A visão de mundo para um cristão
é tão diferente da normalidade, que se você não for um deles terá a certeza de
que enlouqueceram. O conceito de realidade e fantasia é uma amostra disso. Para
um ateu, por exemplo, a realidade é o que se pode ver e comprovar. O que foge
disso é tido como uma leitura equivocada, uma interpretação falsa da realidade,
fruto de ignorância e folclore, de imaginação e de fantasia. Para um cristão,
entretanto, este conceito de realidade é que é loucura; ou, no mínimo, um
trágico empobrecimento na compreensão da realidade da vida.
Para um cristão, a realidade vai
além do que se vê. Esta realidade revela-se muitas vezes, embora
constantemente não sejamos capazes de percebê-la ou comprová-la. Se nossas
“antenas espirituais” não tivessem sido tão terrivelmente destruídas, naquele
evento chamado A Queda, nenhum de nós ficaria duvidoso ou descrente de Deus. Cremos
que Ele é real, e nossa deficiência em percebê-lo não prova a Sua divina
inexistência. Nossa incapacidade em examiná-lo e compreendê-lo não nos confere
autoridade para determinar que Deus é uma de nossas velhas fantasias. Não
conseguimos transcender ou esgotar o universo no qual somos um cisco, e nem por
isso o negamos. Negá-lo seria, também, negar nossa existência.
O cristão olha para a matéria e,
porque crê no Criador, vê, para onde quer que olhe, amostras da realidade que a
originou. Toda matéria concentra energia, é fruto de poder. Nascemos, e
chegamos a um mundo cheio de energia, poderosamente feito sob medida para que
pudéssemos existir. De forma infantil, portanto, o cristão acredita que o
presente personalizado que lhe foi enviado e que chegou (de graça) até suas
mãos teve sim um remetente.
Viemos ao mundo, como se fôssemos
trazidos à mesa de um grande banquete. Logo, cremos que antes de nosso
nascimento Alguém construiu a Casa, e adquiriu talheres e utensílios de
cozinha, e escolheu meticulosamente cada ingrediente, e se proveu dos
eletrodomésticos ou meios necessários para, usando Sua sabedoria e habilidade,
preparar o ambiente e pôr a mesa, e temperar cada prato muito bem elaborado. E só
então, nos convidar para saborear e desfrutar de tudo, de todo o fruto de Seu
trabalho.
O cristão acredita nesta lógica,
que por ser lógica não perde seu teor de encantamento. Neste sentido, o cristão
crê que a mesa posta na casa edificada é fantástica, mas a lógica implícita nos
remete a Alguém. Este raciocínio parece-lhe óbvio, embora maravilhoso. E na
alegria que sente, à mesa da Vida, há um profundo senso de gratidão.
Do outro lado da mesma mesa está
o descrente. Este, enquanto come e desfruta, admira-se com as leis da química
presentes na combustão da chama do fogão, e na cor e odores provenientes da
mistura atômica dos ingredientes usados. Enaltece a ciência e a potência dos
eletrodomésticos, presentes e envolvidos no processo. Mas descarta a
possibilidade de que a casa teve um construtor, e que o banquete seja obra de
um habilidoso chefe.
Na cozinha da Existência, cristão
e ateu se deliciam com o banquete da vida. O primeiro é grato, e quanto
mais saboreia mais vai se enchendo de uma felicidade humilde. Olha em volta e
percebe que, desde a louça até os eletrodomésticos sobre a mesa e sobre a
bancada – tudo foi operado com precisão. E mais – todo o aparato foi
manufaturado pelo Cozinheiro, que é também engenheiro e artista. O cristão,
impressionado, olha pela janela e vê lá fora a horta, o pomar e o campo, onde o
Artesão das louças e o fabricante dos extraordinários eletrodomésticos cultiva
de modo muito especial cada hortaliça, cada semente, cada fruto – Ele plantou,
regou, colheu e, com sacrifício e força, preparou o cordeiro servido com muito
amor. O cristão olha à volta e percebe que, na realidade, Alguém planejou o
banquete todo há muito tempo, longe de seu olhar limitado e muito além de seu parco
conhecimento.
Do outro lado da mesa, a
admiração é totalmente diferente. O ateu está maravilhado, e tenta
entender como tudo aquilo – os ingredientes, os talheres, os eletrodomésticos,
a mesa posta e os pratos deliciosos, e até mesmo ele ali, presente na cena –
sim, tenta entender como tudo aquilo se organizou e aconteceu a partir de uma
grande explosão atômica espontânea. E neste momento, ao perceber a
gratidão do cristão do outro lado da mesa, o ateu acha graça e nutre mesmo pelo
outro um certo desprezo, pois a crença do cristão de que
Alguém sábio e poderoso tenha trabalhado e preparado tudo para e naquele
banquete, aos seus olhos críticos não passa de uma ridícula fantasia, sem qualquer fundamento
intelectual e lógico.
Ambos se olham, cada qual como se
estivesse diante de um louco incapaz de discernir fantasia e realidade. O que o
ateu chama de fantasia, o cristão sabe que é a realidade, a partir de onde
goteja o que o ateu acha ser a verdade científica absoluta. Para o cristão, a
loucura está em como o outro prega a origem da realidade e em como a enxerga.
Não há concordância entre ambos. A mesa é grande, e o convite da vida, com todo
o seu sabor, está para todos. Mas enquanto o ateu deseja a próxima garfada, o
cristão se delicia com a expectativa de abraçar o Dono de Tudo, e agradecer-lhe
por toda a Sua fantástica generosidade, bondade e hospitalidade.
E quando surge o Agricultor, o
Fazendeiro, o Construtor da casa e Chefe de Cozinha, Fabricante de Tudo e Pai da Vida, o cristão o
reconhece – e os dois festejam muito juntos, cada vez mais e para todo o sempre!
Pois a grande aventura da vida está na simplicidade fantástica e real da verdade – a verdade
que, se conhecemos e experimentamos, é verdadeiramente libertadora!