Há tristezas que nos aniquilam
toda a alegria, como a tristeza do remorso, da amargura e da revolta, a
tristeza da perda ou da pena por si mesmo. São tristezas de morte. Mas há também um tipo de tristeza que é para a vida. No Evangelho, tristeza e alegria, inimigas
desde sempre, foram radicalmente conciliadas – e o elo mágico que as conecta é
o arrependimento (2 Co. 7.9,10). O Evangelho é a boa-nova de grande alegria,
mas que também entristece os Homens aos mostrar-lhes como são pecadores
monstruosos. Esta tristeza segundo Deus é importante, pois gera arrependimento. Apesar
de sombria e dolorosa, foi projetada pelo Senhor para lançar luz sobre nossas
reflexões, a fim de nos arrependermos e entrarmos pelo caminho da realidade,
onde a alegria verdadeira nos espera (Ec. 7.2-4).
Portanto, a menos que aceitemos a
tristeza que produz mudança de mente e de atitudes, não alcançaremos a alegria.
O mundo tenta subir e alcançar o topo da alegria, mas não tem força motriz
suficiente para isso. Somente o Evangelho ensina-nos a chegar lá: é preciso primeiro
recuar em arrependimento, e então recomeçar. Antes de um monte sempre existe um
vale, e se você quiser subir, deve lançar-se sem medo a este vale, deve descer a
ele a toda velocidade. Aprendi esse princípio com meu pai, quando viajávamos em
família com o velho carro carregado. E é isso que também aprendo com meu Pai
celeste, quando viaja com Sua família por este mundo irregular. Só alcança o
cume da alegria quem vem embalado com força do vale da tristeza.
Com lágrimas, o Evangelho nos fará ter um
coração cada vez melhor, e não devemos estranhar se ele nos conduzir através de tristezas surpreendentes ou imerecidas, nem nos iludirmos achando que embarcaremos nesta jornada
rumo à alegria eterna, sem antes nos arrependermos de nossas falsas alegrias pecaminosas.
O Evangelho é a boa notícia de
grande alegria, ele nos leva à presença de Deus na qual transbordamos dela (Sl.
16.11). Mas lembremos que este óleo perfumado escorre para nós a partir do Calvário.
Quis Deus que o quadro mais alegre fosse pintado com pinceis de
tristeza e com tintas de dor, por aquelas mãos transpassadas por grandes
pregos. A alegria da salvação nasceu da maior tragédia que o universo já
testemunhou. Para o rio da alegria correr pelo mundo inteiro, primeiro a Rocha de sua
nascente precisou ser ferida e confessou: “a
minha alma está cheia de tristeza até a morte” (Mt. 26.38). Mas tudo isso
aconteceu para que, em Cristo Jesus, até o trágico se transformasse em
maravilhoso, até a tristeza saltasse de alegria, e até o Calvário se tornasse lugar
de riso e de festa, se com humildade imitamos ao Rei sofredor que nos enche de celebração!
E se a alegria dos
cristãos tem sua raiz na lástima da maior tragédia que o mundo já viu, que
tristeza será capaz de roubar-lhes o sorriso? Por isto, é com razão que eles podem dizer: "Viva a alegria, a alegria que vem
da triste cruz! E viva também a tristeza, a tristeza que nos conduz arrependidos ao Calvário do Salvador, fonte inesgotável de nossa alegria invencível"!
“Entristecidos, sim, porém sempre alegres!” (2 Co. 6.10a).
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