terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Saudade, o Inferno e o Amor

Saudade é a mistura de distância geográfica, tempo de ausência, tempo restante para o reencontro, e amor. Distância geográfica porque se você está a meio mundo de alguém, sente saudade mesmo que tenha se despedido há poucas horas. Tempo de ausência porque cada minuto sem a pessoa torna a saudade mais forte. Tempo restante porque quando nos despedimos sabendo que o reencontro vai demorar, a despedida em si já é cheia de saudade. Mas, acima de tudo, está o amor.

Porque sem amor, os três primeiros fatores não têm sentido. Se você está longe de uma pessoa, ou há tempo sem vê-la, mas não a ama, tudo bem, não sente saudades. Mas se houver amor, é certo que haverá também saudades. Se você ama, mesmo que faça bem pouco tempo que viu a pessoa amada, logo sente falta. Se ama, até a menor distância faz com que tenha saudades - mesmo que a pessoa esteja na sala e você no quarto, por exemplo. Quando se ama, o tempo restante para o reencontro parece levar quase uma vida inteira. Assim, de modo estranho, o amor, que é tão inocente e belo, transforma a ausência e a saudade em criaturas terríveis e cruéis. Pois, mesmo sem querer, o amor que sentimos faz toda distância ser grande demais, toda ausência longa demais, e toda despedida franca violência ao coração.

Agora, preciso lhe dizer o que é Inferno. Direi que o Amor verdadeiro, do qual temos e sentimos uma pequena dose, é na verdade Uma Pessoa. E o Inferno é o lugar onde o pleno Amor restringirá para sempre Sua maravilhosa presença. Assim, o Inferno é, em síntese, o lugar de maior distância entre nós e a Pessoa mais amável do universo. Inferno é a intranscorrível eternidade sem a presença da Pessoa mais amada que existe. Inferno é estar longe de Deus para sempre, sabendo que não há nem haverá jamais qualquer previsão de reencontro com Aquele que é o próprio Amor. Inferno é a saudade elevada à infinita trágica potência.

Toda a saudade que hoje sentimos é uma amostra minúscula de Inferno, enquanto o nosso amor é réplica simplória da gloriosa eternidade com o verdadeiro Amor. Devido à saudade, hoje nosso amor traz em si glória e ruína, prazer e sofrimento, mas nem sempre será assim. Pois embora essas coisas antagônicas estejam nele entrelaçadas, na eternidade futura elas estarão para sempre separadas, em eterno afastamento e crescente intensidade. Lá haverá, de um lado, amor perpétuo e presença gloriosa; e de outro, saudade sem esperança e solidão infinita.

O Evangelho de Jesus, entretanto, nos surpreende com a notícia extraordinária de que existe hoje mesmo um meio de experimentarmos amor sem qualquer saudade - o pleno amor do Deus de Amor! Sim, Ele sempre estará perto de nós, não se ausentará nem por um segundo. Ele sempre virá para nos reencontrar. Nada nem ninguém em tempo algum poderá nos separar do Seu amor! E Ele nos ama, realmente! Logo, meus amigos, chega de tristeza! O melhor abraço do universo nos espera! E, nesses termos, pelo amor de Deus, seria absurdo demais morrermos de saudade!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Caminho chamando

Tem dias assim, em que parece que todos aqueles sonhos que Deus um dia prometeu realizar em sua vida parecem estar há milhares de anos-luz (ou “anos-sem-luz”, eu diria) da realidade de seu cotidiano. Sentimento surpreendente, em um momento em que nenhuma peça parece estar faltando em seu tabuleiro. Antigos gigantes inimigos foram superados, batalhas temíveis estão vencidas, seu álbum de figurinhas está completo. Ainda assim, que estranho, falta algo. Logo você se questiona e lembra que as coisas já foram bem mais difíceis, e que depois de tantos acertos muita gente gostaria de estar aonde você chegou hoje.

E, contudo, você era mais feliz antes. Por quê? E por que sente saudade de um passado mais sofrido? Será que acabou se transformando em um viciado no sofrimento? Não, não é verdade, ninguém gosta de sofrer – mas quando o sofrimento é o caminho para se tornar a pessoa que se nasceu para ser, ou para se chegar no lugar ao qual se existe para pertencer, vale a pena.

Assim, inexplicavelmente aborrecido e sentindo-se velho por dentro, você decide sair à caça de novos desafios que possam lhe devolver a motivação. Pouco tempo depois, porém, se dá conta de que suas novas metas são, no fundo, as mesmas de bilhões de outros seres humanos que você não admira. É no mínimo frustrante perceber-se um imitador de quem em nada se quer imitar. Mas… o que há de errado com você? Por que não consegue ser feliz numa vida onde todos conseguiriam? Por que não pode ser contente como todo mundo?

E a resposta é muito simples: é que você não é daqui. As cintilantes luzes dessas ruas, casas e carros lhe causaram uma grande e terrível amnésia, que juntamente com o apagador da rotina esfregado freneticamente contra seu espírito, quase eliminou totalmente sua identidade original, tão viva em outro tempo. Você parou de caminhar, olhou tempo demais para o chão ao ponto de se esquecer para onde ia. Suas pernas pararam, seus sonhos se atrofiaram no conforto de uma vida estável na mediocridade. Mas por trás das costelas ainda pulsa um coração de peregrino. Independente do que fizeram com você ou do que aconteceu, aqui não é seu lugar!

Portanto, é preciso que lembre-se de onde veio, por que está aqui e para onde está indo. Você tinha essa resposta, mas depois acabou perdendo-a em algum lugar. Procure sua antiga simplicidade sábia, e a resposta perdida estará no mesmo lugar. Quando se lembrar dessas três coisas – sua origem, sua missão e seu destino – então se lembrará que para um cristão peregrino essas coisas estão sempre entrelaçadas. Você veio de Deus, você está para Deus, e você está indo para Deus. Lembre-se disso, pois a menos que se lembre e retome o caminho, mesmo a sua melhor vida em qualquer lugar vai lhe parecer mecânica e animal, inteligentemente patética e profundamente superficial!

Será que você ainda se lembra dessa voz, peregrino? Ouça! É o Caminho... e está lhe chamando.