quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As dores e a Eternidade


Todos nós fugimos, afoitos e desnorteados, de tudo quanto faz nosso coração doer e suspirar de angústia. O problema é que, ao fugirmos da dor, acabamos correndo diretamente em sua direção. Ao fugirmos dela e a evitarmos a qualquer preço, sem perceber tomamos caminhos e decisões que nos conduzem a angústias e a dores muito piores! Toda vida que não tolera qualquer espécie de agravo, e se guia apenas pelo prazer próprio, toma caminhos que sempre se revelam confusos e interminados; e que levam a nada, pois quem antes o construía logo percebeu ser sacrificial demais continuar a construção.

Na verdade, o caminho que leva à dor foi aberto e alargado por caminhantes apressados que, estranhamente, acreditavam estar fugindo dela. Tais descobriram que, no fim de certos prazeres passageiros, lhes aguardava uma grande dor – e ela não era passageira. Quando uma pessoa orienta sua história a fim de eliminar todo tipo de dor, parece que a dor se torna autora dessa história; até que a história é interrompida e, de repente, desaparece da terra. A fuga da dor conduz a dores crônicas insuportáveis. Não há nada mais doloroso do que viver fugindo da dor.

Meditando nisso, deparo-me com a cruz de Jesus Cristo, e seu chamado para que eu também tome a minha. Qual é meu primeiro reflexo? Fugir rapidamente! Porque vai doer. Porque vai me levar a ser levado de mim mesmo, de meu egocentrismo cujo ídolo é o meu prazer. Porque vai fazer-me passar por horas de angústia. No entanto, não posso fugir, pois qual será meu fim se fugir? Lá na frente a dor me destruirá, se eu quiser destruí-la e negar a cruz que devo levar. Entendo, assim, que as dores são importantes, pois elas nos aguçam a visão do caminho certo; mas se nos voltarmos e fugirmos delas, acabaremos todos cegados.

Apesar da tentação da fuga, não posso deixar a dor determinar minha história, nem ser a senhora de minhas decisões. Ela poderá ser a pena com que a história sofrida dos cristãos é escrita – mas só Deus é o autor! O único meio de vencer a ação destrutiva das dores e angústias é suportá-las bem. No plano mais glorioso do universo, as histórias que permanecem, as histórias eternas, histórias das quais o mundo não é digno e que alegram o coração de Deus, são sempre aquelas de pessoas que firmaram o pé e permaneceram, suportando o que tivesse de ser suportado, se essa fosse a vontade de Deus; ali, sem fugir. O caminho da cruz escreve, com penas pontiagudas e dolorosas, histórias dignas de memória eterna.

Independente do julgamento alheio e até mesmo dos benefícios visíveis e imediatos, o cristão deve sempre ter a certeza de que nada apagará a força extraordinária de seu gesto de obediência – simples mas maravilhoso, breve mas eterno! Daqui a milhões de anos, quando não houver mais contagem de tempo nem tempo, nos lembraremos com alegria dos dias e das noites de dor bem suportadas aqui. Nosso Deus, igualmente e desde já, se alegra com seus filhos decididos a enfrentar a dor e a angústia por obediência ao Pai, munidos de canções, de entrega e abnegação – às vezes ajoelhados e exaustos, às vezes em silêncio e com lágrimas secretas.

Mas mesmo quando este mundo os julga miseráveis e infelizes, e toma seu ilusório caminho indolor, os filhos de Deus jamais permitem que a dor escreva suas histórias e determine suas rotas. Pois eles estão indo para Deus, peregrinos de pés sangrentos, mas totalmente decididos no rumo de seu lar, prosseguindo na força do Espírito Santo. E quando do céu Deus assim os contempla, o bondoso coração do Pai se delicia e aquece ainda mais:

“Olhe... olhe para eles, Filho! Eles estão, finalmente, ficando parecidos com Você!”.

Um comentário:

  1. Paz, muito bom, e nome do teu blog é lindo!

    Marcos André - Professor
    TEMPO DE PAZ
    http://umtempodepaz.blogspot.com/

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