quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tristeza, Demora e Arrependimento


A tristeza decorrente de pecar pode ser benéfica ou não. É benéfica se for combustível para genuíno arrependimento, e maléfica se nos afastar de Deus devido a vergonha do pecado. Satanás explora a segunda possibilidade e nos acusa com força. Se pecamos, temos a tendência de "darmos um tempo" com Deus e nos afastamos, como se Ele tivesse feito algo de errado. No fundo ficamos envergonhados, sentimo-nos indignos de falar-lhe e de ler Sua Palavra (e somos mesmo). Consideramo-nos "sem moral" para nos aproximar, e por isso achamos melhor deixar "a poeira baixar", dar tempo para retomarmos o que quebramos.
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Contudo, é inútil esperar "a poeira baixar" para buscar a Deus! O tempo jamais apaga o pecado, cuja poeira nunca assentará diante do redemoinho da santidade do Senhor. A falta cometida há 10 anos ou há 10 minutos permanece igualmente horrível à vista divina, pelo que ignorar o próprio pecado cometido não faz sentido, é tristeza amarga que nos deixa afastados do Pai.
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Além disso, por que demoramos tanto em voltar à presença do Eterno, se nossa aceitação sempre veio do sangue de Jesus? Jamais - nem mesmo nos momentos de mais sublime espiritualidade - dependeu de mérito nosso! Pode ser que atrair Sua presença dependa de sensibilidade adquirida com vida de santificação; todavia, o acesso a essa presença foi conquistado por Cristo no Calvário. A "moral" vem exclusivamente do sangue da cruz, nunca de nós mesmos. Portanto, mesmo sentindo-nos e estando sujos de pecado, precisamos dobrar os joelhos o quanto antes e clamarmos pelo sangue que purifica. É exatamente por não sermos sequer dignos de abrir a Bíblia que precisamos urgentemente fazê-lo, pois são os sujos que precisam ser lavados, e só a verdade lava, e Sua Palavra é a verdade. Somente Cristo é o oxigênio essencial para nosso espírito ofegante.

O único beneficiado com nossa demora é o adversário. Se dois espadachins duelam entre si violentamente e a espada de um cai-lhe da mão, parece-nos claro que quanto mais o desarmado demorar para juntar sua arma, mais facilidade o outro terá de feri-lo novamente. Assim, amigos, juntemos depressa a espada que Ele nos concedeu, pois é com ela que venceremos. Mesmo tristes ou humilhados, corramos para o Senhor cuja presença não somos dignos - pois ali conhecemos a graça, como verdadeiros Mefibosetes na presença do Rei.
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Ah, Senhor!
Teus olhos são mirantes
Nos quais Te vejo
E me arrependo de
Não tê-lo feito antes!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

José e a Presença que liberta


Temos pouquíssima noção da glória de Deus, porque não valorizamos Sua presença em nossas vidas. Pouco nos custa entristecer o Espírito Santo, como se pudéssemos ter vida fora Dele. Enquanto trocarmos Sua presença por qualquer coisa, seus sonhos não se realizarão em nossas vidas.

Impressiona-me José do Egito. Vendido como escravo pelos irmãos, perdeu a presença da família, da terra natal e do carinho do pai; contudo, "Deus era com ele". Quando tentado pela mulher de Potifar, sabe que o pecado o fará perder a presença de Deus e por isso não hesita fugir da presença do pecado. Tudo isso tem-lhe um custo: expulso pelo patrão ingrato, José perde a perspectiva, a credibilidade, perde até sua liberdade - mas está decidido a não perder a presença de Deus.
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Durante todo o tempo que esteve no cárcere (e foram anos), "Deus era com ele". Quando alguém tem essa presença, não é influenciado pelos ambientes nos quais tem de viver, mas influencia-os, mesmo silenciosamente. E quando os prisioneiros ilustres têm sonhos perturbadores, José imediatamente percebe que estão tristes. Presença de Deus traz sensibilidade para com o próximo. Presença traz discernimento e coragem para revelar sem gaguejos o destino dos homens, seja agradável ou terrível.

Anos mais tarde, quando o moleque já tem 30 anos, barbudo e esquecido no calabouço, é chamado às pressas à presença de Faraó, mas não se intimida - afinal, está acostumado à uma presença infinitamente mais gloriosa. "Quem encontraremos como ele, em que está o Espírito de Deus?", surge a pergunta. Realmente, nosso mundo faminto sofre e geme, ausente e carente de pessoas cheias do Espírito, homens e mulheres que, custe o que custar, não abram mão da presença divina, e que por isso serão conduzidos à glória que lhes foi prometida e reservada, desde o tempo em que todos zombavam do sonho recebido.

O caminho, peregrinos, passa por vales tenebrosos, de sombra e morte. Todavia, a luz brilha vitoriosamente sobre as trevas quando a fé ouve o sussurro calmo e acalmante de Emanuel, que gentilmente nos segreda: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos". E não temeremos mal algum, porque Ele está conosco.

Mas... será mesmo que Ele está conosco? Temos valorizado Sua santa presença? O véu da separação já foi rasgado para termos acesso a Ele, rasgue-se hoje nossos corações para buscá-Lo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Teu abraço

"Jesus, tomando as crianças em seus braços, pôs as mãos sobre elas e as abençoou" (Mc 10.16).

É uma daquelas noites
Em que o Teu abraço
Seria chuva de verão sobre o futuro
Seria o melhor compasso
Para a canção que procuro
Seria um suave passo, talvez um cacho
De carinhos ditos em murmúrio

É uma daquelas noites
Em que o Teu abraço
Seria cores vivas a brilhar no escuro
Seria um bom pedaço
De pássaro a cantar no muro
Seria algo de aço
Neste frágil velho prematuro

Para falar a verdade, eu Te amo.

Eu Te amo com o amor
Das menores crianças
E com a fé dos marinheiros
E com o ciúme dos antigos amigos
E com a gratidão dos saciados
E com a força dos sobreviventes
E com o orgulho dos emigrantes
E com a humildade dos perdoados
E com a ousadia dos condenados
E com a inocência dos ingênuos
E com a confiança de uma avó
E com a saudade dos solitários!

E com a alegria de quem amor não merece
Hei de amar-Te,
Ó verdadeiro Deus que me abraça!
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Não há melhor bênção do que, como criança, ser abraçado pelos braços que por nós se abriram naquela cruz!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Travesseiro ou marco?


Mesmo fugindo de seus temores, Jacó, sem se dar conta, estava nos trilhos da vontade de Deus. Dirigia-se insconcientemente para o trabalhar de Deus em sua vida, quando decidiu apoiar a cabeça e adormecer sobre a firme pedra que encontrou, usando-a de travesseiro.

Muitas vezes, Deus põe em nosso caminho pedras para delas lhe fazermos marcos de adoração. No entanto, quando encontramos a "pedra ideal" que parece combinar perfeitamente conosco, nós a usamos para benefício próprio. Afinal, ela nos dá alguma solidez e relativa segurança; e sobre seu conforto possível, adormecemos profundamente.

Amigos, nós também estagnamos e adormecemos sobre coisas terrenas que nos dão segurança. Deus não plantou pedras no caminho para tropeçarmos nelas, tampouco para serem travesseiros que nos lançam em profunda inércia com relação à vontade do Pai. Mas a menos que recebamos revelação da soberania e da presença de Deus, continuaremos dormindo no que deveríamos lhe dedicar em adoração e sinal de gratidão.

Jacó tem então o sonho revelador e surpreendente de que a presença de Deus está naquele terreno ermo e pedregoso. Imediatamente desperta, pois sonho que vem do céu nos faz despertar. Ao levantar-se, toma a pedra e faz dela marco da experiência e da revelação recebidas. Desse dia em diante, o nome do lugar deixa de ser Luz para ser Casa de Deus. O peregrino derrama azeite sobre a pedra em sinal de adoração, e segue caminho.

O que fazemos com o que Deus nos dá é bastante importante na caminhada. Cuidado com áreas em que você sente o chão mais firme, pois talvez seja ali que fique estirado. Glorifique a Deus onde se sente mais seguro, dedique isso a Ele, e não permita seu coração se agarrar a isso, sob o risco de ficar sonolento.

Deus, cheio de misericórdia, se revela e nos ensina que não há pedra - boa ou má, encontrada ou recebida a tiros - que Ele não inspire a se tornar maravilhoso marco espiritual. E então, à semelhança de Jacó, nos surpreendemos com a presença divina em nossa alma, esse terreno tão ermo e pedregoso. Nesse mesmo dia, nosso coração deixa de ser lugar com alguma clareza e torna-se verdadeiramente a casa de Deus.

E quando isso acontece, amigos, estamos prontos para seguir o seu Caminho para nós.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O amparo no grito de desamparo


"O começo da fé é o fim da ansiedade. O fim da fé é o começo da ansiedade" (Jorge Müller)

Ah, minha alma! Por que pensas que Deus te abandonou? Por que choras como se teu Deus não fosse capaz de ressuscitar mortos ou de mudar o curso da história em um só dia? A ansiedade te embriagou de angústias e espancou tua esperança. E assim te vês, sem vigor e envelhecida, não por viveres há muitos dias - mas porque vives muitos dias em um só!

Por que tantos suspiros? Por que crês nas piores projeções que a mente sugere? Sangras por golpes que não sofreste, e quando de fato és golpeada buscas curativos em muitos hospitais, todos falsos, mas pouco socorro no Bálsamo divino. Regas com lágrimas de desespero o que acabaste de plantar por tal ainda não haver brotado! O futuro que nem nasceu te ofende, e o passado que morreu empalhaste e amarraste a ti, levando-o por onde vais qual fardo abominável.

Ah, minha alma! Olha hoje para a cruz de teu Senhor. Observa as feridas que foram abertas para curarem as tuas! Escuta o grito do Cristo desamparado! Sabes por que gritou? Não foi por ter sido surpreendido, mas para que tu soubesses que o tamanho do desamparo que Ele sofreu é o tamanho do amparo que existe para ti! Uma mãe pode esquecer-se do filho que mama, mas o Senhor jamais se esquecerá de ti!
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Vês o desespero que sente pela ausência do Pai, ao carregar nossos pecados? É essa a intensidade com que podes alegrar-te, pois Ele veio para dizer que seu nome é Emanuel, o Deus conosco que enche de paz nossos vales de sombra e morte! Vês os grandes pregos que atravessam Suas mãos no madeiro? Mais profundamente que eles, és tu que Ele tem gravado nelas!

Sim, contempla a cruz vazia, o sangue ainda fresco, sempre abundante e suficiente. O justo viverá pela fé, a fé de que o Caminho não vai errar a Si mesmo e nos perder! Ele é o mapa que falta no nosso! E podes confiar que Aquele que formou as pernas de teu espírito e as fortalece sabe muito bem por onde e até onde elas podem caminhar!

"O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não tenhas medo, nem desanimes" Dt 31.8