terça-feira, 17 de maio de 2011

Gratidão ao fim do dia

Anoiteceu, depois que várias horas pingaram no oceano do tempo. Deito-me na cama e sinto-me velho navio que, após ser surrado por tanta onda contrária, finalmente atraca em porto sossegado e pacífico. Neste fim de dia, minha única preocupação não são as ondas que voltarão a bater contra meu casco amanhã de manhã. Preocupo-me sobretudo em encontrar as palavras seletas, palavras dignas que possam ser dirigidas a Ti, meu Senhor, por teres me conduzido por águas turvas e perigosas, por teres feito Teu caminho de paz em meio a vendavais furiosos e recifes conspiradores, santo caminho que rasgou a espuma e abriu um sorriso em alguém que sabe que algo muito bom aconteceu, sem contudo saber explicar como ou o quê.

Lanço meu simples anzol à procura de palavras de agradecimento que naveguem em meu vocabulário, mas logo descubro que todas elas são peixinhos pequeninos demais. Não tenho alternativa senão fazer como aquele menino com sua pequena pescaria: entregá-la nas mãos de Jesus, que pode muito bem multiplicar e encher minha rede de farta alegria pelo Deus que rege os mares – os meus dias revoltos.

Aconchego-me na cama. Meu Senhor dá-me um sono reparador, de modo que o casco deste navio é consertado enquanto durmo. Seu amor e cuidado tão detalhista me enchem de sentimentos e decisões de retribuição, espontaneamente. Já em terra firme, meus pensamentos se aproximam e me perguntam o que fiz ou de que maneira escapei. Velhos marujos interrogam-me se pensei em lançar fora a carga durante a tempestade. Não, meus amigos, eu nunca poderia me desfazer desta carga, pois embora a carregue em meu navio, Ela vale mais que a embarcação inteira! Na verdade, é ela que me estabiliza, tesouro incalculável que preciso levar comigo. Se a lançasse fora, eu afundaria imediatamente, pois a carga preciosa é o Evangelho depositado em nós por Cristo, mais essencial que o próprio mar!

Portanto, que em todos os meus suspiros de alívio, que em todos os sorrisos de agradável espanto, que em todos meus prazeres e benefícios, eu possa sempre reconhecer, facilmente, unicamente, que és o Senhor e provedor, o amigo que não descansará enquanto não cumprir aquilo que, em Sua sabedoria mais que perfeita, sabe ser o melhor para este pequeno navio de frágil estrutura, segundo Sua livre vontade e Seu fiel amor.

Anoiteceu, uma vez mais. É noite, mas estou seguro, bem amarrado a Ti, cujos olhos cálidos e sinceros são o porto onde esta alma repousa segura, em noturna e silenciosa gratidão.

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