
"Mas chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu, e escondi-me" (Gênesis 3.8,9)
Sozinho no bosque obscurecido
Sinto folhas e ramos a se esbarrarem
Enquanto uma brisa grave lhes penetra o esvoaçar
Estou desertificando este jardim:
Mais um punhado de anos e atos e momentos
E as flores se secarão para que
Escurecidas, retorcidas e endurecidas
Se transformem em irreversível espinho a latejar
Estou suado de medo – estou perdido.
A única maneira de me localizar será aguardar
Que tudo em volta se venha a secar...
Mas quem eu temia hoje veio me visitar.
A brisa dá-me a sensação real que
Passos reais se aproximam,
Os passos de apenas Um,
Logo Ele que meus intentos sabe tão bem peneirar
Seus passos me envolvem
E enquanto procuro que não me procurem
Procuro me calar
- Onde estás? – é a pergunta.
Não sei onde estou, a não ser em minha
Própria nudez, que me mostra desorientado
No desejo ardente de destruir
Tudo que não posso subjugar
- Onde estás? – repete-se a pergunta.
Eu estou mergulhado num medo trêmulo
Porque os passos Daquele que sempre me amou
Estão vindo ao encontro de minha inegável renegação
Cuja testemunha é a fuga de meu olhar
Eu estou em guerra inexplicável contra Ti
Em ambição desenfreada para ver-me independente
Daquele que só Ele me pode
Na verdade e de verdade prosperar
Por que parei?
Parei porque não sei aonde vim parar.
Porque na verdade sou um rei de mentira
Que não sabe onde está –
Que de dia se rebela mas de noite se revela
Um doente nu, perdido e medroso
Que miseravelmente exige reinar!