segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Aventura nos Braços (Sl.131)


Tenho aprendido, com muito custo, que uma de nossas maiores dificuldades ao longo do Caminho não são as grandes batalhas que temos que lutar contra os nossos inimigos. Não são as pedras que certas pessoas à margem da estrada nos atiram, nem tampouco trata-se de alguma tarefa herculana a realizar.

Estou convencido de que um dos maiores desafios é aprendermos a desfrutar do colo de Deus. Infelizmente, a falta de movimentos bruscos ou vertiginosos acentua nossa miopia para enxergarmos toda a aventura que em Seus braços fomos chamados para viver. Acreditamos que ali é apenas o lugar de nos abastecermos dos recursos divinos, e por isso começamos a nos debater intensamente, logo depois que dali sugamos o suprimento que desejamos. Nossa vida cotidiana é uma sucessão contínua de atividades, e em um mundo que premia o hiperativismo, definitivamente desaprendemos a descansar.

Demora um pouco até entendermos que a verdadeira aventura acontece quando nossos olhos se deparam com o Seu olhar para nós. Custa até percebermos que é nesse silêncio que nossa comunhão ganha voz, e toma a palavra.

Estar quieto no colo de Deus é, realmente, andar com Ele. Só ali há satisfação, e qualquer outro alimento só irá ferir os lábios da alma que, na realidade, está faminta pelo Seu olhar.

O que tenho visto é que em nenhum outro lugar, momento, pessoa ou atividade nosso coração poderá descansar - enquanto acelera.

Aquieta e faz calar a minha alma
Já não à procura do Teu seio
Mas serenamente Te fitando os olhos
Enquanto neste indescritível momento
De silenciosa e pura comunhão
Os lábios cerrados e feridos de meu espírito
Possam cochichar
Ao compasso das Tuas pulsações
Que finalmente

começo a ser
Teu

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sapatos de Lágrimas


Senhor,
Meus olhos distorcem minha vontade
São bandejas que oferecem cobiça e ilusão
São pedreiros de fantasias distantes
E escamoteáveis, segundo minhas paixões.

Ajuda-me a fechá-los
Auxilia-me a enfaixá-los e me ajoelhar
Diante de Ti, fiel joalheiro
Que transforma e lapida o que é pedra por natureza.

Que eu não confie neles e
Que o meu espírito não acolha seus conselhos.
A estrada tem buracos demais, perigos demais
Para eu me guiar por minha visão.

Mas que eu feche os olhos
E aprenda o que é ser guiado pelos ouvidos,
Os ouvidos que abraçam a Tua Palavra,
A Palavra que arrepia a minha carne,
A carne que é unida à cruz do Filho e que
Canta com a paz de quem venceu

De quem venceu a estrada e seus perigos
Pois foi conduzida por Tua mão, Tua voz
Até chegar mais perto e ter os olhos curados
Para que Te avistem,
Olhos cujos sapatos são
Lágrimas que correm até Jesus.

sábado, 19 de setembro de 2009

Conselhos de um Milionário



De um jeito ou de outro a morte incomoda a todos, ela nos lembra que não somos indestrutíveis. Porém, sob a ótica do fim ganhamos uma visão mais nítida a respeito do que realmente vale a pena. Ali temos noção real do legado que deixaremos depois que formos embora.

A eternidade está no coração do Homem e por isso a morte o choca, deixa-o perplexo e o faz chorar diante da falta de sentido que ainda não sabemos explicar. Antes de partirmos, queremos nos certificar de que seremos lembrados por algo digno. Queremos deixar boas marcas no mundo e no coração das pessoas amadas. Queremos transmitir algo de valor aos que virão, algum aprendizado que possamos transmitir às gerações futuras, a fim de que vivam melhor do que nós.

Anseios assim são tão antigos quanto a humanidade. Há quase três mil anos, viveu um homem que soube expressar muito bem as mesmas preocupações, bem como a agonia diante da beleza da vida e sua paradoxal bestialidade. Seu nome era Salomão, ele foi rei de Israel e teve muito poder e riquezas. Outros reis da Antiguidade vinham visitá-lo para ouvir de sua sabedoria e observar sua grandeza e glória. Em sua velhice, vendo a morte se aproximar, Salomão sentiu a inspiração de escrever seu último livro, uma espécie de resumo de tudo o que aprendera em sua experimentação e observação da vida.

Materialmente, ele foi um caso de sucesso raro ao longo da História. Planejou, executou e conquistou tudo o que havia desejado. Mas agora, no cais da vida, o velho patriarca olha para trás e parece não ter muitos motivos para sorrir. Começa a escrever Eclesiastes de forma melancólica: "Tudo é vaidade", alerta várias vezes, "é correr atrás do vento".

Salomão vê a morte se aproximar. É riquíssimo, mas está partindo e descobre que o ouro não lhe vale muita coisa. Percebe que seu legado não é muito, pois não garante nada de valor permanente às gerações seguintes. Perturba-lhe saber que depois que expirar, outro virá e fará o que quiser com tudo o que penou para construir e consquistar. Sem ter mais o que fazer, o velho rei procura advertir seus leitores de que a vida que consiste só de trabalho e desejo de riqueza é uma ilusão.

Ao fim do livro, o sábio clama: "Vocês, jovens, lembrem-se de seu Criador agora que estão começando, cheios de vigor e entusiasmo! Pois os dias passam depressa e logo a velhice e o cansaço chegarão, quando então todas as coisas que pareciam muito importantes e atraentes perderão o sentido, e já não lhes trarão qualquer contentamento". De fato, tais palavras converteram-se em um legado precioso, e chegaram até nós com o mesmo valor de quando foram escritas, milênios atrás.

É interessante nosso interesse por entrevistas dadas por homens de negócios bem sucedidos. Queremos saber o que pessoas experientes e de sucesso têm a nos dizer acerca de como vencer na vida. Todavia, nunca ouvimos o que tais pessoas teriam a confessar em seu leito de morte. Talvez, se escrevessem com profunda honestidade sobre a vida que tiveram, não julgaríamos que são ilustres.

No fim de seu livro, o que o velho Salomão concluiu é que o grande sucesso da vida é viver de modo que quem vai embora continue tendo sucesso eterno. E ele mostra que isso só é possível quando, nesta vida, você se relaciona com o Deus Eterno, o único que pode satisfazer o suspiro por eternidade que habita em todos nós.

Particularmente, faz alguns anos que abri a Bíblia e comecei a seguir o conselho desse velho sábio. Desde então, tenho provado o que é uma vida cheia de sabor, de esperança, de sentido, de consolação e de verdadeira paz e alegria. Tenho visto que somente alguém que descobriu um tipo de sucesso acima e além da morte, é alguém que pode fazer de sua vida um verdadeiro legado para aqueles a quem ama.

Considere Deus em tudo desde cedo e sua vida será digna de ser considerada. Busque conhecer o Deus que o criou e é eterno, e arrependa-se de seus maus caminhos, mesmo se sua juventude já passou. Mas se ainda é jovem, lembre-se de que somente uma vida que se arrepende e se volta para Deus é uma vida que não se arrependerá ao chegar ao fim de seus dias.

(publicado no jornal Classe A em 18-09-09)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Só o Oleiro



A maioria dos peregrinos já teve a nítida sensação de estar andando em círculos, sem sair do lugar. Uma das razões disto pode ser a incredulidade. Outra, porém, tem a ver com o fato de que é necessário que um vaso dê muitas voltas sobre si mesmo, enquanto é amassado na roda giratória do Oleiro.

Deus poderia ter nos criado a partir do nada. Mesmo assim, decidiu nos fazer do pó da terra. O barro não tem brilho próprio, e é fraco, mutável, sujeito. Pode ser duro e num instante se derreter. Nossos corpos - e num sentido mais amplo nossa vida - foram feitos para serem vasos de barro. Nosso valor não está em nossa matéria, mas vem do Oleiro que nos molda de acordo com a Sua vontade. Nossa beleza vem apenas do Seu trabalhar em nós, ela é fruto de sermos tocados por Suas mãos. E estejamos certos de que quanto mais elas nos quebrarem, mais refinados seremos.

Vasos ornamentais são de materiais caros, mas vasos funcionais são de barro. Deus está interessado em nos moldar à Sua maneira e assim nos fazer Seus vasos de barro. Nesses, Ele deposita o tesouro do evangelho de Jesus, para que a excelência do poder seja de Deus.

Portanto, se apesar de sua fé e obediência a Jesus, você tem se sentido a dar voltas e voltas no mesmo lugar, não desanime peregrino! Para nós é difícil de entender, mas a Sua Palavra nos mostra e garante que do lodo que somos Ele bem sabe como suscitar vasos de honra para Si!

Em minhas belas curvas de barro
Com minhas lindas pepitas de ouro
E em meio às formas e tendências
Orgulhosamente misturadas em minha base
O Oleiro enxergou-me de todos os lados
E quebrou-me

Extraiu-me as pepitas
Umedeceu-me com lágrimas e me fez dar
Voltas e voltas parado no mesmo lugar...

Então bastou encostar-me Sua mão
E eis que me desfiz
Bastou que me tocasse – e já ninguém mais
Pôde me reconhecer

Mergulhado em meu barrento derretimento
Descubro que sem Ele apenas serei lama
Até tornar-me pó...
Mas bom vaso
Só o Oleiro poderá fazer-me

Só o Oleiro – Ele só!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Ponte


Peregrinos e peregrinas,

Após breves considerações, decidi compartilhar algumas coisas que o Rei da Glória tem nos mostrado, conforme temos caminhado com vários outros peregrinos ao longo deste Caminho.

Deixe-me começar dizendo que descobrimos que o Caminho é vivo, é uma pessoa; para ser exato, ele é A Pessoa. Sim, o Caminho é Jesus. Esse Caminho passa por muitos lugares, por muitas montanhas e vales, por desertos, mares, rios, neblinas, angústias, desfiladeiros, dores, pontes, alegrias, amores, paz, fontes, refrigérios, poços, pastos verdejantes.

Algumas vezes, para nosso espanto, o Caminho nos leva à lugares sem saída, como levou aqueles israelitas e os pôs entre os penhascos e o mar Vermelho. Como fez com o jovem José, levando-o às masmorras egípcias. Como fez com o moleque Davi, diante do gigante Golias. Isso acontece porque o Caminho deseja nos conduzir à revelação da glória de Deus, e sabemos que o impossível é o palco da glória.

Outras vezes, o Caminho, embora seja somente um e o mesmo para todos, revela-se único e exclusivo, ao longo da experiência pessoal de cada caminhante. A vontade de Deus é uma para todos os Seus filhos e, mesmo assim, ela trabalha de modo exclusivo em cada um deles.

Bem, é difícil explicar como é o Caminho para quem não está caminhando. É muito difícil entender o Caminho se tudo o que você tem é apenas o pedaço de um velho mapa rasgado, sem qualquer continuidade ou rosa-dos-ventos.

Caminhar é preciso! Só a experiência da caminhada provará que o Caminho é - Ele mesmo - o ponto-de-partida, a estrada, o guia, o mapa, a força, a água, a bússola e o destino. Isso mesmo, caminhando você perceberá que Deus é a ponte que Ele construiu para nos levar até Ele mesmo!


E aí, vamos em frente?