Papai me presenteou um grande
quebra-cabeça quando eu ainda era muito pequeno, o qual tenho até hoje, e
ainda não o terminei de montar. O começo foi um grande desafio. As primeiras
peças sempre são difíceis, não é mesmo? Mas, em volta delas, pouco a pouco, as
demais começam a fazer sentido. Algumas peças desse grande quebra-cabeça são muito
belas, enquanto outras parecem não fazer qualquer sentido, por muito que se
olhe para elas. Algumas peças são cheias de luz e de cores, enquanto outras são escuras e enigmáticas. Houve fases em que estar ali, tentando encaixar
cada peça em seu exato lugar, pareceu-me como um desgastante pesadelo. Em
outros momentos, porém, confesso que o desafio foi vibrante e prazeroso.
- Que peças estranhas são estas,
papai? – perguntei-lhe, certo dia. Ele apenas olhou-me, em silêncio, e eu prossegui:
- Acho que vieram erradas, elas não devem fazer parte deste quebra-cabeça. Não
se encaixam em lugar algum! Acho que vou jogá-las fora!
- Espere, meu filho. Tem partes
que demoram mais para entendermos aonde se encaixam. Mas não jogue fora o que
hoje parece não fazer sentido, pois mais adiante isso certamente vai lhe fazer falta! Descartá-las seria falta de sabedoria.
- Mas por que as outras peças
foram diferentes destas? As peças lá do começo eram muito mais coloridas
e bonitas.
Papai soltou um suspiro e explicou:
- Filho, se todas as peças fossem
iguais, do mesmo formato e com a mesma cor, isso não seria um quebra-cabeça, ou
seja, ele não teria em si mesmo nenhuma conquista ou segredo a ser revelado no
fim. Por isso, não é sábio perguntar por que as peças de antes foram melhores
do que estas de agora. Se você se apegar demais às peças de ontem, e largar as
de hoje, você vai crescer e ficar velho, sem contudo jamais avançar em seu
trabalho de descoberta. Com o tempo, você perceberia que, por mais belas que
sejam as peças do seu passado, elas precisam de outras diferentes para que
tenham um verdadeiro sentido. Quando a imagem do quebra-cabeça estiver mais
perto do fim, você vai entender que foram as peças mais estranhas e escuras que
fizeram contraste e acrescentaram brilho ao quadro, exatamente como acontece em
uma noite de céu estrelado. Por isso, meu filho, não fique comparando as peças
de ontem com as peças de hoje ou de amanhã, porque elas são e precisam ser
diferentes. Se fossem sempre iguais, não haveria razão para você e eu
estarmos juntos nisto. Mas, à medida que você continuar e ver o que lhe será
revelado com a união de todas elas, dirá: valeu a pena! As peças belas
precisam das peças feias, porque são as peças feias que fazem você reparar como
são belas as belas. Mas beleza de verdade seus olhos verão quando tudo isto aqui tiver terminado.
Então, você olhará para tudo e, sorrindo do jeito que eu lhe amo ver sorrir, vai
entender e dizer: obrigado, papai, por me presentear o grande quebra-cabeça quando eu ainda era muito pequeno – e por me ajudar a não parar!
Bem, hoje eu estou aqui, escrevendo, e ainda
não o terminei de montar. Mas, aos poucos, as pecinhas vão se unindo. E se me
afasto por um segundo, posso observar, feliz, que todas elas juntas estão me
revelando, pouco a pouco, a face amada do meu senhor Jesus Cristo!
Portanto, desde já, muito obrigado Papai!
As vezes reflito sobre isso quando olho para trás.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, ótimo como sempre.