quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lições do Ano Velho ao Novo


"Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite revela sabedoria a outra noite" (Sl 19.2)

Se eu pudesse recomeçar este ano teria sofrido bem menos com ansiedade, teria confiado mais em Deus. Aproveitaria melhor o tempo e teria reclamado e me irritado menos com coisas inúteis. Teria saboreado melhor algumas ocasiões e palavras, e descartado outras sem hesitação. Mas, principalmente, amaria melhor a Deus e procuraria aprender mais, tanto nos momentos ensolarados como nas horas escuras.

Mesmo não podendo voltar ao passado, ao ler a Bíblia sinto-me consolado ao ver que o cristianismo é a reconciliação final do homem com um de seus maiores inimigos: o tempo. Não precisamos mais sofrer sua lenta passagem nos momentos maus, nem temer sua velocidade a caminho do poente da vida. É claro que ele continuará sendo áspero conosco; ainda assim, seu propósito final é diferente com o cristão. Pois ainda que envelheçamos com sua passagem, o tempo será, em última instância, o cocheiro que nos levará gratuitamente à eternidade, onde estaremos para sempre com o amado Jesus - o que é muito melhor. Embora tente desgastar e separar cristãos que se amam, o tempo acabará arremessando-os para os braços do Amor Eterno, superior a tudo que podem provar dentro das fronteiras temporais. E isso se Jesus não voltar antes.

Mas... que fazer enquanto isso não chega? Como não sofrer com a aparente inutilidade e crueldade da espera e da soma cáustica de dias vividos sem conquistas desejáveis? O tempo foi-nos dado como professor, e cada dia e noite é a nova disciplina desse curso. Deus tem prazer em ver Sua sabedoria amadurecida em seus filhos, porém, quando eu estiver agoniado, lembre-me de que tal maturação demanda tempo. Deus nos manda sabedoria por mão de dias maus e bons, de horas alegres e de noites vazias. E não importa quão terrível seja o dia ou a noite, haverá sempre lições para a vida eterna sendo-nos oferecidas neles.

Portanto, o ciclo da verdadeira vida é mais veloz do que imaginamos. Um dia discursa ao dia seguinte, e uma noite descortina sabedoria à próxima. Semelhantemente, um ano idoso ensina ao que está nascendo um jeito mais sábio de caminhar.

Amigo, em algumas horas nosso envelhecido 2009 morrerá. Que bom aprendizado você gostaria que o ano prestes a nascer recebesse dele? Meu voto é que aproveitemos bem esse novo e maravilhoso presente, composto de 365 chances de adquirirmos sabedoria, a fim de termos prazer em Deus, de curtirmos a vida e de extrairmos dos anos - velhos e novos - o sumo com que brindaremos juntos ao Pai da Eternidade!

Ah, peregrinos... e que boas festas teremos lá!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Asas como Águia


"Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias..." (Is 40.31)

No último janeiro acreditavámos que muitas coisas aconteceriam neste ano, que promessas seriam alcançadas e realizações cumpridas. O ano parecia tão longo, tão cheio de possibilidades! Mas então, abriram a torneira das semanas e elas se esparramaram copiosamente, em uma sucessão de acontecimentos que foram se sobrepondo sem interrupção. Agora, que chegamos às últimas semana de dezembro, talvez o que mais esteja latejando em sua memória seja aquilo que não aconteceu, e por isso não está lá. É o que você esperou por dias, semanas e meses, sem contudo ter vivido. Hoje olha para trás e vê que quando já não aguentava mais esperar, não tinha ideia de como ainda estava longe, muito longe de seu limite.
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Há muitas razões que podem tornar o clima de fim de ano estranhamente melancólico. Lembranças de tempos idos, a imaginação do que poderia ter acontecido (mas não aconteceu) ou mesmo a aspiração por uma vida diferente, nos fazem ver que conforme as folhas do calendário caíam, caíam com elas as penas das asas de nossos sonhos, sem que eles tivessem ao menos alçado voo.

Assim, como é possível afirmar que esperar no Senhor renova nossas forças e nos faz subir com asas como as da águia? Na bíblia o verbo hebraico chalaph é traduzido 2 vezes por "renovar", mas 10 vezes por "mudar, trocar, substituir", como trocar de roupas, por exemplo. Bem, ninguém tem esperança sem confiar e acreditar, e se você acredita em Deus, se realmente confia nele, não espere que isso dará penas novas para suas asas - não! Na verdade isso trocará suas forças e asas por outras muito mais poderosas que as suas, tão enfraquecidas e atrofiadas pela espera. A fé é uma espera ascencional, é a substituição de nossas forças pelas Suas; a troca desta plumagem desgastada pelas asas divinas que nos fazem emergir acima da atmosfera da ansiedade e da desesperança.

Ah, Senhor! Não importa se somos jovens cheios de vigor... no fim de mais um ano perguntas e probabilidades cruzam nossa mente e tentam entristecer os olhos, mesmo em meio às multidões e suas sacolas natalinas. Mas ensina-nos a esperar em Ti! Muda nossas asas pelas Tuas e eleva-nos acima dos calendários e suas ameaças, até que tenhamos a perspectiva da eternidade, que quanto mais nos eleva mais detalhe nos dá. Vale à pena perder minhas penas sem sentir pena, para viver cada vez mais e apenas nas regiões celestiais - neste e no ano que vem!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Meus pés em suas mãos


"Corram de tal modo que alcancem o prêmio" (1 Co 9.24)

Era um corredor possante e veloz, que com a alegria do sonho realizado corria sob os aplausos do estádio. Seu desejo era cruzar a linha de chegada, conquistar o prêmio e deixar sua marca na história. Na tentativa de superar seu desempenho, a pressão que impusera a si mesmo fê-lo contrair grave lesão nos pés.

Desde esse dia, o tempo, que costumava passar tão rapidamente, começou a arrastar-se. Aos poucos, o atleta parado foi parando de acreditar em sua vocação. Quanto mais olhava de seu anonimato para os que competiam, mais inferior se sentia, mais pesado se descobria, menos capaz se tornava. Pensava que se voltasse às pistas traria só decepção a todos, e sua permanência seria breve e lastimável. Às vezes recordava as vitórias do passado, mas logo o sorriso ficava opaco e o coração se recolhia, ressentido.

Apesar de tudo, alguém continuava acreditando nele. O experiente fisioterapeuta olhou para seus pés e disse-lhe haver esperança, contanto que aceitasse passar pela sala de recuperação. Animado, o atleta concordou de imediato, mas cedo percebeu como era difícil estar ali!

A sala de recuperação é onde você descobre toda a sua fraqueza, para então revesti-la de uma força que retorna aos poucos. Longe da pista, isto é, sem ter o sonho à vista de seus olhos, você é submetido a uma série repetitiva e quase interminável de atividades sem sentido e resultado imediatos, e que não parecem ter relação alguma com o objetivo inicial que o trouxe ali. No tratamento você é como uma criança fraca e insegura, e sente medo de nunca voltar a ser o que já foi. Além disso, terá de andar de um lado para outro, mesmo que não haja nada o esperando do outro lado - pois o objetivo não é o destino, mas fortalecer seus passos.

Depois de algum tempo, vai chegar o momento em que você terá certeza de que está apto para sair dali. Nessa hora se sentirá impaciente e até frustrado ao ouvir o fisioterapeuta lhe dizer para esperar. Procure manter a calma, afinal ele conhece melhor sua estrutura, sua condição e seus limites do que você mesmo. Quando suas mãos sábias seguram seus pés, ele vê o que olhos comuns não enxergam. Confie nele, pois desobedecer o tempo que estabeleceu não apenas vai anular os resultados como também pode agravar a lesão. Você terá de voltar pouco a pouco, tenha consigo a mesma paciência que ele sempre teve com você.

Lembre-se: ele não o está preparando para ser mais um corredor comum no meio da multidão, ou para vencer uma só corrida. Muitas serão as provas até o fim de sua carreira e você foi chamado para corrê-las de tal modo que alcance o prêmio. Quando entender isso descobrirá que pode haver alegria mesmo nas horas mais difíceis da recuperação.

Não fuja desse momento. Você queria marcar a história, então deixe-o marcar a sua. A garantia que ele nos dá é impressionante, pois sofreu em seu próprio corpo as piores feridas, sem ser culpado por nenhuma delas - no entanto, jamais houve vencedor como Ele...

Deixe-o levá-lo onde for necessário... e ponha seus pés nas mãos de Jesus, nossa cura e grande prêmio!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Lamentável Desperdício


Ó Israel, se tão-somente me ouvisses! [...] Mas o meu povo não quis ouvir a minha voz [...] Se o meu povo apenas me ouvisse, se Israel andasse nos meus caminhos, de pronto eu abateria os seus inimigos [...] Eu te sustentaria com o trigo mais fino; com o mel saído da rocha te saciaria." (Salmo 81)

A morte da pessoa cuja vida foi apenas potencial não desenvolvido é algo terrível e digno de lamento. São incontáveis os que receberam dons e habilidades extraordinárias, mas que se consumiram focados na busca pelas coisas transitórias mais confortáveis, as que depois se transformam em caixão. O chamado é universal, a soberania de Deus não exclui a responsabilidade humana, e eu definitivamente não quero ser mais um que passa por aqui contentado com um relacionamento medíocre com Deus. Jesus não abriu mão de Sua vida daquela forma (na cruz) para eu viver a minha desta forma, conformado.

Ainda ontem éramos meninos e meninas com promessas e chamados muito específicos, o coração ardendo na expectativa de vivermos algo que ecoasse na eternidade. Mas então, o tempo desceu a ladeira descontroladamente e, enquanto seguimos o curso natural de nossa vida, perdemos sua chama sobrenatural. Se refletirmos um pouco, a maioria se dará conta de que no passado pensávamos que quando atingíssemos o ponto da vida que hoje atingimos estaríamos mais cheios do Senhor do que de fato estamos. E se este é o nosso caso, é urgente que mudanças aconteçam antes que seja tarde.

Eu não estou cobrando você. Não estou insinuando que deve largar tudo e se embrenhar em um ativismo religioso desenfreado para ser salvo. Somos salvos pela graça, pela fé em Jesus, não por obras! Mas quando leio o Salmo 81 sei que é um desperdício lamentável vivermos nossa vida sem desfrutarmos plenamente da intimidade que Deus deseja dar-nos consigo! Mas aqui temos um problema: não ouvimos o que Deus tem para nós. Deduzimos que não é prático viver o que achamos que Ele quer de nós, e portanto damos primeiramente ouvidos às nossas necessidades e planos. E quanto mais damos atenção à essas vozes, mais soterramos nos abismos de nosso espírito amortecido a voz de Deus - aquela que, se ouvíssemos, nos saciaria em tudo... em tudo mesmo.

E quando chegamos nesse ponto, parece ser difícil demais renunciar a guerra contra os nossos inimigos e deixar que Deus os destrua por nós. Parece ser difícil demais jogarmos fora as bolotas que os porcos comem para sermos sustentados pelo Trigo mais fino. Difícil demais largarmos nossas brocas exploradoras e barulhentas, que só respingam amarguras, e sermos satisfeitos pelo mel mais puro, que Ele já extraiu da rocha por nós - e a rocha é Cristo!

Ah, se apenas parássemos para ouvir o que Ele já escreveu a nosso respeito! Se parássemos de andar em nossos próprios caminhos e seguíssemos sem medo as Suas pegadas de vida! Então teríamos o mais glorioso dos epitáfios, um como o de nosso Senhor, sem qualquer lamento e que o túmulo não pôde conter: "Eu te glorifiquei na terra, concluindo a obra que me deste para fazer"(João 17.4). Veja que satisfação às portas da morte! Vida plena no ser que naturalmente transbordou para o fazer!

Caro amigo peregrino, ainda há tempo para ti! Desperta tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef. 5.14). Sim, volta ao caminho original.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Meu Bem


Incapaz de explicar
Com a paz de quem vence
Tranquilo por estar
E ser rapaz que pertence
Ao Teu abraço
No qual me refaço

E se passo por onde passou Teu passo
Sou pássaro – tudo voo e nada faço
Tudo sofro e sou de aço
Tudo deixo e nada é laço
Às vezes louco, mas nunca devasso
Calçando as botas do amanhã
Já que o passado em cada presente ultrapasso

Mas as rotas não trago nem traço
E nesta paz tão sã
Renasço,
Simples rabisco – com o Teu traço...

Tu és meu bem
E ninguém
Nem nada além
Eu caço