uma vida, ela se refez, enxugou as grandes lágrimas e corajosamente tentou extraí-lo com as próprias mãos. No entanto, incapaz de pinçar sua ponta, descobriu que quanto mais tentava arrancá-lo mais se debatia, e mais sua dor aumentava. Dentro de pouco tempo a dor se tornou tão intensa que ela não quis que ninguém mais tocasse seu ferimento, a fim de não o fazerem doer mais do que já doía. Se não pudera extraí-lo, com certeza ninguém mais poderia!

Fazendo todo o possível para disfarçar a dor, voltou à casa de seu pai. No caminho, esforçou-se e até sorriu para alguns vizinhos, de modo que ninguém notou a imensa dor abafada por trás de sua doçura. Melhor assim, pensou ela. Porém, seu segredo só durou até o momento em que papai a viu entrando pela porta. Papai conhecia bem sua criança, e na mesma hora reparou que seu andar e passos tensos não combinavam com o sorriso que trazia no rosto.

Por isso, carinhosamente estendeu as mãos paternas e chamou-a para um abraço. Ele realmente desejava vê-la de perto. Todavia, imediatamente a pequena se retraiu. A dor fazia seus olhos arregalados transmitirem insegurança e medo. Sabia que papai havia observado seu doloroso segredo e que tentaria tocá-lo; fosse como fosse, ela acreditou que um abraço só traria mais pressão sobre sua dor.

E enquanto pensava e pensava, os braços de papai continuavam abertos. Ele estava sentado em sua cadeira enquanto lá fora a noite caía, e aquela dor secreta subia. Sabe, a decisão de ir ou não ao encontro deste abraço foi uma das mais difíceis para esta criança. Ali parada, cheia de dores e medo que elas aumentassem, não sabia o que haveria de fazer - se correr na direção contrária e fugir, ou lançar-se nos braços que em outros tempos tanto conforto lhe tinham trazido.
Naquela noite, chorando, a criança decidiu que, independente do tamanho de sua dor, seria nos braços de papai que ela expressaria seu sofrimento. Por sua vez, papai cuidadosamente extraiu a causa da ferida, enquanto a abraçava com a outra mão. Ao se submeter a este ato de verdadeiro cuidado, a criança viu que de todas as dores esta é a única que vale à pena de ser suportada, pois é a dor do amor paterno a curar, a dor que antecede o grande alívio.

Em tudo isso, observei que toda esta experiência do espinho na verdade resultou no melhor abraço que aquela criança alguma vez poderia receber, em sua vida muito amada.

Amigo, sob a dor de seu espinho secreto e ao ver os braços abertos de Papai, em que direção você tem corrido? É muito doloroso aceitarmos a retirada de um espinho porque isso significa que Papai terá que mexer nele. Ainda assim, não se esqueça que para o mais doloroso espinho existe um amor muito maior, bem como o mais consolador de todos os abraços - o de Deus, verdadeiro alívio que na lapela nos traz a flor...
Sim, ela e somente ela.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

De todo o Coração


"... Unifica o meu coração para temer o Teu nome. Eu te louvarei, ó Senhor Deus meu, de todo o coração..." (Salmo 86.11,12)

Se tememos alguém ou alguma coisa ou circunstância fora de Deus, nosso louvor a Ele fica dividido e incompleto. Por quê? Porque damos glória àquilo que tememos. Somente tememos aquilo que reconhecemos ter força ou ser importante para nós, portanto temor é uma forma indireta de atribuirmos importância e louvor.

Qual tem sido o nosso temor? Diariamente há constantes cabos-de-guerra sendo travados em nossos corações, e isso porque somos inconstantes. Temos tantos estados diferentes, tantas direções contrárias... meu pedido é que Ele entre e faça em nós "estados unidos", alinhando-os na direção do verdadeiro louvor a Ele (que não merece menos). Nem sempre é assim. Muitas vezes, se formos sinceros, diremos a Deus: "meu coração te louva 50%, porque os outros 50% estão em minha segurança própria, aquela que tanto temo perder". E como tememos perder coisas que nos dão falsa segurança, dando-lhes assim louvor!

Isso me faz lembrar uma antiga experiência. Quando criança ganhei uma pequena bicicleta. Ansiava imitar os adultos que via e logo nos primeiros momentos, com incrível facilidade, sentei e imediatamente saí andando nela. Dias depois, quando já estava confiante e até mesmo orgulhoso, fui privado de um detalhe que até então eu mal havia reparado: minha bicileta tinha rodinhas adicionais, e elas me foram tiradas. Dali em diante sofri intensamente a falta delas! Ao perdê-las descobri como as estimava, e por um momento pedalar já não foi interessante como antes. Tive incontáveis tombos e quase desisti. Hoje, porém, lembro-me daquelas rodinhas e elas me parecem bem ridículas. Perdê-las foi um fato básico no processo de crescer.

Andar com Deus não é diferente. Achamos que já andamos igual os "mais crescidos", mas logo vem o Pai e nos faz andar exclusivamente em Seu evangelho, sem qualquer suporte infantil. Isso dói? Sim, dói. Todavia, quando nos encontramos exclusivamente Nele podemos ir a lugares e a distâncias nunca imaginados. Quanto maior a maturidade maior a liberdade, e a maturidade está no ser e no depender do Senhor, única e completamente.

É aqui, somente Nele, que Ele se torna tudo o que temos, tudo o que precisamos, tudo o que nos satisfaz, tudo o que tememos, tudo o que louvamos - sim, Ele mesmo, Aquele que passamos a querer e a amar integralmente! E então os Seus mandamentos não nos são pesados...

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Dt. 6.5)

Ah! Que Ele tire as nossas rodinhas para que O temamos e O louvemos inteiramente!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fé X Probabilidades


Sempre haverá na vida a probabilidade de algumas coisas – ou, considerando de um ângulo mais pessimista – de todas as coisas falirem, falharem e desmoronarem, trágica e sofrivelmente. A consciência de que Deus nunca nos abandona não extingue probabilidades de que coisas temidas nos aconteçam.

Contudo, neste final de inverno, a fé vem aquentar a alma, segredando ao coração que o medo não tem razão de permanecer, nem espaço para progredir na vida dos que são amados pelo Pai Todo-Poderoso. Ela nos cochicha que Ele estará lá, erguendo o sol e dissipando as névoas. Estará cuidando infalivelmente dos que Lhe pertencem, revelando uma fidelidade e uma sensibilidade que minha lógica, minha esperança, minha calculadora e minhas limitações jamais serão capazes de explicar. Estará lá, chamando à existência coisas que não existem, e produzindo e abrindo, com a chave de Seu dedo, portas que me fariam sorrir se hoje as imaginasse. Ele estará lá e, aonde quer que sejamos levados, acreditamos que isso será Ele nos levando para junto de Si!
Até a consumação dos séculos e de todas as probabilidades controladas por Ele, Ele mesmo estará conosco, Ele terá ido sempre adiante preparar tudo, para que em nós se cumpra Sua perfeita vontade.
Assim, toda probabilidade de infortúnio perde o seu veneno quando combatida com a verdade e a realidade – não a probabilidade – de que Ele estará lá, passo a passo, caminhando entre nós, dia após dia e para sempre!

Portanto, peregrino, não espere Dele uma fé mapeada, calculada, explicada e com garantias, pois a fé não é o fundamento das coisas que você já recebeu, tampouco é a prova das coisas que seus olhos já enxergam com detalhes. Fé é fé, sabedoria divina que algumas vezes, para nossa surpresa, chega até mesmo a ter lógica.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Ritmo da Cidade


O ritmo da cidade
É marcado pela sola dos sapatos
De seus donos e ouvintes
Que salpicam casas, calçadas,
Becos, ruas e pontes
Antes de se irem para sempre…

O ritmo da cidade pode ser
Vivo e imprevisível como uma fumaça
Ou mecânico e cruel como os
Fantasmas de carne e sem rosto
Que se escondem atrás
De seus escudos de aço e vidro

Mas o ritmo da cidade
Não pode ser aquilo
Que preenche o vazio dos olhos
Daquele que por suas ruas
Deambula tentando esquecer
A falta de ritmo e vida
Que existe no silêncio
Triste e perturbador de seu coração

Pois a solução dos maiores enigmas
Não está nas informações de uma esquina
Nem menos no som monocromático
Das agulhas que marcam o compasso
Desta noturna rotina diária

A solução não está na cidade
Por mais antiga que esta seja
Ou por mais inteligente que pareça
Porque a verdadeira energia da vida
Está à espera de ser desvendada, reunida,
Montada e posta em movimento
Na musical oficina da alma

Sim, Ele nos projetou assim
O mesmo que nos quer
Alfabetizar na leitura da esperança
Ou simplesmente nos tomar pela mão
E nos ensinar uma alegre forma de dançar
Sobre a pista da dor…

E uma vez embalados ao ritmo da graça
Lucidamente sermos felizes!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Glória maior que o Tempo (Jo.11)


Esperar pode ser uma bênção ou um pesadelo. Pode ser uma oportunidade para descansar ou um meio de se ganhar uma lesão, se descansamos do jeito errado. Pode ser o palco de toda a minha limitação e impotência, ou de Deus demonstrar fidelidade.

Todavia, temo que o Mestre se demore em vir ao meu socorro, e que neste intermeio todos os meus "Lázaros" faleçam. É muita a frustração que sofremos decorrente de promessas divinas que interpretamos e encaixotamos em nossos próprios modos, tempos e mundos. Por isso conhecemos a desesperança, a mágoa descabida e o antigo senso de auto-piedade, que parece ser tão profundo - sendo tão artificial!

Ele, porém, não é escravo de meu relógio, nem servo de meus calendários. Ama-me tanto que está decidido a mostrar-me Sua glória, e por esta causa meu relógio e calendários registram Seu "atraso". Logo meus sonhos perecem, e com eles a esperança do milagre que imaginei. Onde está o Mestre? Não aparece para o enterro, embora o que foi sepultado lhe seja reconhecidamente conhecido.

Em Seu perfeito tempo, Ele surge e ali podemos vê-lo a chorar, não por remorso ou limitação, mas principalmente por ver o nosso abundante lamento proveniente da falta de fé. "Eu Sou a ressurreição e a vida", Ele revela; "Sim, Senhor, mas o morto cheira mal!", queixo-me eu. E mesmo indignadamente submisso, movo a pedra. Ele, com Sua grande voz, chama para fora o que morrera, clamando para que volte aos Seus braços o que sempre amou - não só meus sonhos, mas toda a nossa familia, há vários dias sem a vida.

E só então percebo que não preciso de explicações, pois sou incapaz de lidar com elas e indigno de recebê-las. No fundo (da cova) e ao longo do Caminho, o que preciso mesmo é de Sua companhia, é ter Seus braços em torno de meus ombros machucados pelos fardos desproporcionais e desnecessários que tenho carregado. O que careço é que o Caminho caminhe comigo, para que assim, durante a subida deste íngreme Calvário, eu já não reclame do pouco que deu-me a levar, mas agradeça o muito que já levou por me amar...

Ah, meu Senhor! Em Ti está minha delícia! E se caí enfermo e fui enterrado, é a Tua voz que hoje ouço, é para o Teu seio que hoje corro, é em Teus braços que hoje me lanço! Em ninguém mais sou assim sincero, amado e aquietado de satisfação - somente em Ti, Ressurreição do que me faliu, e Vida para o que em mim Te é amigo!

E quanto mais por Ti espero, mais glória me revelas... pois assim como a cruz é maior que o tempo, assim a glória supera a espera - eternamente, como eterno é o fruto da cruz!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Laço Quebrado (o voo mais livre)


O laço Tu quebraste
E as asas atrofiadas
Voltei a bater
Faço o que mandaste
E às casas encarceradas
Não vou me ater

E voltando a voar
Sei que para o ar nasci
Não para o chão
E no vazio a escoar
Voo porque amo a Ti...

Meu céu é Tua mão!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sem Fé é Impossível Viver ou Morrer


Cremos em Deus, e não parece haver dúvidas de que Nele podemos confiar. Porém, quando momentos de luta chegam, a questão é se confio Nele mesmo em meio à neblina. No fundo, a neblina da aflição nos presenteia nitidez para vermos que Cristianismo não tem a ver com o quanto sabemos, mas com o quanto estamos perseverando naquilo que Ele nos ensinou e prometeu.

Ontem fui a um compromisso. Para sair de casa, entrei em um elevador confiando que seus cabos não arrebentariam. Em seguida usei o carro, acreditando que nenhum mecanismo, barra, peça ou pastilha falharia, o que me poria em risco de vida. No caminho, cruzei três pontes cujas fundações estão no lodo, crente que engenheiros que não conheço fizeram cálculos adequados para que sustentem toneladas. Depois passei no mercado por acreditar que seus produtos possuem os dados prometidos na embalagem, e que em nenhum deles há adulteração, ainda que eu não conheça as pessoas por trás das marcas. Para pagar utilizei o cartão, pela fé de que meu banco é leal comigo, embora eu não tenha intimidade com ninguém que trabalhe lá. No fim da noite, quando voltei à casa, tive simplesmente fé de que o telhado não cairia sobre mim, e dormi tranquilo, crendo que mesmo que haja possibilidades reais, nenhum avião ou meteoro me atingiria dormindo...

Uau! Como vivo perigosamente! É impressionante conseguir dormir depois de tudo!

Em Atos 12.6-9 há uma situação que me surpreende, e não deveria. Pedro, o mais nervoso e agitado dos discípulos de Jesus, está na prisão na véspera de ser executado. Está acorrentado dentro da cela a dois soldados, duplamente algemado em um presídio cercado de sentinelas. A segurança é máxima, Pedro vai morrer e sabe disso - mas em sua última noite, ele está... dormindo!

De repente, surge um anjo do Senhor. Mas Pedro continua a dormir. A luz angelical explode no lugar com todo o fulgor. Mas Pedro nem desafina o ronco. Está tão maravilhosamente sonolento horas antes de ser decapitado que o anjo, talvez surpreso, toca em sua costela e diz: "Levante-se depressa"! Mesmo depois de liberto, na rua, o homem custa a distinguir se o que está acontecendo é real ou visão...

E era Pedro, o agoniado, na véspera de sua morte.

Assim como eu, Pedro confiava e por isso dormia. Só que ele confiava em Deus em qualquer momento ou circunstância, e essa certeza sacudiu e despertou sua fé; e então a sua alma pôde repousar, mesmo com a espada tão próxima de sua carne. Em outras palavras, se Pedro confiava em Deus para morrer, posso confiar Nele para viver!

Se confio em mecânicos, objetos, notícias, engenheiros, produtos e instituições que mal conheço, seria injusto e pecaminoso demais de minha parte agir ou viver como se Deus fosse um grande bandido - reconhecidamente temido, porém pouco confiável.

Amigos peregrinos! Que Ele nos ache descansando na fé que nos deu, e que assim sejamos mais e mais livres!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Aventura nos Braços (Sl.131)


Tenho aprendido, com muito custo, que uma de nossas maiores dificuldades ao longo do Caminho não são as grandes batalhas que temos que lutar contra os nossos inimigos. Não são as pedras que certas pessoas à margem da estrada nos atiram, nem tampouco trata-se de alguma tarefa herculana a realizar.

Estou convencido de que um dos maiores desafios é aprendermos a desfrutar do colo de Deus. Infelizmente, a falta de movimentos bruscos ou vertiginosos acentua nossa miopia para enxergarmos toda a aventura que em Seus braços fomos chamados para viver. Acreditamos que ali é apenas o lugar de nos abastecermos dos recursos divinos, e por isso começamos a nos debater intensamente, logo depois que dali sugamos o suprimento que desejamos. Nossa vida cotidiana é uma sucessão contínua de atividades, e em um mundo que premia o hiperativismo, definitivamente desaprendemos a descansar.

Demora um pouco até entendermos que a verdadeira aventura acontece quando nossos olhos se deparam com o Seu olhar para nós. Custa até percebermos que é nesse silêncio que nossa comunhão ganha voz, e toma a palavra.

Estar quieto no colo de Deus é, realmente, andar com Ele. Só ali há satisfação, e qualquer outro alimento só irá ferir os lábios da alma que, na realidade, está faminta pelo Seu olhar.

O que tenho visto é que em nenhum outro lugar, momento, pessoa ou atividade nosso coração poderá descansar - enquanto acelera.

Aquieta e faz calar a minha alma
Já não à procura do Teu seio
Mas serenamente Te fitando os olhos
Enquanto neste indescritível momento
De silenciosa e pura comunhão
Os lábios cerrados e feridos de meu espírito
Possam cochichar
Ao compasso das Tuas pulsações
Que finalmente

começo a ser
Teu

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sapatos de Lágrimas


Senhor,
Meus olhos distorcem minha vontade
São bandejas que oferecem cobiça e ilusão
São pedreiros de fantasias distantes
E escamoteáveis, segundo minhas paixões.

Ajuda-me a fechá-los
Auxilia-me a enfaixá-los e me ajoelhar
Diante de Ti, fiel joalheiro
Que transforma e lapida o que é pedra por natureza.

Que eu não confie neles e
Que o meu espírito não acolha seus conselhos.
A estrada tem buracos demais, perigos demais
Para eu me guiar por minha visão.

Mas que eu feche os olhos
E aprenda o que é ser guiado pelos ouvidos,
Os ouvidos que abraçam a Tua Palavra,
A Palavra que arrepia a minha carne,
A carne que é unida à cruz do Filho e que
Canta com a paz de quem venceu

De quem venceu a estrada e seus perigos
Pois foi conduzida por Tua mão, Tua voz
Até chegar mais perto e ter os olhos curados
Para que Te avistem,
Olhos cujos sapatos são
Lágrimas que correm até Jesus.

sábado, 19 de setembro de 2009

Conselhos de um Milionário



De um jeito ou de outro a morte incomoda a todos, ela nos lembra que não somos indestrutíveis. Porém, sob a ótica do fim ganhamos uma visão mais nítida a respeito do que realmente vale a pena. Ali temos noção real do legado que deixaremos depois que formos embora.

A eternidade está no coração do Homem e por isso a morte o choca, deixa-o perplexo e o faz chorar diante da falta de sentido que ainda não sabemos explicar. Antes de partirmos, queremos nos certificar de que seremos lembrados por algo digno. Queremos deixar boas marcas no mundo e no coração das pessoas amadas. Queremos transmitir algo de valor aos que virão, algum aprendizado que possamos transmitir às gerações futuras, a fim de que vivam melhor do que nós.

Anseios assim são tão antigos quanto a humanidade. Há quase três mil anos, viveu um homem que soube expressar muito bem as mesmas preocupações, bem como a agonia diante da beleza da vida e sua paradoxal bestialidade. Seu nome era Salomão, ele foi rei de Israel e teve muito poder e riquezas. Outros reis da Antiguidade vinham visitá-lo para ouvir de sua sabedoria e observar sua grandeza e glória. Em sua velhice, vendo a morte se aproximar, Salomão sentiu a inspiração de escrever seu último livro, uma espécie de resumo de tudo o que aprendera em sua experimentação e observação da vida.

Materialmente, ele foi um caso de sucesso raro ao longo da História. Planejou, executou e conquistou tudo o que havia desejado. Mas agora, no cais da vida, o velho patriarca olha para trás e parece não ter muitos motivos para sorrir. Começa a escrever Eclesiastes de forma melancólica: "Tudo é vaidade", alerta várias vezes, "é correr atrás do vento".

Salomão vê a morte se aproximar. É riquíssimo, mas está partindo e descobre que o ouro não lhe vale muita coisa. Percebe que seu legado não é muito, pois não garante nada de valor permanente às gerações seguintes. Perturba-lhe saber que depois que expirar, outro virá e fará o que quiser com tudo o que penou para construir e consquistar. Sem ter mais o que fazer, o velho rei procura advertir seus leitores de que a vida que consiste só de trabalho e desejo de riqueza é uma ilusão.

Ao fim do livro, o sábio clama: "Vocês, jovens, lembrem-se de seu Criador agora que estão começando, cheios de vigor e entusiasmo! Pois os dias passam depressa e logo a velhice e o cansaço chegarão, quando então todas as coisas que pareciam muito importantes e atraentes perderão o sentido, e já não lhes trarão qualquer contentamento". De fato, tais palavras converteram-se em um legado precioso, e chegaram até nós com o mesmo valor de quando foram escritas, milênios atrás.

É interessante nosso interesse por entrevistas dadas por homens de negócios bem sucedidos. Queremos saber o que pessoas experientes e de sucesso têm a nos dizer acerca de como vencer na vida. Todavia, nunca ouvimos o que tais pessoas teriam a confessar em seu leito de morte. Talvez, se escrevessem com profunda honestidade sobre a vida que tiveram, não julgaríamos que são ilustres.

No fim de seu livro, o que o velho Salomão concluiu é que o grande sucesso da vida é viver de modo que quem vai embora continue tendo sucesso eterno. E ele mostra que isso só é possível quando, nesta vida, você se relaciona com o Deus Eterno, o único que pode satisfazer o suspiro por eternidade que habita em todos nós.

Particularmente, faz alguns anos que abri a Bíblia e comecei a seguir o conselho desse velho sábio. Desde então, tenho provado o que é uma vida cheia de sabor, de esperança, de sentido, de consolação e de verdadeira paz e alegria. Tenho visto que somente alguém que descobriu um tipo de sucesso acima e além da morte, é alguém que pode fazer de sua vida um verdadeiro legado para aqueles a quem ama.

Considere Deus em tudo desde cedo e sua vida será digna de ser considerada. Busque conhecer o Deus que o criou e é eterno, e arrependa-se de seus maus caminhos, mesmo se sua juventude já passou. Mas se ainda é jovem, lembre-se de que somente uma vida que se arrepende e se volta para Deus é uma vida que não se arrependerá ao chegar ao fim de seus dias.

(publicado no jornal Classe A em 18-09-09)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Só o Oleiro



A maioria dos peregrinos já teve a nítida sensação de estar andando em círculos, sem sair do lugar. Uma das razões disto pode ser a incredulidade. Outra, porém, tem a ver com o fato de que é necessário que um vaso dê muitas voltas sobre si mesmo, enquanto é amassado na roda giratória do Oleiro.

Deus poderia ter nos criado a partir do nada. Mesmo assim, decidiu nos fazer do pó da terra. O barro não tem brilho próprio, e é fraco, mutável, sujeito. Pode ser duro e num instante se derreter. Nossos corpos - e num sentido mais amplo nossa vida - foram feitos para serem vasos de barro. Nosso valor não está em nossa matéria, mas vem do Oleiro que nos molda de acordo com a Sua vontade. Nossa beleza vem apenas do Seu trabalhar em nós, ela é fruto de sermos tocados por Suas mãos. E estejamos certos de que quanto mais elas nos quebrarem, mais refinados seremos.

Vasos ornamentais são de materiais caros, mas vasos funcionais são de barro. Deus está interessado em nos moldar à Sua maneira e assim nos fazer Seus vasos de barro. Nesses, Ele deposita o tesouro do evangelho de Jesus, para que a excelência do poder seja de Deus.

Portanto, se apesar de sua fé e obediência a Jesus, você tem se sentido a dar voltas e voltas no mesmo lugar, não desanime peregrino! Para nós é difícil de entender, mas a Sua Palavra nos mostra e garante que do lodo que somos Ele bem sabe como suscitar vasos de honra para Si!

Em minhas belas curvas de barro
Com minhas lindas pepitas de ouro
E em meio às formas e tendências
Orgulhosamente misturadas em minha base
O Oleiro enxergou-me de todos os lados
E quebrou-me

Extraiu-me as pepitas
Umedeceu-me com lágrimas e me fez dar
Voltas e voltas parado no mesmo lugar...

Então bastou encostar-me Sua mão
E eis que me desfiz
Bastou que me tocasse – e já ninguém mais
Pôde me reconhecer

Mergulhado em meu barrento derretimento
Descubro que sem Ele apenas serei lama
Até tornar-me pó...
Mas bom vaso
Só o Oleiro poderá fazer-me

Só o Oleiro – Ele só!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Ponte


Peregrinos e peregrinas,

Após breves considerações, decidi compartilhar algumas coisas que o Rei da Glória tem nos mostrado, conforme temos caminhado com vários outros peregrinos ao longo deste Caminho.

Deixe-me começar dizendo que descobrimos que o Caminho é vivo, é uma pessoa; para ser exato, ele é A Pessoa. Sim, o Caminho é Jesus. Esse Caminho passa por muitos lugares, por muitas montanhas e vales, por desertos, mares, rios, neblinas, angústias, desfiladeiros, dores, pontes, alegrias, amores, paz, fontes, refrigérios, poços, pastos verdejantes.

Algumas vezes, para nosso espanto, o Caminho nos leva à lugares sem saída, como levou aqueles israelitas e os pôs entre os penhascos e o mar Vermelho. Como fez com o jovem José, levando-o às masmorras egípcias. Como fez com o moleque Davi, diante do gigante Golias. Isso acontece porque o Caminho deseja nos conduzir à revelação da glória de Deus, e sabemos que o impossível é o palco da glória.

Outras vezes, o Caminho, embora seja somente um e o mesmo para todos, revela-se único e exclusivo, ao longo da experiência pessoal de cada caminhante. A vontade de Deus é uma para todos os Seus filhos e, mesmo assim, ela trabalha de modo exclusivo em cada um deles.

Bem, é difícil explicar como é o Caminho para quem não está caminhando. É muito difícil entender o Caminho se tudo o que você tem é apenas o pedaço de um velho mapa rasgado, sem qualquer continuidade ou rosa-dos-ventos.

Caminhar é preciso! Só a experiência da caminhada provará que o Caminho é - Ele mesmo - o ponto-de-partida, a estrada, o guia, o mapa, a força, a água, a bússola e o destino. Isso mesmo, caminhando você perceberá que Deus é a ponte que Ele construiu para nos levar até Ele mesmo!


E aí, vamos em frente?