quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mãos que transformam


"Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?" (Jo 6.9)

Pouco sabemos desse rapaz, talvez uma criança. Mas vejo que ele foi corajoso ao não esconder, no meio de uma multidão faminta, o suprimento que trazia. Mais: teve muita fé ao apresentar para o Galileu tudo o que guardava. E se aos olhos daqueles discípulos o que possuía era insignificante, houve porém Alguém que olhou para o seu pouco como o que era necessário, pois era poderoso para com aquilo fazer além.
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Nos desertos desse mundo, não fique olhando para suas limitações. Talvez você pense que mal tem para manter-se, então como ajudar a outros? Não, não olhe para si em busca da solução, pois nesse caso 200 salários não bastariam. Bem mais importante do que o que temos nas mãos é em que mãos vamos depositar o que temos. E esse menino entrou para a história porque colocou aquilo que outros consideraram insuficiente nas mãos do Deus suficiente!

Nas mãos de Jesus, o Seu poder ofusca e reverte nossas debilidades. Aliás, Ele mesmo escolheu as situações limitantes porque nelas o Seu poder é mais evidente! Portanto, nossa garantia não está no que possuímos, mas nas mãos multiplicadoras onde entregamos o que possuímos. E isso nos alegra: usarmos o nosso pouco para, pelo poder de Deus, abençoarmos muitos - inclusive os que duvidavam.

"Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, ó Senhor, Deus da verdade" (Sl 31.5)

"Entrega ao Senhor as tuas obras, e teus desígnios serão estabelecidos" (Pv 16.3)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Intenções de uma fé

Graças Te dou
Tu que sabes o que e como fazer
Segundo o curso santo de Tua vontade perfeita!

Que eu diminua conforme cresça o Teu abraço
Que eu dependa quando outros buscarem seus interesses
Que eu espere e assim não jogue o tempo fora
Que eu beba e coma Tuas letras, minha vida
Que eu me espelhe em Cristo e O espalhe em ousadia
Que eu seja Teu e veja por mim Teu zelo e cuidado
Que eu olhe Teu Filho e cante Dele em mim
Que eu não decida mas Tu por mim e eu por Ti
Que eu dê glória Àquele que me dá Sua graça vitoriosa
Que eu me aquiete à sombra da cruz vazia
Que eu Te enxergue e abra os meus olhos
Que eu Te encontre e me descubra

Vai adiante, Sabedoria, Lâmpada e Esperança!
Que eu me humilhe aos pés Daquele que me ensina a caminhar!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O que vale a pena


Estou indo para o desconhecido e o terreno é ermo e inexplorado. Como em um jogo eletrônico, passei de fase e a tensão agora é grande; o cenário e a maioria dos personagens me são desconhecidos. Só tenho uma vida e não sou indestrutível. Em situações assim, a adrenalina é agradável mas ao mesmo tempo desgastante. Às vezes me sinto cansado, profundamente cansado. O destino é certo, a chegada é certa - mas o percurso é mistério.
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No entanto, vale a pena, tem valido a pena, vai valer a pena. Quando sinto em meu íntimo a aprovação do Espírito Santo, acariciando-me a fé com Sua paz, tenho certeza de que vale a pena. Quando coloco Seus interesses acima dos meus e este coração de carne é inundado pelas correntes espirituais da alegria; e quando em meio ao sofrimento e à privação de prazeres físicos a Palavra mostra-me como o Senhor Jesus venceu em pureza e perseverança, meus joelhos se dobram voluntariamente na confissão gestual de que vale a pena ser Seu! Vale a pena subir, Senhor, um a um, os degraus do sacríficio que conduzem a uma vida santa e agradável a Ti! Vale a pena esquecer de mim mesmo para assentar-me aos Teus pés, olhar em Teus olhos e celebrar Tua presença - mesmo se a correria cotidiana conspira e tenta alojar-se na alma.

Mas sempre tem valido a pena - a pena de quase sempre não ser bem compreendido, de ser olhado e julgado com mais rigor do que os demais pelos tribunais humanos que nos cercam; a pena de ver que outros já possuem o que desejo mas que não tenho por não ter ousado estender o braço e apanhar o que, quieto, espero que venhas e me concedas, ó fonte da graça e fornecedor exclusivo do que minha vida carece! Tu, Amado, me forneces Tu mesmo! Tudo que me interessa habita em Ti, e Contigo trazes o que é Teu... e o que é Teu, de fato, é o que vale a pena!

Vale a pena desfazer-me com alegria do que é mais meu para adquirir o que descobri: o tesouro escondido do evangelho, a pérola de grande valor que emergiu das profundezas das águas da morte! Vale a pena suportar a zombaria que os enfermos de alma fazem à nossa saúde, bem como toda a crítica e protesto de minha própria carne contra o homem interior, sempre que ignoro meu egoísmo e demito meu orgulho reincidente. Tem sido maravilhoso descobrir que quando desvio o olhar da tentação estou fixando-o na Tua glória. E quando choro com medo de não ter forças suficientes para fazer o que me pedes; e quando me escandalizo com o potencial malévolo que ainda habita nestas veias e na mente; e quando desanimo não só de olhar as dificuldades mas também de ver minhas queixas e atitudes dramáticas diante delas, sei que vale a pena contar tudo isso para Ti, e confessar que certas coisas ainda me custam demais porque dei-lhes o preço indevido.

Contudo, Senhor, se estás em mim e eu em Ti, sei que um dia diremos sorrindo um ao outro que tudo valeu a pena - e nesse dia não haverá mais noite, nem dor ou solidão, nem dúvidas ou espera, nem vozes contrárias ou céu de bronze. Ah, terá valido tanto a pena que a própria pena, por enorme que hoje seja, se encolherá na presença da alegria, até virar um cisco e depois desaparecer para sempre! Naquele dia reconhecerei como foi curto o meu deserto; e, por já não haver ali lágrimas, não sei de que forma poderei extravasar minha felicidade! Ali reconhecerei que terá valido completamente a pena não ter trocado os prazeres Teus pelos daqui. Ali perceberei que Tua mão esteve comigo em mais momentos do que percebi, e que todas as minhas renúncias passadas foram ou livramentos Teus, ou adubos terrestres para a flor celeste da adoração que dei a Ti!

E quando finalmente enxergarmos Tua face amada, meu Pai, veremos que valeu a pena tê-la buscado por fé e termos tentado nos parecer Contigo, e também termos sofrido a fim de compartilharmos e desfrutarmos juntos da rica paisagem de Teu rosto, e da boca que tantas vezes falou conosco, e dos olhos que desde a eternidade nos viram e formaram, e das narinas que aspiraram o perfume de nossa obediência e o incenso de nossas orações! E quando esse dia chegar, a única pena da qual teremos memória será a Tua em nosso favor - a única que torna em realidade a nossa chegada e entrada aos Tabernáculos Eternos!

Ah, Senhor, eu me humilho e agradeço por entender que a vida só vale a pena se, de algum modo, ela valer a Tua pena!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Do fim o começo!


Na caminhada cristã tenho observado duas maneiras opostas pelas quais nossa fé é fortalecida: a primeira é pela expectativa frustrada; a segunda, pela desesperança surpreendida.

A primeira ocorre quando o que você tanto espera não acontece do jeito ou no tempo esperado - ou pior, quando simplesmente não acontece. Meses, talvez anos de espera, e quando tudo parecia indicar que o aguardado havia chegado, as expectativas falharam brutalmente. Todavia, quando o chão some de debaixo dos pés, a fé aprende a estender as asas ocultas que Deus lhe deu e simplesmente pairar acima das explicações fáceis, populares, consensuais ou racionais. Isso ocorre quando abandonamos a exigência de compreender a razão divina ao permitir a frustração de nossa nobre expectativa - e a fé sai fortalecida, pois abandonou o ninho da baixa compreensão humana e seus questionamentos, e alçou voo rumo às regiões celestiais. É quando Habacuque se alegra e ora em meio à desolação. É quando Davi salmodia na caverna escura e fria. É Paulo e Silas cantando no tronco com as costas em carne viva.

Paradoxalmente, a segunda maneira que Deus usa para fortalecer a fé é surpreendendo nossa desesperança. É quando os soldados de Faraó chegam às pressas ao calabouço e chamam José. É quando identificamos o Senhor no redemoinho tormentoso e isso altera nosso destino. É Moisés aos 80 anos de vida recebendo a revelação da Vida. É o paralítico andar após 38 anos no sofrido camarote de Betesda. É quando chegamos ao fim de nossa força, paciência, perseverança e esperança - e Deus nos surpreende com Seu poder. É Abraão ouvir o primeiro choro de Isaque. É a viúva ver o óleo escorrer de dentro da vasilha mais seca. É o terremoto que surpreende e liberta Paulo, Silas e o carcereiro.

Ambas as coisas nos fortalecem! O Cristo crucificado, mesmo chocante, nos fortalece a ir além do imaginado; mas também a visão de Sua tumba vazia mostra que, no tempo certo, Deus faz do impossível a Sua matéria-prima, e do fim e do nada o começo de tudo. Assim, Ele é glorificado quando anoitece e eu continuo com Ele, e também quando a noite que julguei interminável é surpreendida pela explosão de Sua alvorada! E quando isso acontece, peregrinos, nossos olhos se enchem de lágrimas e a boca de riso. O mais profundo silêncio é quebrado, curiosamente, pela paz...

É quando Ele vem bem perto e sussurra: "Filho, o que você chama de fim Eu chamo de começo!"