sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aproveitando!


Aproveitando a oportunidade de estar vivo
Quero segredar-Te gratamente um sorriso
E esconder-me brincando para que me descubras
E dar-Te uma piscada em meio à multidão
E fazer-Te perceber que o suspiro é de amor
E escrever na areia o que mar nenhum apaga
E contar aos outros da importância do Teu olhar

Aproveitando a oportunidade de estar vivo
Quero pensar em Ti nas madrugadas mais normais
E fazer da paz que me deste perfume que Te agrade
E me divertir muito com a inteligência que tens
E levar também as coisas boas pro lado pessoal
E permitir que jogues fora o que é de esquecer
E procurar nada fazer quando me abraças
E sorrir bastante sempre que me lanças ao alto
E ser ensinado na Tua escola de perseverança
E admirar o quanto totalmente me conheces
E chorar de alegria pela alegria de ser Teu

Aproveitar a oportunidade de ter recebido Tua vida
E não resistir, se a fé reclamar de saudades...
Elevar e levar minha cruz após Tuas pegadas
E tecer uma canção que Te seja beijo intenso,
E Te entregar a minha realidade e o meu sonho
Para que Tu mudes a minha realidade em sonho
E para que o Teu sonho quanto a mim Tu mesmo realizes!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Espinho e o Abraço de Papai


A criança queria apenas tocar a rosa quando, inesperadamente, um espinho machucou-lhe. Após chorar por um tempo que pareceu toda uma vida, ela se refez, enxugou as grandes lágrimas e corajosamente tentou extraí-lo com as próprias mãos. No entanto, incapaz de pinçar sua ponta, descobriu que quanto mais tentava arrancá-lo mais se debatia, e mais sua dor aumentava. Dentro de pouco tempo a dor se tornou tão intensa que ela não quis que ninguém mais tocasse seu ferimento, a fim de não o fazerem doer mais do que já doía. Se não pudera extraí-lo, com certeza ninguém mais poderia!

Fazendo todo o possível para disfarçar a dor, voltou à casa de seu pai. No caminho, esforçou-se e até sorriu para alguns vizinhos, de modo que ninguém notou a imensa dor abafada por trás de sua doçura. Melhor assim, pensou ela. Porém, seu segredo só durou até o momento em que papai a viu entrando pela porta. Papai conhecia bem sua criança, e na mesma hora reparou que seu andar e passos tensos não combinavam com o sorriso que trazia no rosto.

Por isso, carinhosamente estendeu as mãos paternas e chamou-a para um abraço. Ele realmente desejava vê-la de perto. Todavia, imediatamente a pequena se retraiu. A dor fazia seus olhos arregalados transmitirem insegurança e medo. Sabia que papai havia observado seu doloroso segredo e que tentaria tocá-lo; fosse como fosse, ela acreditou que um abraço só traria mais pressão sobre sua dor.

E enquanto pensava e pensava, os braços de papai continuavam abertos. Ele estava sentado em sua cadeira enquanto lá fora a noite caía, e aquela dor secreta subia. Sabe, a decisão de ir ou não ao encontro deste abraço foi uma das mais difíceis para esta criança. Ali parada, cheia de dores e medo que elas aumentassem, não sabia o que haveria de fazer - se correr na direção contrária e fugir, ou lançar-se nos braços que em outros tempos tanto conforto lhe tinham trazido.
Naquela noite, chorando, a criança decidiu que, independente do tamanho de sua dor, seria nos braços de papai que ela expressaria seu sofrimento. Por sua vez, papai cuidadosamente extraiu a causa da ferida, enquanto a abraçava com a outra mão. Ao se submeter a este ato de verdadeiro cuidado, a criança viu que de todas as dores esta é a única que vale à pena de ser suportada, pois é a dor do amor paterno a curar, a dor que antecede o grande alívio.

Em tudo isso, observei que toda esta experiência do espinho na verdade resultou no melhor abraço que aquela criança alguma vez poderia receber, em sua vida muito amada.

Amigo, sob a dor de seu espinho secreto e ao ver os braços abertos de Papai, em que direção você tem corrido? É muito doloroso aceitarmos a retirada de um espinho porque isso significa que Papai terá que mexer nele. Ainda assim, não se esqueça que para o mais doloroso espinho existe um amor muito maior, bem como o mais consolador de todos os abraços - o de Deus, verdadeiro alívio que na lapela nos traz a flor...
Sim, ela e somente ela.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

De todo o Coração


"... Unifica o meu coração para temer o Teu nome. Eu te louvarei, ó Senhor Deus meu, de todo o coração..." (Salmo 86.11,12)

Se tememos alguém ou alguma coisa ou circunstância fora de Deus, nosso louvor a Ele fica dividido e incompleto. Por quê? Porque damos glória àquilo que tememos. Somente tememos aquilo que reconhecemos ter força ou ser importante para nós, portanto temor é uma forma indireta de atribuirmos importância e louvor.

Qual tem sido o nosso temor? Diariamente há constantes cabos-de-guerra sendo travados em nossos corações, e isso porque somos inconstantes. Temos tantos estados diferentes, tantas direções contrárias... meu pedido é que Ele entre e faça em nós "estados unidos", alinhando-os na direção do verdadeiro louvor a Ele (que não merece menos). Nem sempre é assim. Muitas vezes, se formos sinceros, diremos a Deus: "meu coração te louva 50%, porque os outros 50% estão em minha segurança própria, aquela que tanto temo perder". E como tememos perder coisas que nos dão falsa segurança, dando-lhes assim louvor!

Isso me faz lembrar uma antiga experiência. Quando criança ganhei uma pequena bicicleta. Ansiava imitar os adultos que via e logo nos primeiros momentos, com incrível facilidade, sentei e imediatamente saí andando nela. Dias depois, quando já estava confiante e até mesmo orgulhoso, fui privado de um detalhe que até então eu mal havia reparado: minha bicileta tinha rodinhas adicionais, e elas me foram tiradas. Dali em diante sofri intensamente a falta delas! Ao perdê-las descobri como as estimava, e por um momento pedalar já não foi interessante como antes. Tive incontáveis tombos e quase desisti. Hoje, porém, lembro-me daquelas rodinhas e elas me parecem bem ridículas. Perdê-las foi um fato básico no processo de crescer.

Andar com Deus não é diferente. Achamos que já andamos igual os "mais crescidos", mas logo vem o Pai e nos faz andar exclusivamente em Seu evangelho, sem qualquer suporte infantil. Isso dói? Sim, dói. Todavia, quando nos encontramos exclusivamente Nele podemos ir a lugares e a distâncias nunca imaginados. Quanto maior a maturidade maior a liberdade, e a maturidade está no ser e no depender do Senhor, única e completamente.

É aqui, somente Nele, que Ele se torna tudo o que temos, tudo o que precisamos, tudo o que nos satisfaz, tudo o que tememos, tudo o que louvamos - sim, Ele mesmo, Aquele que passamos a querer e a amar integralmente! E então os Seus mandamentos não nos são pesados...

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Dt. 6.5)

Ah! Que Ele tire as nossas rodinhas para que O temamos e O louvemos inteiramente!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fé X Probabilidades


Sempre haverá na vida a probabilidade de algumas coisas – ou, considerando de um ângulo mais pessimista – de todas as coisas falirem, falharem e desmoronarem, trágica e sofrivelmente. A consciência de que Deus nunca nos abandona não extingue probabilidades de que coisas temidas nos aconteçam.

Contudo, neste final de inverno, a fé vem aquentar a alma, segredando ao coração que o medo não tem razão de permanecer, nem espaço para progredir na vida dos que são amados pelo Pai Todo-Poderoso. Ela nos cochicha que Ele estará lá, erguendo o sol e dissipando as névoas. Estará cuidando infalivelmente dos que Lhe pertencem, revelando uma fidelidade e uma sensibilidade que minha lógica, minha esperança, minha calculadora e minhas limitações jamais serão capazes de explicar. Estará lá, chamando à existência coisas que não existem, e produzindo e abrindo, com a chave de Seu dedo, portas que me fariam sorrir se hoje as imaginasse. Ele estará lá e, aonde quer que sejamos levados, acreditamos que isso será Ele nos levando para junto de Si!
Até a consumação dos séculos e de todas as probabilidades controladas por Ele, Ele mesmo estará conosco, Ele terá ido sempre adiante preparar tudo, para que em nós se cumpra Sua perfeita vontade.
Assim, toda probabilidade de infortúnio perde o seu veneno quando combatida com a verdade e a realidade – não a probabilidade – de que Ele estará lá, passo a passo, caminhando entre nós, dia após dia e para sempre!

Portanto, peregrino, não espere Dele uma fé mapeada, calculada, explicada e com garantias, pois a fé não é o fundamento das coisas que você já recebeu, tampouco é a prova das coisas que seus olhos já enxergam com detalhes. Fé é fé, sabedoria divina que algumas vezes, para nossa surpresa, chega até mesmo a ter lógica.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Ritmo da Cidade


O ritmo da cidade
É marcado pela sola dos sapatos
De seus donos e ouvintes
Que salpicam casas, calçadas,
Becos, ruas e pontes
Antes de se irem para sempre…

O ritmo da cidade pode ser
Vivo e imprevisível como uma fumaça
Ou mecânico e cruel como os
Fantasmas de carne e sem rosto
Que se escondem atrás
De seus escudos de aço e vidro

Mas o ritmo da cidade
Não pode ser aquilo
Que preenche o vazio dos olhos
Daquele que por suas ruas
Deambula tentando esquecer
A falta de ritmo e vida
Que existe no silêncio
Triste e perturbador de seu coração

Pois a solução dos maiores enigmas
Não está nas informações de uma esquina
Nem menos no som monocromático
Das agulhas que marcam o compasso
Desta noturna rotina diária

A solução não está na cidade
Por mais antiga que esta seja
Ou por mais inteligente que pareça
Porque a verdadeira energia da vida
Está à espera de ser desvendada, reunida,
Montada e posta em movimento
Na musical oficina da alma

Sim, Ele nos projetou assim
O mesmo que nos quer
Alfabetizar na leitura da esperança
Ou simplesmente nos tomar pela mão
E nos ensinar uma alegre forma de dançar
Sobre a pista da dor…

E uma vez embalados ao ritmo da graça
Lucidamente sermos felizes!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Glória maior que o Tempo (Jo.11)


Esperar pode ser uma bênção ou um pesadelo. Pode ser uma oportunidade para descansar ou um meio de se ganhar uma lesão, se descansamos do jeito errado. Pode ser o palco de toda a minha limitação e impotência, ou de Deus demonstrar fidelidade.

Todavia, temo que o Mestre se demore em vir ao meu socorro, e que neste intermeio todos os meus "Lázaros" faleçam. É muita a frustração que sofremos decorrente de promessas divinas que interpretamos e encaixotamos em nossos próprios modos, tempos e mundos. Por isso conhecemos a desesperança, a mágoa descabida e o antigo senso de auto-piedade, que parece ser tão profundo - sendo tão artificial!

Ele, porém, não é escravo de meu relógio, nem servo de meus calendários. Ama-me tanto que está decidido a mostrar-me Sua glória, e por esta causa meu relógio e calendários registram Seu "atraso". Logo meus sonhos perecem, e com eles a esperança do milagre que imaginei. Onde está o Mestre? Não aparece para o enterro, embora o que foi sepultado lhe seja reconhecidamente conhecido.

Em Seu perfeito tempo, Ele surge e ali podemos vê-lo a chorar, não por remorso ou limitação, mas principalmente por ver o nosso abundante lamento proveniente da falta de fé. "Eu Sou a ressurreição e a vida", Ele revela; "Sim, Senhor, mas o morto cheira mal!", queixo-me eu. E mesmo indignadamente submisso, movo a pedra. Ele, com Sua grande voz, chama para fora o que morrera, clamando para que volte aos Seus braços o que sempre amou - não só meus sonhos, mas toda a nossa familia, há vários dias sem a vida.

E só então percebo que não preciso de explicações, pois sou incapaz de lidar com elas e indigno de recebê-las. No fundo (da cova) e ao longo do Caminho, o que preciso mesmo é de Sua companhia, é ter Seus braços em torno de meus ombros machucados pelos fardos desproporcionais e desnecessários que tenho carregado. O que careço é que o Caminho caminhe comigo, para que assim, durante a subida deste íngreme Calvário, eu já não reclame do pouco que deu-me a levar, mas agradeça o muito que já levou por me amar...

Ah, meu Senhor! Em Ti está minha delícia! E se caí enfermo e fui enterrado, é a Tua voz que hoje ouço, é para o Teu seio que hoje corro, é em Teus braços que hoje me lanço! Em ninguém mais sou assim sincero, amado e aquietado de satisfação - somente em Ti, Ressurreição do que me faliu, e Vida para o que em mim Te é amigo!

E quanto mais por Ti espero, mais glória me revelas... pois assim como a cruz é maior que o tempo, assim a glória supera a espera - eternamente, como eterno é o fruto da cruz!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Laço Quebrado (o voo mais livre)


O laço Tu quebraste
E as asas atrofiadas
Voltei a bater
Faço o que mandaste
E às casas encarceradas
Não vou me ater

E voltando a voar
Sei que para o ar nasci
Não para o chão
E no vazio a escoar
Voo porque amo a Ti...

Meu céu é Tua mão!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sem Fé é Impossível Viver ou Morrer


Cremos em Deus, e não parece haver dúvidas de que Nele podemos confiar. Porém, quando momentos de luta chegam, a questão é se confio Nele mesmo em meio à neblina. No fundo, a neblina da aflição nos presenteia nitidez para vermos que Cristianismo não tem a ver com o quanto sabemos, mas com o quanto estamos perseverando naquilo que Ele nos ensinou e prometeu.

Ontem fui a um compromisso. Para sair de casa, entrei em um elevador confiando que seus cabos não arrebentariam. Em seguida usei o carro, acreditando que nenhum mecanismo, barra, peça ou pastilha falharia, o que me poria em risco de vida. No caminho, cruzei três pontes cujas fundações estão no lodo, crente que engenheiros que não conheço fizeram cálculos adequados para que sustentem toneladas. Depois passei no mercado por acreditar que seus produtos possuem os dados prometidos na embalagem, e que em nenhum deles há adulteração, ainda que eu não conheça as pessoas por trás das marcas. Para pagar utilizei o cartão, pela fé de que meu banco é leal comigo, embora eu não tenha intimidade com ninguém que trabalhe lá. No fim da noite, quando voltei à casa, tive simplesmente fé de que o telhado não cairia sobre mim, e dormi tranquilo, crendo que mesmo que haja possibilidades reais, nenhum avião ou meteoro me atingiria dormindo...

Uau! Como vivo perigosamente! É impressionante conseguir dormir depois de tudo!

Em Atos 12.6-9 há uma situação que me surpreende, e não deveria. Pedro, o mais nervoso e agitado dos discípulos de Jesus, está na prisão na véspera de ser executado. Está acorrentado dentro da cela a dois soldados, duplamente algemado em um presídio cercado de sentinelas. A segurança é máxima, Pedro vai morrer e sabe disso - mas em sua última noite, ele está... dormindo!

De repente, surge um anjo do Senhor. Mas Pedro continua a dormir. A luz angelical explode no lugar com todo o fulgor. Mas Pedro nem desafina o ronco. Está tão maravilhosamente sonolento horas antes de ser decapitado que o anjo, talvez surpreso, toca em sua costela e diz: "Levante-se depressa"! Mesmo depois de liberto, na rua, o homem custa a distinguir se o que está acontecendo é real ou visão...

E era Pedro, o agoniado, na véspera de sua morte.

Assim como eu, Pedro confiava e por isso dormia. Só que ele confiava em Deus em qualquer momento ou circunstância, e essa certeza sacudiu e despertou sua fé; e então a sua alma pôde repousar, mesmo com a espada tão próxima de sua carne. Em outras palavras, se Pedro confiava em Deus para morrer, posso confiar Nele para viver!

Se confio em mecânicos, objetos, notícias, engenheiros, produtos e instituições que mal conheço, seria injusto e pecaminoso demais de minha parte agir ou viver como se Deus fosse um grande bandido - reconhecidamente temido, porém pouco confiável.

Amigos peregrinos! Que Ele nos ache descansando na fé que nos deu, e que assim sejamos mais e mais livres!