sábado, 10 de agosto de 2013

Se eu fosse humilde

Ah, se eu fosse humilde! Com certeza teria de orar a Deus constantemente. Oraria porque me reconheceria fraco; oraria desesperadamente, pois sem Ele nada poderia fazer. Se fosse humilde, eu seria a pessoa mais grata que o mundo já viu, dotado da plena certeza de que tudo que tive e tenho na vida – do ar para os pulmões até alguma conquista – foi pura bondade de Deus comigo. Se fosse humilde, eu me sentiria bem menos ultrajado pela vida, por consequência odiaria menos as pessoas que tolhem a minha grandeza. Teria mais paz. Sem a preocupação de impressionar, típica dos arrogantes, teria também mais liberdade para sorrir, e elogiaria com franqueza quem merece. Se fosse humilde, as pessoas que (não sei como) me amam, poderiam amar-me sem medo que as machuque ou despreze. Poxa, quem me dera ser humilde assim!

A vida seria mais bela se eu fosse humilde. Os pobres teriam alguma esperança quando eu passasse. Os velhos poderiam sorrir quando eu os notasse. Seria corajoso ao ponto de abraçar as pessoas, e sentiria misericórdia quando conhecesse um fracassado. Reclamaria menos, e causaria mais mudanças no mundo, todas para melhor. Se fosse humilde, eu teria não sei quantos bilhões de estômagos, um exército de corpos para vestir, e uma infinidade de corações para acalentar. A humildade me daria uma nova matemática, me ensinaria a dividir. Se eu fosse humilde de verdade, teria força suficiente para pedir perdão e para perdoar. Não deixaria que nenhuma ofensa roubasse minha comunhão com as pessoas. Eu conseguiria ouvir os outros e ponderar no que estão me dizendo. Se fosse humilde, sofreria bem menos!

Se eu reparasse menos em mim, desfrutaria das coisas boas com as quais Deus me cercou e não reparo, e notaria também as coisas ruins que Ele espera que eu ajude a mudar. Humilde, não faria descaso da dor dos outros. Eu teria incontáveis professores, e ganharia assim a nobre sabedoria que só vive no humilde coração. Jamais xingaria meus semelhantes, porque eu admitiria que somos semelhantes, e xingar o outro seria o mesmo que xingar a mim mesmo. Se eu fosse humilde, estaria preocupado em amar, não em ser amado, e seria mais feliz assim – pois quem deseja ser amado frustra-se, mas aquele que ama realiza-se em amar. Se eu fosse humilde, minha alma seria livre do fardo do sucesso, da ostentação, de ser o primeiro. A riqueza não conseguiria me escravizar. Eu viveria bem mais com muito menos. A humildade me permitiria viver somente um dia de cada vez, e por isso eu deixaria de ser ansioso.

Se fosse humilde, eu chegaria logo à conclusão de que o melhor que tento fazer não é suficiente aos olhos de Deus, e de que preciso de um salvador que me socorra. E então, cheio de humildade, eu me achegaria aos pés da cruz do homem mais humilde que já pisou na terra, e o chamaria de Mestre e Salvador, sem me preocupar com a opinião de outros arrogantes como eu. Ali diante dele, pela primeira vez na vida, eu choraria todas as lágrimas que meu orgulho tem represado ao longo desses anos. O fardo cairia de minhas costas, e ao ser ali abraçado pelo Mestre dos humildes, eu acharia finalmente descanso para a minha alma tão exausta de mim.

Ah, meu Deus… que me dera ser humilde!

“... aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (dito por Jesus, Mat. 11.29)