sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Cruz e a União

No mundo todo, quem vai a um cemitério pode constatar que a cruz é o símbolo do luto e da separação - é o símbolo da morte. Se você vai à Bíblia, porém, vê exatamente o contrário. É verdade, a cruz da Bíblia é triste, cruel e sangrenta. Dolorosa mesmo, mortífera, impiedosa. Fisicamente ela destruiu, moeu, sufocou e perfurou o corpo e a alma mais inocentes que já passaram na terra. Contudo, foi precisa e unicamente por esse sacrifício que recebemos a redenção e a alegria. Para o cristão, portanto, não existe símbolo que represente maior felicidade do que a cruz de Cristo. Para nós é o símbolo da vida!

No mundo todo, a morte sempre causa separação. A morte separa os maiores amantes, os maiores amigos, as pessoas mais unidas. Mesmo o casamento, a maior união existente entre duas pessoas, dura somente até que a morte os separe. Se você medita sobre a morte ocorrida no Calvário, porém, vê exatamente o contrário. Pois o sacrifício de Jesus de Nazaré foi a única morte que trouxe união. De fato, nós estávamos terrivelmente separados - de Deus e uns dos outros - até que a Sua morte nos uniu! Com Sua cruz, Cristo fez com que a morte mudasse de trabalho. Agora, sua principal tarefa não é mais causar separação, mas, ao tocar cristãos, uni-los definitivamente com Aquele que por Sua morte os uniu à Sua vida!

Infelizmente, estamos esquecendo essas simples verdades. Nosso cristianismo está perdendo a cruz, ficou luxuoso demais, tão polido que perdeu o brilho. Diferentes de nosso Mestre, não queremos mais tomar nossa cruz, e por isso estamos nos desunindo - Dele e uns dos outros. Evitamos qualquer coisa que nos cause desconforto, que não venha já pronta e seja imediatamente confortável, e assim estamos perdendo os relacionamentos. Jesus ensinou no Calvário que se não há sofrimento não há união. Para não haver separação entre nós, precisamos tomar a cruz e morrer um pouquinho todo dia, sacrificar e renunciar nosso ego como centro da vida. Sem cruz não há comunhão, e sem comunhão a vida não faz sentido. Aquela cruz é sinal de dor, sim, mas é também sinal de soma.

E no mundo todo, se não existe essa cruz no coração, aí sim é sinal de muito luto e separação.

sábado, 22 de setembro de 2012

Vem de manhã


De manhã, se um intruso outono
Vier interromper meu fatigado sono
Trazendo questões e álgebras às
Ainda exaustas, infaustas pálpebras
Vem ali amanhecer meu espírito
Na tranquila alvorada de Teu Filho
Vem cultivar em mim Tua sombra
Obra de paz que arromba o sofrer

E logo, quando a planta de meus pés
Tocar a carnívora raiz da rotina
A alegria da missão que me chama
Florescerá na certeza de que Tu me amas
Pois já te levantaste de Teu sono
Pelo qual me despertaste - ó, o Teu drama!

Revela-me assim desde cedo o Filho
Pois não sou capaz de me erguer sozinho
Depois calça a minha fé em Teu Trilho
E leva-me com Tuas mãos de primavera
Até a Flor mais digna, santa e sincera
Pois na coroa de espinho descubro o meu ninho...

Ah, meu Senhor!
Quanta gentileza me trazeres a fé na cama!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Saudade, o Inferno e o Amor

Saudade é a mistura de distância geográfica, tempo de ausência, tempo restante para o reencontro, e amor. Distância geográfica porque se você está a meio mundo de alguém, sente saudade mesmo que tenha se despedido há poucas horas. Tempo de ausência porque cada minuto sem a pessoa torna a saudade mais forte. Tempo restante porque quando nos despedimos sabendo que o reencontro vai demorar, a despedida em si já é cheia de saudade. Mas, acima de tudo, está o amor.

Porque sem amor, os três primeiros fatores não têm sentido. Se você está longe de uma pessoa, ou há tempo sem vê-la, mas não a ama, tudo bem, não sente saudades. Mas se houver amor, é certo que haverá também saudades. Se você ama, mesmo que faça bem pouco tempo que viu a pessoa amada, logo sente falta. Se ama, até a menor distância faz com que tenha saudades - mesmo que a pessoa esteja na sala e você no quarto, por exemplo. Quando se ama, o tempo restante para o reencontro parece levar quase uma vida inteira. Assim, de modo estranho, o amor, que é tão inocente e belo, transforma a ausência e a saudade em criaturas terríveis e cruéis. Pois, mesmo sem querer, o amor que sentimos faz toda distância ser grande demais, toda ausência longa demais, e toda despedida franca violência ao coração.

Agora, preciso lhe dizer o que é Inferno. Direi que o Amor verdadeiro, do qual temos e sentimos uma pequena dose, é na verdade Uma Pessoa. E o Inferno é o lugar onde o pleno Amor restringirá para sempre Sua maravilhosa presença. Assim, o Inferno é, em síntese, o lugar de maior distância entre nós e a Pessoa mais amável do universo. Inferno é a intranscorrível eternidade sem a presença da Pessoa mais amada que existe. Inferno é estar longe de Deus para sempre, sabendo que não há nem haverá jamais qualquer previsão de reencontro com Aquele que é o próprio Amor. Inferno é a saudade elevada à infinita trágica potência.

Toda a saudade que hoje sentimos é uma amostra minúscula de Inferno, enquanto o nosso amor é réplica simplória da gloriosa eternidade com o verdadeiro Amor. Devido à saudade, hoje nosso amor traz em si glória e ruína, prazer e sofrimento, mas nem sempre será assim. Pois embora essas coisas antagônicas estejam nele entrelaçadas, na eternidade futura elas estarão para sempre separadas, em eterno afastamento e crescente intensidade. Lá haverá, de um lado, amor perpétuo e presença gloriosa; e de outro, saudade sem esperança e solidão infinita.

O Evangelho de Jesus, entretanto, nos surpreende com a notícia extraordinária de que existe hoje mesmo um meio de experimentarmos amor sem qualquer saudade - o pleno amor do Deus de Amor! Sim, Ele sempre estará perto de nós, não se ausentará nem por um segundo. Ele sempre virá para nos reencontrar. Nada nem ninguém em tempo algum poderá nos separar do Seu amor! E Ele nos ama, realmente! Logo, meus amigos, chega de tristeza! O melhor abraço do universo nos espera! E, nesses termos, pelo amor de Deus, seria absurdo demais morrermos de saudade!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Caminho chamando

Tem dias assim, em que parece que todos aqueles sonhos que Deus um dia prometeu realizar em sua vida parecem estar há milhares de anos-luz (ou “anos-sem-luz”, eu diria) da realidade de seu cotidiano. Sentimento surpreendente, em um momento em que nenhuma peça parece estar faltando em seu tabuleiro. Antigos gigantes inimigos foram superados, batalhas temíveis estão vencidas, seu álbum de figurinhas está completo. Ainda assim, que estranho, falta algo. Logo você se questiona e lembra que as coisas já foram bem mais difíceis, e que depois de tantos acertos muita gente gostaria de estar aonde você chegou hoje.

E, contudo, você era mais feliz antes. Por quê? E por que sente saudade de um passado mais sofrido? Será que acabou se transformando em um viciado no sofrimento? Não, não é verdade, ninguém gosta de sofrer – mas quando o sofrimento é o caminho para se tornar a pessoa que se nasceu para ser, ou para se chegar no lugar ao qual se existe para pertencer, vale a pena.

Assim, inexplicavelmente aborrecido e sentindo-se velho por dentro, você decide sair à caça de novos desafios que possam lhe devolver a motivação. Pouco tempo depois, porém, se dá conta de que suas novas metas são, no fundo, as mesmas de bilhões de outros seres humanos que você não admira. É no mínimo frustrante perceber-se um imitador de quem em nada se quer imitar. Mas… o que há de errado com você? Por que não consegue ser feliz numa vida onde todos conseguiriam? Por que não pode ser contente como todo mundo?

E a resposta é muito simples: é que você não é daqui. As cintilantes luzes dessas ruas, casas e carros lhe causaram uma grande e terrível amnésia, que juntamente com o apagador da rotina esfregado freneticamente contra seu espírito, quase eliminou totalmente sua identidade original, tão viva em outro tempo. Você parou de caminhar, olhou tempo demais para o chão ao ponto de se esquecer para onde ia. Suas pernas pararam, seus sonhos se atrofiaram no conforto de uma vida estável na mediocridade. Mas por trás das costelas ainda pulsa um coração de peregrino. Independente do que fizeram com você ou do que aconteceu, aqui não é seu lugar!

Portanto, é preciso que lembre-se de onde veio, por que está aqui e para onde está indo. Você tinha essa resposta, mas depois acabou perdendo-a em algum lugar. Procure sua antiga simplicidade sábia, e a resposta perdida estará no mesmo lugar. Quando se lembrar dessas três coisas – sua origem, sua missão e seu destino – então se lembrará que para um cristão peregrino essas coisas estão sempre entrelaçadas. Você veio de Deus, você está para Deus, e você está indo para Deus. Lembre-se disso, pois a menos que se lembre e retome o caminho, mesmo a sua melhor vida em qualquer lugar vai lhe parecer mecânica e animal, inteligentemente patética e profundamente superficial!

Será que você ainda se lembra dessa voz, peregrino? Ouça! É o Caminho... e está lhe chamando.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Temível Fidelidade

"...se o negarmos, ele também nos negará. Se somos infieis, Ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo" (2 Tm 2.13)

Deus pode tudo, menos negar a si mesmo. Ele jamais deixa de ser Ele. É um raro caso em que não poder significa ter mais poder. É o não poder mais poderoso do universo! E é diante de tanta dignidade e glória, de tanta pureza e constância, que deveríamos tremer, considerando contra quem temos sido infieis!

No entanto, quantas vezes em tentação somos também tentados a pensar que, por Ele ser fiel, perdoará nosso ato de infidelidade - e então cedemos! É a malícia levando a verdade para o precipício. Mas a fidelidade divina não serve para trazer falso alívio, nem um aval impostor às minhas infidelidades contra Deus. Pelo contrário, ela deve me arrepiar e fazer temê-lo ainda mais, pois revela a exclusiva culpa de minha alma traiçoeira. Sua fidelidade torna minha infidelidade mais hedionda do que já é em si mesma. Deus ser fiel não me habilita a traí-lo, nem me acaricia a consciência após o erro cometido; pelo contrário, isso me aterroriza no tribunal justo em que minha traição é exposta e julgada indesculpável.

É verdade, não há a menor probabilidade Dele ser infiel comigo - mas isso me leva a pensar naquelas situações que não evito (ou das quais não fujo), apesar de ciente da grande probabilidade de me levarem a trair a aliança com Deus. Até quando serei condescendente com isso? Até quando pouparei meu bem-estar, camuflando moralmente meus vícios com raciocínios pomposos que, aos pés da cruz, se revelam sempre esfarrapados e mesquinhos? Somos infieis, e em vez de nos envergonharmos e mudar, ainda nos alegramos por Deus continuar fiel a nós, enquanto Ele assiste todo o nosso entusiasmo para desonrá-lo!

Ele não nega a si mesmo, e Sua dignidade permanece imutável, mesmo quando desafiada por nossas extremas inconstâncias - mas a longo prazo isso acaba contando contra nós, não a favor. Ele nos negará se o negarmos. Tomara que nos descobrirmos infieis ao Fiel nos mate logo de vergonha e nos ressuscite para uma vida nova! Que Sua fidelidade nos inspire temor, pois a graça cobra caro demais de quem a despreza. A graça é desgraça para os que não a levam à sério. Deixemos de ser fieis a nós mesmos, e sejamos fieis a quem morreu e vive em nosso favor. Deus é duplamente digno de ser tratado com fidelidade, primeiro porque temos uma aliança com Ele, e segundo porque Ele é fiel.

O Senhor pode tudo, menos se autonegar. Assim, no último dia, quando passarmos por Seu tribunal, Ele não deixará de ser fiel a Si mesmo, Ele que é justo e santo. Portanto, meus amigos, ai de nós, sim, ai de nós porque nosso Deus é fiel!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Arrependimento e Revelação

A coisa mais triste da vida não é seu próprio fim, mas chegar ao seu fim sem tê-la vivido. O Cristianismo nos ensina que a vida real começa no arrependimento. O arrependimento genuíno, marcado pela confissão e mudança de atitudes, é o verdadeiro berço da história de um homem capaz de mudar histórias.

Na Bíblia, um dos cenários de maior arrependimento público e coletivo foi o rio Jordão, onde João Batista apareceu pregando arrependimento e batizando com água. Muitas pessoas iam até lá por curiosidade, outras por especulação. Mas naqueles dias, entrar no rio, confessar os pecados e ser afundado não era uma coisa fácil; era preciso admitir sua podridão interior. Somente os sinceros, os humildes falidos, entravam ali para simbolicamente sepultarem sua vida imprestável e recomeçarem uma nova. Contudo, esse foi o primeiro cenário que Jesus escolheu para se manifestar ao povo. É na confissão e na sincera necessidade de purificação que Ele vem primeiro. Jesus não prioriza os palácios, pelo contrário, é achado no meio de um amontoado de gente arrependida, mesmo cercada de fariseus. E o mais surpreendente é que Ele não apenas aparece nesse cenário, mas entra junto com os pecadores arrependidos!

Ele não tem pecados, não tem do que se arrepender. Mesmo assim, faz questão de entrar nas águas de nosso arrependimento e estar conosco ali. Desde aquele dia, registrado em João 1, toda pessoa que se arrepende e entra nessas águas encontra-se com Cristo. Nosso Deus não fica com um olhar seco e indiferente, julgando nossas confissões à margem de nossas angústias. Ele é diferente, é único! Entra nas mesmas águas e mistura-se com nossos corações arrependidos! E quando o descobrimos em meio ao arrependimento que é nosso, erguemos os olhos e vemos o céu aberto e o Espírito Santo descer gloriosamente. Molhados em nossa contrição, ouvimos a voz vinda do alto nos revelando que esse, bem ao lado, é o Senhor do universo e nosso Salvador pessoal!

Ele se manifesta - e quem é Ele? É o Cordeiro de Deus que veio para tomar nosso lugar de castigo. É aquele sobre quem o Espírito vem e permanece. É o que tem a primazia, que apareceu em nossa vida depois mas que é desde antes, e capaz de agora mesmo nos dar um novo depois! É o Deus que de nossas águas barrentas e vergonhosas suscita a esperança, e cuja companhia torna doce e glorioso nosso humilhante Jordão! Ali, o maior sonho dos que se arrependem se realiza, pois é ali, com Ele, que recebemos a chance de recomeçar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desperta!



Meus favos são falhos
Meus ritos ridículos
Meus laços devassos
Meus elos flagelos
Meus passos escassos – sempre descalços
Minha paz incapaz
Minha cidade atrocidade
Minhas vacinas chacinas
Meus anos profanos
Minhas retinas cretinas
Meus planos insanos
Meus ombros escombros

Brusco, busco ar, busco pão
Mas neste deserto só tenho arpão!
As falsas palavras de
Algodão
São mais larvas que
Tudo tiram
E nada dão
Às artérias sem férias
Que não tropeçam na solução.

Eis no interno o fim dos recursos...
Lá fora é inverno, meus olhos são ursos

Ó Deus! Aperta-me a Ti bem junto
E desperta para Ti este defunto!

sábado, 28 de abril de 2012

A Escola de Deus

Fui chamado a graduar-me na escola de Deus. Ali as matérias nem sempre são materiais, as disciplinas sempre nos disciplinam e as aulas costumam ser práticas. É uma escola muito estranha, eu diria. Os professores que julgamos mais incomuns lecionam os assuntos mais improváveis. A dona Ignorância, por exemplo, é uma ótima instrutora na arte da paciência. O dr. Sofrimento, por sua vez, nos ensina com maestria temas como compaixão, esperança e perseverança. Infinitamente acima desses instrutores, o maior e mais renomado é, sem dúvidas, o Espírito Santo. As aulas mais valorizadas são as particulares, e são essas que Ele gosta de ter conosco. Infelizmente, não entendemos tal privilégio e geralmente fugimos do ambiente onde a aula é ministrada - a silenciosa sala da solidão.

Mas nunca devemos andar ansiosos ou preocupados, pois nessa escola toda prova é em dupla. Jesus está conosco, o melhor de todos está ao nosso lado. Ele sempre foi nota máxima, e somente um louco não ouviria seus conselhos ou não o imitaria em tudo! Além de ser em dupla, as provas são também sempre com consulta - neste caso, à Bíblia. Se seguirmos os ensinos bíblicos, não resta dúvidas de que superaremos até os testes mais difíceis. Em outras escolas não podemos ajudar o vizinho na hora da prova, mas aqui isso é nossa tarefa - podemos e devemos sempre trabalhar em grupo! A escola de Deus é a única onde aprendemos a lição no momento da prova.

Quanto aos conteúdos ensinados, são todos surpreendentes. A matemática é muito diferente da que já vimos; aqui aprendemos a subtrair egoísmo e adicionar comunhão, e o resultado é alegria. Em geografia, aprendemos que o centro do mundo não é Greenwich, mas o sorriso de nosso Pai. Em línguas, aos poucos vamos sendo alfabetizados na leitura de traços discretos de dor, enquanto nosso exercício é perdoar e abraçar. Em química vemos o poder do Criador do Universo, e em biologia contemplamos Seu corpo de carne a agonizar sobre a cruz, para depois florescer da cova.

E por falar em dor e flor, quando o assunto é amor nós o aprendemos copiando a matéria diretamente do quadro negro - sim, o quadro negro (porém luminoso) do vitorioso Calvário de Cristo, Ele que está em formatura diária dentro dos nossos corações!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Cristianismo High-Tech

A verdadeira crise do ser humano não é de hardware, é de software. No Éden, comemos a "apple" e de lá pra cá temos tido terríveis "jobs". Viciamos a bateria da alma, e nosso coração já não tem a senha de acesso à santidade. Várias vezes nos dedicamos à coisas que subitamente perdemos, porque somos incapazes de salvá-las. Ao longo do tempo, efetuamos downloads que nos deixam "down", e damos enter em lugares indevidos, motivo pelo qual nossa mente tem sido constantemente assediada por spams perturbadores. Permitimos em nossa vida a instalação de jogos piratas perigosos, que nos iludem por meses e anos, e por isso áreas importantes de nosso ser começam a travar.

Arquivos essenciais, trazidos desde a infância, agora se acham corrompidos. Perdemos nosso dispositivo de autocorreção, desinstalamos qualidades sem ao menos perceber. Se alguém tenta nos falar de Deus, imediatamente surge em nós a mensagem "Este programa parou de funcionar e não está mais respondendo". Mensagens de erro se acotovelam, não só em nossa área de trabalho, mas em todas as demais áreas também! Tornamo-nos vagarosos para as coisas boas, e isso é um paradoxo, sinal de que nosso disco está vazio.

Contudo, o Deus da graça multiforme e da sabedoria multimídia vem ao nosso encontro e nos diz: "Amigo, deixe-me esvaziar sua lixeira, quero lhe dar um novo processador. Vou mexer em seu interior, e no futuro verá que de hoje em diante modifiquei suas memórias. Você precisa de um descanso e de uma proteção bem maiores do que esses de sua tela. Quero formatá-lo com minha alegria, e então descobrirá que tenho designado a você um papel muito maior e mais lindo do que esse seu papel de parede. Na cruz de Cristo lhe dou créditos ilimitados, assim poderá falar comigo sem olhar para o relógio - pois nossa comunicação é do tipo pré-pago e infinity. Em qualquer lugar, em qualquer momento, você terá minha cobertura, eu estarei lá lhe dando sinal.

Abra o meu Book, e verá que o que você chama de tecnologia é muito pouco perto do que um cristão pode experimentar. Cada linha do meu Book é um link extraordinário, que conecta o seu coração diretamente com o meu e o de muitas outras pessoas, numa grande e verdadeira rede! Chega de ser como um DVD, sempre rodando sem nunca sair do lugar! Seu coração é touch screen, mas somente o toque da minha mão poderá desbloqueá-lo. Eu sou o seu infalível Firewall, seu Todo-Poderoso antivírus, o único com poder de apagar eternamente seu histórico de navegação - seja ele qual for! Quando você chamar por mim, estarei sempre conectado e disponível. Tenho coisas maravilhosas para lhe transferir. Quero salvá-lo, e lhe dar acesso ao que vale a pena. Jamais ficarei offline, jamais estarei ocupado. Venha para o meu Book e eu lhe mostrarei o meu Face! E jamais se esqueça: a senha master é Jesus!"

quinta-feira, 29 de março de 2012

Surfando na Revelação

"Desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas..." (Rom 1.20)


Na grama que faz cócegas no pé
Na velha árvore calada que acolhe
Na onda que poderosa se quebra e renova
No vento a pentear o trigo no campo
Nos aromas e multisabores vegetais
No universo tão criativamente criado
No desenho único de cada nuvem e personalidade

Não vejo o resultado de uma força abstrata
Nem acho verdade na possibilidade do acaso

Contemplo a inteligência do maior sábio
E o poder da mente divinamente maravilhosa,
Descubro o fruto de uma graça eterna e externa
E o prazer que apalpa a santidade mais feliz

Percebo, mesmo com olhos visíveis e débeis,
A realidade de uma Pessoa invisível e poderosa
E uma categoria exclusiva de amor
Que nossas mentes não sabem explicar

Por toda a criação
Simples e explicitamente vejo
As impressões digitais de meu Jesus

"Mais poderoso do que o estrondo das águas impetuosas, mais poderoso do que as ondas do mar é o Senhor alturas" (Salmo 93.4)

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Gloriosa Humildade

Ontem vi um caminhão-guincho transportando um caminhão quebrado e me veio isto: que nem sempre quem está em posição mais elevada é mais importante ou melhor que o outro; e que para dar apoio e socorro às pessoas nós precisamos de uma gloriosa humildade - como Jesus, que desceu até nós.

Isso me faz considerar a humildade de Deus. Em nenhuma outra Pessoa encontramos essa mistura simultânea e fascinante de glória e humildade, em suas máximas expressões. Para nós, criaturas, essas qualidades não se misturam facilmente. Nossa glória geralmente extingue nossa humildade, enquanto nossa humilhação é sinônimo de falta de glória. Ou somos humilhados, ou glorificados. Mas Deus nos ensina em Cristo que essas coisas coexistem, e que a glória está em descer. De fato, a Bíblia ensina que a humilhação é o caminho da glória. O evangelho nos mostra que Deus em Cristo foi de tal modo glorioso que voluntariamente se humilhou (Fp. 2). Foi sabendo quem era desde antes da fundação do mundo que Jesus se encurvou e lavou os pés sujos de seus discípulos (Jo. 13), incluindo os de Judas.

Em Cristo vemos que a humildade revela a glória. Foi na hora da maior humilhação, no horrível Calvário, que Jesus mais se revelou. Ali mostrou ao mundo que só Ele era capaz de assumir aquele papel e cumprir a suprema missão entre todas. Só Ele era qualificado o suficiente para ser humilhado em favor da glória de muitos. A glória tende a ocultar o que somos, mas a humilhação sempre vai revelar o que realmente temos. A humildade cristã não significa ausência de glória, mas é o modo como ela, nobre e silenciosamente, transborda do caráter. Por isso a coroa de espinhos do humilde Galileu se tornou mais poderosa que as coroas douradas de grandes reis. Ele veio humilde, montado sobre um jumentinho - mas nunca ninguém veio com tal glória.

Ele se fez humilde até que os mais humildes pudessem enxergar Sua majestade. Sim, a glória inacessível preparou-nos o caminho acessível. Sua humilhação trouxe glória aos derrotados, e Sua glorificação nos faz sentir tomados por um misto maravilhoso, gloriosos e humildes - glorificados diante da Sua humilhação, e, ao mesmo tempo, humilhados diante da Sua eterna glória!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ser cristão

Ser cristão é algo extraordinário. Faz você experimentar coisas que, do contrário, jamais experimentaria - coisas que valem a pena. Coisas que são consequência da amizade com Deus. Não é ser religioso, é ser agradecido. Não é ser proibido, é viver a liberdade com inteligência. Não é ter prazer na abstinência, mas se abster para prazeres incomparáveis e permanentes. Não é parar de sofrer, mas perceber no sofrimento um aliado. Não é julgar os outros, mas escapar do juízo final. É ter o tempo como professor, até se graduar na festa da eternidade.

Ser cristão é algo fabuloso e real. É dobrar os joelhos e começar a voar. É abrir a Bíblia e curtir Jesus em cada pedacinho dela. É estar sempre em maioria, e muito bem acompanhado em todos os lugares. É conhecer pessoas que você já conhecia, agora de um modo que jamais as conheceu. É ter atitudes simples que arranquem dos anjos aplausos calorosos para Deus. É ganhar força para ser santo como você sempre admirou, mas nunca se imaginou. É a fé começar a viver até que se viva pela fé. É descobrir o Calvário como o jardim mais romântico, e trazê-lo para o coração. É viver coisas fantásticas e, ao mesmo tempo, ser cada vez mais realista.

Ser cristão é estar protegido pelo Autor do Universo, é ser casa do Espírito Santo e amigo do Senhor. Não é jogar a vida fora, é antes atirá-la para dentro do céu. É beber o amor mais forte que a morte, e fazer as pazes com a paz. É descobrir suas fraquezas e começar a vencer. É ir acordando várias vezes para a verdade, até que o sonho possa finalmente começar. É o milagre do pecador vencer sua vontade egoísta e ser feliz assim. É a suprema aventura da vida, é ser cópia de Cristo para ser original. É encontrar a glória do Pai e nela descobrir também a nossa. É levar a vida muito a sério - exatamente por ter ganhado motivos demais para sorrir!

Foi para isso que nascemos. Menos que isso nunca nos satisfará!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Petição de um Peregrino


Graças te dou
Tu que sabes o que e como fazer
Segundo o curso santo de Tua vontade perfeita

Que eu diminua conforme cresça o Teu abraço
E dependa quando outros buscarem seus interesses
Que eu espere e assim não jogue o tempo fora
E beba e coma Tuas letras, minha vida
Que eu me espelhe em Cristo e o espalhe em ousadia
E seja Teu e veja por mim Teu zelo e amor
Que eu olhe Teu filho e cante Dele em mim
E não decida, mas Tu por mim e eu por Ti

Que eu dê glória Àquele que me dá graça vitoriosa
E me aquiete à sombra da cruz vazia
Que eu Te enxergue e abra os olhos
E Te encontre e me descubra

Vai adiante, Sabedoria, Lâmpada e Esperança!
Que eu me humilhe aos pés Daquele
Que sempre me ensina a caminhar!

sábado, 21 de janeiro de 2012

A bisavó da Esperança

"Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Mediante ele, obtivemos acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a maturidade, e a maturidade a esperança; e a esperança não desaponta, porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5.1-5)

O Espírito nos foi dado e quando entrou em nossos corações, derramou ali o abundante amor de Deus. Esse amor é a garantia de que a esperança de sermos participantes da glória de Deus não nos trará confusão ou desapontamento. Mas... de onde vem essa esperança cristã? A Bíblia ensina que tudo começa lá atrás, com a tribulação. A tribulação tem um propósito: gerar perseverança, que por sua vez produz maturidade (ou experiência). E a maturidade traz consigo esperança - sim, a esperança de que Deus vai glorificar Seu nome em nossas vidas, com um toque muito original e peculiar. Ao receber tribulação, o cristão sabe pela fé que, na verdade, está recebendo um pacote de qualidades como garra, maturidade e esperança. Não parece e é difícil acreditar, mas há glória nas tribulações. O embrulho não é nada agradável, mas o presente em si é muito bom, e para a vida toda.

Usando uma linguagem familiar, podemos dizer que a bisavó da Esperança é a Tribulação. A avó da Maturidade é a Tribulação. A mãe da Perseverança é a Tribulação. Logo, não parece existir "maldição hereditária" na linhagem da Dona Tribulação. Contudo, essas afirmações só são válidas se o Espírito Santo tiver derramado o amor de Deus em nossos corações; pois, do contrário, a Tribulação será estéril e sempre esterilizadora de virtudes. Em Cristo essa é uma linda "família", desde que não desprezemos a progenitora. Se com esforço deixarmos de olhar para o transtorno e a dor que a tribulação nos causa no presente, e tentarmos encará-la como a fonte de tantas coisas boas, passaremos a visualizar os fatos com os mesmos olhos dos heróis da fé do passado, e seremos assim capacitados a ver motivos de gratidão a Deus em tudo e por tudo!

Lembro-me de Sansão que, cheio do Espírito Santo, enfrentou aquele leão feroz que saiu rugindo ao seu encontro - e despedaçou a fera sem nada ter nas mãos. Dias depois ele voltou lá e, entre as garras e dentes do inimigo derrotado, achou e tirou para si um favo de mel delicioso, repartindo-o depois com sua família (Jz 14). Isso me faz lembrar da obra de Jesus na cruz, pois Ele também, sem armas ou uma defesa digna de Sua inocência, enfrentou a angústia, a dor, a injustiça e a morte – mas, mesmo de mãos vazias, despedaçou nosso medo e condenação! E dias depois - mais precisamente ao terceiro dia - Ele foi ressuscitado, e então, do seio daquela circunstância antes terrível, extraiu o mais puro mel para Si! Em seguida, o Senhor veio e repartiu-o conosco, por Ele feitos membros da família de Deus! E esse mel que o Cristo nos dá, peregrinos, tem o doce e revigorante sabor da esperança.

Senhor, obrigado pela esperança! Obrigado pela experiência, e pela maturidade que desejas nos conceder! Mas ajusta nossos olhos para enxergarmos Teu coração, que nos dá tribulação como um presente de amor. Acrescenta a nossa fé! E que, à semelhança do Teu Filho, nós sejamos por Teu Espírito também capacitados a lutar e a tirar mel de entre as garras deste mundo terrível que, por nós, Tu já derrotaste! Amém!

"Tenho vos dito essas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Oração ao ler de Elias

Senhor, esta noite baixo-me ao chão para erguer a voz em pranto diante de Tua face. De todos os desesperos gerados em mim por Tua luz reveladora, o maior de todos é o de me descobrir longe do Teu querer para minha vida. Ah, como já tenho sofrido por não esperar por Ti, como em vão me debati embaraçado em teias que teci – mesmo com as melhores intenções em mente! Tu, por misericórdia, muitas vezes me livraste, mas duramente aprendi a não confiar mais em mim mesmo! Bem algum há em minha carne, e meus olhos são meus maiores enganadores (Rm 7.18).

Como preciso discernir o que tens para mim! Por Teu amor, suplico que me livres de levar cargas que não puseste em meus ombros, ou de abandonar o que me deste a levar. Não me deixes leve demais, Senhor, de modo que qualquer vento me desvie do Caminho, nem tão pesado a ponto de não poder prosseguir a caminhada. Nada menos nem nada mais – somente Tua porção para mim, e na medida que determinares, e no tempo que ordenares, e do modo que quiseres, e com quem Tu desejares! Que eu saiba falar ou calar, fazer ou esperar, e seja sempre capaz de ler corretamente aqueles momentos em que as letras de nosso alfabeto não existem. Intimidade Contigo, é o que peço!

Afina-me no teu tom, tange-me na Tua hora! Faz-me reconhecer o tempo de aparecer com Tua ousadia (1 Rs 17.1), e o tempo de me esconder quando mandares (17.3), e seja eu capaz de confiar em teus improváveis meios de sustento (17.4), e sábio para dar-te glória – na casa da viúva (17.13-24) ou no cume da montanha (18.30-46)! Ajuda-me a discernir Tua voz suave a conversar com meu coração amedrontado, no fundo da caverna do velho deserto, para em seguida vir para fora em obediência ao Teu chamado (19.11-13). Que eu ouça de Ti o que vês em mim, o que desejas comigo – e vá em seguida para onde me mandares (19.15-18). E, assim, com fraqueza mas franco arrependimento, mesmo sendo homem fraco como outro qualquer, eu possa alcançar a plenitude e a felicidade de viver aqui na terra a vida do céu (Tg 5.17,18)!

Até o dia em que, finalmente, com Teu redemoinho de fogo glorioso, Tu me eleves e leve leves para bem junto de Ti mesmo, ó Cristo do Deus vivo - total esperança da glória (2 Rs 2.11, Cl 1.27)!